Com concessão já autorizada, Hidrovia da Lagoa Mirim pode ser a primeira pedagiada do País

Trecho, que integra o projeto da Hidrovia Brasil-Uruguai, pode sair do papel em 2022

Por Fernanda Crancio

Concessão da ligação foi autorizada pelo governo em 22 de novembro
Se tudo der certo, a Lagoa Mirim, que conecta o Sul do Estado com o nordeste do Uruguai, abrigará a primeira hidrovia pedagiada do Brasil, ligando as duas fronteiras. O modal hidroviário binacional da Hidrovia Lagoa Mirim- Canal São Gonçalo, projeto de décadas, está em fase avançada de estudo e teve sua concessão autorizada pelo governo federal no dia 22 de novembro, via decreto, dentro do Programa Nacional de Desestatização.
Agora, é aguardada para o primeiro bimestre do ano que vem a conclusão da análise técnica e ambiental que apontará o melhor tipo de concessão, o volume de carga a ser permitido, entre outros pontos fundamentais - como construção de terminais, sinalização, melhorias e interconexão com outros modais - para o lançamento do edital da obra, previsto ainda para o primeiro semestre de 2022, e indicação das tarifas a serem cobradas das embarcações.
O trecho compreende o Canal do Sangradouro, em Pelotas, até o canal de acesso ao Porto de Santa Vitória do Palmar (ver mapa).
Para a largada do projeto será iniciada a obra de dragagem da área, seguida da implantação da hidrovia em si, sua sinalização e organização do processo de manutenção. Os estudos de viabilidade e implantação estão a cargo da DTA Engenharia Portuária e Ambiental, também
A obra, que envolve a dragagem e sinalização do Canal de São Gonçalo e da Hidrovia da Lagoa Mirim, no trecho entre o Canal do Sangradouro (Extremo Norte) até o Canal de Acesso ao Porto de Santa Vitória do Palmar (Extremo Sul), tem merecido atenção especial do governo uruguaio, que sonha em ver a obra deslanchar o quanto antes, beneficiando diretamente as cidades de Trinta y treis, Cerro Largo e Rocha, localizadas no Nordeste do país. Nos últimos anos, adequações na área de infraestrutura para permitir o avanço da parceria binacional foram feitas do lado uruguaio, faltando agora o andamento do lado brasileiro.
A dragagem é o ponto de partida do projeto e objeto do leilão previsto para o ano que vem, voltado à concessão e manutenção da hidrovia, que permitirá ampliar a exportação fluvial de cargas. O carregamento se dará no Porto de Rio Grande, que deverá, segundo o presidente da DTA Engenharia, aumentar entre 20 e 25% sua capacidade de volume de carga.

Exploração do modal hidroviário trará avanços comerciais e redução de custos logísticos

Na primeira quinzena de novembro, comitiva liderada pelo vice-ministro de Transportes e Obras Públicas do Uruguai, Juan Jose Olaizola, e pelo presidente da Administração Nacional de Portos, Juan Curbelo,
No dia 8 de dezembro, data em que os dois países comemoram os 60 anos da assinatura da ata de autorização da navegação da Lagoa Mirim, um evento na Ufrgs, proposto pelo governo uruguaio, debaterá o relançamento do projeto e sua importância para o desenvolvimento Brasil-Uruguai.

Lagoa Mirim

  • A A Bacia Hidrográfica Lagoa Mirim é compartilhada entre o Brasil e o Uruguai, e forma o segundo maior lago da América do Sul (3.750 ). Localizada sobre a planície costeira, possui uma largura média de 20 quilômeros, e 3.750 quilômetros quadrados de área superfície (2.750 em território brasileiro e 1.000 em território uruguaio).
  • O lago e os complexos de áreas úmidas que o contornam estabelecem uma das principais bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul, compreendendo uma grande diversidade de flora e fauna.
  • Trata-se de uma importante bacia transfronteiriça onde prevalece o regime de águas compartilhadas, delimitando a fronteira desse espaço geográfico binacional.
  • Apesar de não ter saída direta para o mar, seu acesso pode ser feito através do Canal do São Gonçalo, atingindo a Lagoa dos Patos e o Porto de Rio Grande e criando, assim, uma nova rota de exportação para a produção do norte do Uruguai, que fica mais distante do porto de Montevidéu.
  • O alcance da Hidrovia abrange, do lado brasileiro, a Lagoa Mirim e seus afluentes, especialmente o Rio Jaguarão; o Canal de São Gonçalo e seus afluentes; os canais de acesso hidroviário ao Porto de Rio Grande; a lagoa dos Patos e seus afluentes; o Rio Guaíva e seus afluentes, especialmente os rios Taquari, Jacuí, dos Sinos, Gravataí e Caí. Do lado uruguaio, a Lagoa Mirim e seus afluentes, em especial os rios Jaguarão, Cebollatí e Tacuarí.
    Integração binacional.
  • O Acordo de Transporte Fluvial entre o Brasil e Uruguai foi assinado em 2010 e promulgado em outubro de 2015, permitindo o transporte de cargas de ambos os países.

  • Fontes: Agência de Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim (ALM) e Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq)