Sem fluxo de clientes, caem as vendas no Mercado Público de Porto Alegre

Muitos dos tradicionais frequentadores do centro comercial são funcionários públicos que estão em home office

Por João Pedro Rodrigues

Atuais compradores não permanecem muito tempo no local
É o caso de César Fagundes Medeiros, frequentador assíduo do restaurante. Com a reabertura do Mercado Público, ele se faz presente constantemente no restaurante, considerado a sua segunda casa no Centro de Porto Alegre depois do seu trabalho. Medeiros, porém, não deixa de perceber a visível diminuição no movimento do local - onde ele lembra de, tempos atrás, ter que ficar esperando na fila para entrar. Atualmente, ele é um dos fiéis consumidores que vão ao local para almoçar ou tomar uma cerveja.

Para não perder consumidores, repasse de custos é feito de forma criteriosa

Junto à redução do movimento verificada durante a pandemia, o aumento dos custos das mercadorias aparece como outro empecilho na vida dos gestores dos estabelecimentos do Mercado Público, que precisaram encontrar maneiras de administrar a situação. No Restaurante Gambrinus, por exemplo, foi preciso reduzir o número de opções no cardápio para diminuir o serviço da cozinha e a quantidade de produtos adquiridos. 
O proprietário João Alberto Cruz de Melo conta que foi necessário, ainda, negociar com fornecedores um aumento no prazo de pagamento das mercadorias adquiridas. "Tem toda uma estratégia logística e administrativa para que se mantenha o preço. Isto é muito difícil de repassar, porque, se já tem pouco cliente, aumentar o preço complica", lamenta.
Na Casa de Carnes Santo Ângelo, o movimento hoje corresponde a 65% do que era antes da crise do coronavírus - e as despesas também subiram. Com o aumento no preço da arroba do boi verificado nos últimos meses, o açougue repassou um aumento médio de 6% na carne ao consumidor.
Pedro Albeche, um dos colaboradores da Casa de Carnes, conta que, em alguns cortes, foi preciso manter os valores para garantir a competitividade. Em outros, no entanto, essa saída não foi possível. "Nós não conseguimos manter. Temos que repassar isso ao consumidor, senão teríamos que demitir mais algum funcionário, e não podemos perder a qualidade. Se eu errar com algum cliente, ele nunca mais vai retornar ao meu balcão", afirma. Durante o período da pandemia, alguns colaboradores tiveram de ser dispensados, sendo necessário contratar freelancers.
O repasse de custos ao consumidor é feito de forma criteriosa entre os cortes. Segundo Albeche, os valores giram em torno de R$ 0,50 e R$ 0,20 por kg que, dependendo do volume adquirido, tem maior representatividade no valor final para o cliente.
Consumidor da Casa de Carnes Santo Antônio, Valdemir Diaz diz que a oscilação do preço não afetou as suas compras. "Para mim, continua o mesmo preço. Até deu uma oscilada no valor das carnes, mas tudo oscilou. Nada grande demais. Não fez muita diferença".
Na Banca 40 e no Café do Mercado, a situação não foi diferente. Gabriela Giurno, do Café, conta que, durante a pandemia, tudo ficou mais caro, ainda mais que a cafeteria trabalha com produtos importados, o que acaba pesando mais no orçamento do estabelecimento. Diante disso, a gerente explica que está sendo feito o possível para segurar os preços. Inclusive, alguns deles até baixaram na tentativa de segurar os clientes.
Bonnel Júnior, da Banca 40, diz que os custos não estão sendo repassados aos consumidores. Em consonância com outros comerciantes, ele acredita que um aumento nos preços levaria à perda de consumidores em um momento em que eles já são poucos. "Não adianta aumentarmos tudo e ficarmos esperando que o cliente venha à loja. Vamos continuar com o mesmo valor e esperar que ele volte, que as pessoas saiam para a rua de novo", completa.