Mercado para carnes no Oriente Médio tem desafios e oportunidades

Embarques do Estado crescem para países árabes no trimestre; Rio Grande do Sul tem cinco novas plantas habilitadas a exportar ao Egito

Por Thiago Copetti

Pouca oferta de grãos para ração no mercado e a elevação dos preços determinam medida dos produtores
A recente abertura do Egito a 42 novos frigoríficos brasileiros chamou a atenção para ao menos dois fatos relacionado às relações comercias e do agronegócio brasileiro com o Oriente Médio. O primeiro, é sobre a desaceleração das exportações brasileiras para a região. O segundo é que o Rio Grande do Sul, no entanto, ganhou espaço.
Nacionalmente, os embarques brasileiros para o Oriente Médio tiveram queda em itens como aves congeladas não cortadas em pedaços, de R$ 296,1 milhões no primeiro trimestre de 2019, para US$ 286,67 em igual período deste ano, recuo de 3%); e de US$ 258,1 milhões em pedaços e miudezas no início do ano passado para US$ 210,25 neste ano (-18%). No caso das carnes bovinas, congeladas, o baque foi ainda maior: de US$ 210,83 milhões exportados entre janeiro e março de 2019 o valor caiu para R$ 137,4 milhões em 2020 (retração de 34%).
No Rio Grande do Sul, a realidade é inversa até o momento. Levantamento feito pela área de comércio Exterior da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) a partir de dados do Ministério da Economia mostra que a avicultura gaúcha até ganhou mercado neste mesmo período. De acordo com o analista de relações internacionais da entidade, Renan dos Santos, o Estado comercializou o equivalente a R$ 125,5 milhões em carnes de ave e miúdos congelados neste ano ante para a região, ante US$ 94,3 milhões no ano passado (alta de 33%).
As novas habilitações, porém, não são garantia de ampliação de mercado, avalia o presidente da Farsul, Gedeão Pereira. O fato de o Egito, por exemplo, aumentar o número de frigoríficos habilitados por aqui não significa necessariamente que irá comprar mais, alerta o pecuarista. Como o setor frigorífico trabalha em muitas áreas com baixas temperaturas, poderia haver desfalques extras de operário com gripe em meio a pandemia. São trabalhadores que deixariam de comparecer às linhas de produção, em volume significativo por temores com a Covid-19, afetando a produção.
"O setor é altamente demandante de mão de obra. No momento, novas habilitações são muito mais uma garantia para eles de que terão fornecedores em caso de um ou outro ter problemas, e por isso querem ter alternativas", avalia Gedeão.
Diretor executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos defende que a manutenção e ampliação dos negócios do setor com o Oriente Médio é ainda mais necessário no momento atual. Isso porque em caso de restrições de vendas para a Europa, especialmente para países mais afetados pela pandemia, como Itália e Espanha, será necessário redirecionar a produção para outras regiões.
"Das habilitações feitas pelo Egito ainda não temos informações se há para o Estado, mas a Arábia Saudita habilitou nova planta no Rio Grande do Sul, o Frigorífico Nova Araçá, por exemplo. Das 460 mil toneladas embarcada para a Arábia Saudita, cerca de 35 % saíram do Rio Grande do Sul. No primeiro trimestre foram 112 mil toneladas, e o Rio Grande do Sul responde por 43 mil toneladas", detalha Santos. e acordo com o chefe do 10º Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sipoa/Dipoa), João Francisco Bisol, as novas habilitações do Egito no Estado são para cinco frigoríficos de aves, além de 10 renovações, entre unidades de aves e bovinos localizadas no Rio Grande do Sul.
Novidades no horizonte
  • O Egito habilitou 42 novos estabelecimentos brasileiros para fornecimento de carnes, sendo 27 de frango e 15, de bovina, além da renovação da habilitação de 95 empresas, (82 de carne bovina e 13 de carne de frango). O governo egípcio também autorizou o início da importação de miúdos bovinos.
  • O Kuwait abriu seu mercado para a carne bovina brasileira.
  • O Brasil também passará a exportar material genético de aves (como ovos férteis) para o Marrocos e os Emirados Árabes Unidos.
Fonte: Ministério da Agricultura

Queda nos números são sinal de alerta, diz CNA

Para Lígia Dutra, superintendente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a retração nacional dos embarques neste ano impõe um alerta sobre a perda de espaço do agronegócio brasileiro em um mercado importante.
Ligia avalia que, apesar de que novas habilitações não se tornem necessariamente em mais compras, isso tende a ocorrer. Mas destaca que para isso o Brasil também deve olhar com atenção para a região e identificar, logo, a razão de os embarques terem sido reduzidos.
"Se não estamos vendendo para eles, precisamos entender a razão. Algo está saindo errado. É uma região que demanda muito alimento. Um dos problemas é a logística. Importamos pouco de lá, então os navios voltam vazios, com custo maior. Mas é apenas um dos fatores", analisa Lígia.
Para o Egito, diz a representante da CNA, no entanto, a venda de frango já teve incremento considerável, de mais de 70%, mas o contrário do que ocorre para a Arábia Saudita, que está investindo para ampliar sua produção local, com queda de 12%.

Câmara Árabe-Brasileira destaca importância da produção gaúcha

Tamer Mansour, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), estima que os embarques brasileiros para o Oriente Médio devem aumentar nos próximos meses. Parte da queda no primeiro trimestre, avalia Mansour, se deve ao direcionamento maior de produção brasileira para a China, em 2019.
Mansour pondera que houve um aumento das importações de grãos, no período, para a região, o que demonstra esse foco saudita em ter criações próprias de animais, por exemplo. Mas, com a pandemia, a visão teria muda um pouco, não tanto por produzir mais localmente, mas de comprar fora.
"Temos muitos pedidos de informações de dos países árabes querendo importar mais. E o Rio Grande do é importantíssimo nisto", pondera Mansour.