Inflação oficial do País fecha 2019 em 4,31%, acima do teto da meta

Influenciado pela alta no preço da carne, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro foi de 1,15%, o maior resultado para o mês desde 2002

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Açougues com promoção na venda de carnes no Mercado Público de Porto Alegre (Centro Histórico).
Influenciado pela alta no preço da carne, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro foi de 1,15%, o maior resultado para o mês desde 2002, segundo dados do IBGE. Assim, a inflação fechou o ano de 2019 em 4,31%, acima dos 4,25% fixados como meta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas dentro do limite de variação de 1,5 ponto percentual. Foi a primeira vez, desde 2016, que a inflação superou o centro da meta perseguida pelo Banco Central. Até outubro, porém, a inflação em 12 meses estava abaixo do piso da meta.
O resultado de dezembro ficou acima do valor registrado em novembro. Esse foi o maior resultado para o último mês do ano em 17 anos, quando o IPCA marcou 2,10%, em 2002. O preço da carne no Brasil, com alta de 18,06%, contribuiu para esse registro e puxou a marca de 3,38% no grupo de alimentação e bebidas, com maior variação mensal para o setor desde dezembro de 2002. As carnes variaram 32,40%, sendo que 27,61% foram no último bimestre.
Outros gêneros alimentícios também tiveram aumento, como frango (5,08%), pescados (2,37%), feijão-carioca (23,35%) e tomate (21,69%). Por outro lado, a cebola teve queda de 8,76%, assim como o pão francês, com 0,68%. O analista Luca Klein, da 4E Consultoria, a dinâmica de alta nos preços das proteínas deve perder a intensidade. "Trata-se de um choque temporário cuja trajetória deve se corrigir no médio prazo à medida que as condições entre oferta e demanda se equilibrem", apontou o analista. A alimentação fora de domicílio foi impactada em 1,04%, com altas em refeição, de 1,31%, e lanche, de 0,94%.
Outras altas foram observadas no mês, como combustíveis (3,57%) e passagens áreas, que subiram para 15,62%. O reajuste nos preços das apostas, em novembro, fez os jogos de azar também impactarem a inflação de dezembro (12,88%). No ano, o grupo alimentação e bebidas aumentou 6,37%.
"Pesou também a alta nos planos de saúde (8,24%), por conta do reajuste autorizado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). A alimentação fora do domicílio também influenciou o índice, em função do aumento das carnes", disse o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov.
Dos nove grupos pesquisados pelo IBGE em 2019, somente artigos de residência tiveram deflação, de 0,36%. Habitação registrou alta de 3,9%, vestuário subiu 0,74%, transportes marcaram 3,57%, saúde e cuidados pessoais cresceram 5,41%, assim como despesas pessoais, com 4,67%; educação, com 4,75%; e comunicação, com 1,07%.
Na análise geográfica, a maior inflação do Brasil em 2019 foi em Belém, com variação de 5,51% influenciada pelo preço da carne. Fortaleza vem logo em seguida, com 5,01%, enquanto Campo Grande teve 4,65%, São Paulo cresceu 4,60% e Goiânia, 4,37%.
A queda na energia elétrica fez Vitória ter a menor taxa de inflação, com 3,29%. Recife, com 3,71%, e Brasília, com 3,76%, foram os demais locais com os menores registros de IPCA do ano passado.
 

Alta da carne não vai impedir Banco Central de fazer novo corte de juros, diz consultoria

A alta da carne, que pressionou a inflação em 2019, não vai impedir o Banco Central (BC) de fazer novo corte de juros, avalia a consultoria inglesa Oxford Economics. A previsão da casa é que ocorra nova redução da taxa básica na reunião de fevereiro do Comitê de Política Monetária (Copom), de 0,25 ponto percentual. A Oxford vê espaço ainda para cortes adicionais pela frente, mas acredita que esta deve ser a última redução, com a Selic ficando em 4,25%.
A Oxford destaca que o IPCA de 2019, que subiu 4,31%, acabou ficando acima da meta de inflação do BC, de 4,25%. Mas a culpa foi quase que totalmente da carne, em meio à maior demanda da China por conta da febre suína. Apenas em dois meses, a carne subiu 28% no Brasil, observa a consultoria em relatório. "Nossas estimativas sugerem que esse choque adicionou 0,7 ponto percentual ao IPCA", ressalta o economista da Oxford para a América Latina, Marcos Casarin. "Com a provável reversão deste choque nos próximos dois meses, esperamos que a inflação caia de volta para um nível abaixo da meta em 2020", completa.
A consultoria observa que o núcleo do IPCA (excluindo os preços mais voláteis), que ficou em 2,8% em 2019, permanece abaixo do centro da meta do BC. O relatório destaca, ainda, que a alta do dólar e o aumento da tensão no Oriente Médio nos últimos meses de 2019 também pesaram na inflação.