Fiergs defende redução da tarifa de gás natural

Entidade sugere corte de taxas aplicadas pela Sulgás no Estado

Por Jefferson Klein

Reajuste da Sulgás está sendo analisado pela Agergs
Considerado um diferencial competitivo, o fornecimento de gás natural é um ponto estratégico para as empresas que utilizam esse insumo. Dentro dessa lógica, as três federações das indústrias da região Sul do País (Fiergs, Fiesc e Fiep) contrataram os serviços de assessoria jurídico-regulatória do escritório BPGA - Barbosa, Pontes e Gaertner Advogados para levantar propostas de qualificação do mercado desse combustível. No panorama do Rio Grande do Sul, uma das sugestões é a diminuição das taxas aplicadas pela Sulgás (a estatal gaúcha responsável pela distribuição do gás natural) e a consequente redução da tarifa.
O coordenador do Grupo Temático de Energia e Telecomunicações da Fiergs, Edilson Deitos, ressalta que o objetivo é buscar uma fórmula que traga competitividade para o setor industrial e viabilize o mercado do gás natural. Ele enfatiza que há custos que são demasiados e que acabam sendo repassados à tarifa dos consumidores finais. O dirigente cita, por exemplo, que a taxa de remuneração do capital estabelecida pela Sulgás é de 20% ao ano. Deitos sustenta que deveria ser adotado como parâmetro o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC - Weighted Average Cost of Capital), uma taxa de remuneração dos ativos já em operação, que acompanha o cenário de mercado de momento e que não é tão elevada. "No caso atual é o contrário, a Sulgás vai investindo e vai colocando 20% sobre o valor aportado mesmo que a obra não esteja concluída", argumenta.
A mudança do sistema, segundo o integrante da Fiergs, estipularia uma meta de eficiência para a distribuidora completar empreendimentos, como uma nova rede ou um gasoduto. "Talvez os 20% na época de uma hiperinflação fossem justificados, mas não podemos hoje, com a Selic a 2%, falarmos nesse patamar", frisa. Outra crítica é que a estatal possui uma taxa de remuneração dos serviços também estabelecida em 20% ao ano, que para Fiergs deveria ser extinta.
O advogado e sócio do BPGA - Barbosa, Pontes e Gaertner Advogados, Frederico da Silveira Barbosa, argumenta que esse fator incentiva a empresa a desembolsar mais. "Pois, tem uma cláusula no contrato que diz que tudo que a Sulgás gastar vai ser reembolsado e acrescido 20%", salienta. Ele frisa que essa questão abrange qualquer despesa operacional da companhia.
Apesar de considerar uma distorção, o sócio do BPGA - Barbosa, Pontes e Gaertner Advogados comenta que outras distribuidoras brasileiras possuem contratos semelhantes ao da estatal gaúcha, mas ele sustenta que esses modelos precisam ser modificados. Especificamente quanto à Sulgás, Barbosa acrescenta que também não há penalidades previstas para a concessionária caso não cumpra metas de prazo ou eficiência.

Mudanças teriam que ocorrer antes de privatização

De acordo com levantamento feito pela Comerc Gás com dados de janeiro, a Sulgás tem uma tarifa industrial de gás natural de R$ 2,30 o metro cúbico. Em um ranking de 19 distribuidoras do País, a partir dos valores mais baixos para os mais altos, o preço coloca a empresa gaúcha na 9ª posição, empatada com a Naturgy CEG RIO. Em nota, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) comenta que "reconhece a importância das propostas elaboradas pela Fiergs sob o ponto de vista jurídico-regulatório e reforça que, desde o início desta gestão, o governo do Estado vem intensificando as negociações para ampliar o mercado do gás".
Ainda segundo o documento, "com maior oferta, se amplia a competitividade, o que poderá resultar em melhores condições em termos de disponibilidade e custo a todos os usuários. Uma das ações já em andamento é o avanço no projeto de privatização da Sulgás.
A secretaria ainda destaca que os processos de revisão tarifária e a composição da tarifa do gás observam cronogramas ordinários e metodologias previstas no contrato de concessão. O realinhamento de tarifa da Sulgás realizado em janeiro de 2021 refletiu unicamente o repasse do aumento do custo do gás e da desvalorização do real observada em 2020, sendo que a última alteração nas tarifas havia sido praticada em outubro de 2019.