São José dos Ausentes busca mais turistas

O clima frio e a geografia peculiar fizeram a fama do local, que já tem pousadas e vinícolas para os visitantes

Por Jefferson Klein

Região conta com oito cânions que encantam pela beleza
Mesmo tendo sido cenário de diversas produções televisivas, São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra, ainda é desconhecida de muitos gaúchos e turistas. Com oito cânions, o lugar encanta por suas belezas naturais. Apostando nesse potencial, empreendedores e o poder público local estão convictos de que o município ficará cada vez mais conhecido, atraindo um maior número de visitantes e espalhando o turismo para a região como um todo.
A perspectiva está fundamentada, por ironia, justamente em fatores que deram nome à cidade: o clima frio e a geografia peculiar. Essas condições faziam com que, no passado, as pessoas deixassem o lugar estando "ausentes" do município que tem São José como padroeiro. Agora, esse clima gelado e as formações geológicas únicas são ideais para atrair pessoas que querem descansar ou fazer alguma atividade de aventura, como trekking ou ralis, longe dos grandes centros urbanos.
"Para nós, não é o fim do mundo, é o começo do mundo", brinca a proprietária da Pousada Fazenda Potreirinhos, Nilda Nakes, que trabalha recebendo pessoas há 24 anos. Ela destaca que quem se hospeda no lugar busca conhecer a cultura das pessoas que vivem na região. "É uma família recebendo outra família." A casa, que foi adaptada para ser uma pousada, já é centenária. Nilda recorda que o seu bisavô, de origem alemã e geólogo, veio para o Estado em 1889.
Algo que fica próximo da pousada e atrai diversos turistas é o chamado Desnível dos Rios (o Silveira e o Divisa), uma falha geológica, única nas Américas, onde dois rios quase se unem, fluindo lado a lado em um trecho, e depois se afastam, sendo que um está mais acima do que o outro. Outra atração ali na redondeza é o Cachoeirão dos Rodrigues, que impressiona pelo volume de água. O proprietário da Pousada Fazenda Cachoeirão dos Rodrigues, Tonico Rodrigues, abriu o estabelecimento para receber turistas em 2005, mas destaca que, já no tempo do pai dele, o lugar era um ponto de visitação.
Antes de ingressar no segmento de turismo, Rodrigues trabalhava com agricultura, pecuária e fabricação de queijo, atividades que ainda mantém. Ele confirma a perspectiva de que mais visitantes venham para a região e acrescenta que filmagens como as das novelas O profeta e Além do tempo, feitas no município, contribuíram e contribuirão para esse crescimento gradativo. Outra prova do potencial turístico é o surgimento de novos empreendedores, que revitalizam o turismo local.
O sócio e administrador da Pousada Estância das Flores, Paulo Flores, está operando desde julho de 2018 com esse espaço, localizado no município de Bom Jesus, vizinho a São José dos Ausentes, e já planeja um próximo negócio. A propriedade da Estância das Flores, que tem cerca de 200 hectares, é avaliada em R$ 8 milhões, e o investimento na reforma da pousada foi entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. A estrutura é composta por 10 suítes, todas equipadas com calefação, banheira de hidromassagem, Wi-Fi e sacada com vista para as paisagens do terreno. Há, ainda, salas de cinema e de jogos, dois restaurantes, piscina, lago para pesca e atividades recreativas como cavalgadas, piqueniques, trilhas e uso de caiaque. "Tentamos proporcionar o máximo de experiências possíveis aos hóspedes", enfatiza Flores, que antes atuava no campo de TI e cujos avós são oriundos da região.
Não muito longe da pousada, é possível conferir um corredor de pedras que tem cerca de 200 anos (uma das hipóteses é que tenha sido construído por escravos). A estrutura possui cerca de 2 quilômetros de extensão, somente formada por pedras encaixadas, e servia para a passagem de boiadas que iam, principalmente, para Sorocaba, em São Paulo. A região, em geral, é recheada com obras semelhantes, feitas também de pedra, chamadas de mangueirões.
 

Projeto prevê construção de vilas temáticas

Além da administração da Pousada Estância das Flores, Paulo Flores adquiriu uma área de 70 hectares perto do cânion Encerra (também chamado de Amola Faca) para erguer o Parador das Flores, um complexo que segue o mesmo conceito do primeiro empreendimento, mas que ficará a 450 metros da borda do cânion e contará com vilas temáticas. A ideia é adotar desde a culinária até o padrão de construção específicos.
A expectativa é que o espaço, que abrangerá de 24 a 30 cabanas, divididas entre cinco a seis vilas, já esteja operando em cerca de dois anos. O investimento na aquisição do terreno foi na ordem de R$ 1,5 milhão, e a estimativa é aportar mais R$ 2,5 milhões para erguer as construções. Em um dia limpo, Flores diz que é possível a partir do cânion enxergar a faixa branca da areia à beira-mar.
Ele reforça que, somando as duas regiões, de São José dos Ausentes e Bom Jesus, existem 127 quedas d'água mapeadas, sendo que, em um raio de 10 quilômetros, encontram-se a sexta, a oitava e a 16ª maiores cachoeiras do País. A maior delas é a Boa Vista, com 276 metros de altura. Flores recorda também que o cânion Monte Negro possui o pico de mesmo nome, sendo o ponto mais alto do Estado, com 1.403 metros. Além do Monte Negro e do Encerra/Amola Faca, São José dos Ausentes conta com os cânions Boa Vista, Realengo, Tabuleiro, Rocinha, Cruzinha e das Tigras.
O empresário lembra que, comercialmente, sempre foi explorado o conceito da serra gaúcha em locais como Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Gramado e Canela. "A gente se tornou os Campos de Cima da Serra e teria que se formar um ambiente em que todas essas cidades ao redor sejam abrangidas, criando roteiros turísticos", defende Flores. Ele enfatiza que a região de São José dos Ausentes tem vocação para o turismo de natureza e contemplação.

Vinícola Campestre fomenta o enoturismo em Vacaria

Quando o tema é vinho, a Vinícola Campestre pretende demonstrar que não é somente o Vale dos Vinhedos, na Serra, que pode ser referência nesse quesito. A empresa iniciou, no final de janeiro, a atividade de enoturismo em sua unidade em Vacaria.
Entre as atrações estão a loja com os produtos da vinícola; a visitação ao vinhedo, às caves, aos museus do vinho e do antigo frigorífico Friva que operava na área; e o detalhamento do processo de vinificação. O espaço possui também um salão para cerca de 450 pessoas e uma de degustações. O diretor-presidente da vinícola Campestre, João Carlos Zanotto, informa que foram investidos R$ 30 milhões no complexo, sem contar a compra do terreno.
Mais adiante, diz o empresário, serão implementados um restaurante e um hotel com águas termais, provavelmente de três andares, com 120 quartos, o que deve se tornar uma realidade dentro de três a quatro anos.
A vinícola Campestre iniciou suas operações em 1968, na cidade de Campestre da Serra, e, em 2015, começou o seu projeto em Vacaria. O empresário ressalta que a meta é demonstrar que a região dos Campos de Cima da Serra pode ser uma nova opção turística, além do Vale dos Vinhedos e da região das Hortênsias. Atualmente, a vinícola comercializa 27,5 milhões de litros ao ano entre vinhos de mesa, finos, espumantes e sucos.