Últimas compras antes do Natal animam lojas

Debandada para fora da Capital permitiu tranquilidade para consumidores compararem preços antes de gastar

Por Adriana Lampert

No Shopping Praia de Belas, vendas cresceram 25% no fim de semana
As vendas do último fim de semana do Natal superaram as expectativas de muitos lojistas de shopping, que aproveitaram uma maior tranquilidade nos empreendimentos (devido à debandada de pessoas para o Litoral) para atender melhor os consumidores. Em algumas redes, as estimativas de alta no faturamento com a comercialização de presentes estão se confirmando.
"Entre sábado (21) e domingo (22) ocorreu um aumento de 25% nas vendas frente aos outros finais de semana", calcula o gerente da filial do Magazine Luiza no Praia de Belas Shopping, Cristiano Bittencourdt. "Ainda esperemos vender mais até terça-feira (24)", emenda, afirmando que, na comparação com dezembro de 2018, os negócios realizados no decorrer do mês devem alcançar crescimento de 10%. Segundo ele, os presentes mais vendidos foram celulares (smartphones, sendo que boa parte de iPhones), seguidos por bicicletas infantis.
"Esta foi a semana decisiva, somente no sábado nossa unidade vendeu R$ 180 mil, sendo que a meta era chegar a R$ 100 mil", comemora o gerente do Magazine Luiza. Para domingo, ele estimava superar em R$ 20 mil a meta de vendas fixada em R$ 80 mil. Com o shopping funcionando mais cedo neste domingo (desde às 10h), muitos casais, famílias e grupos de adolescentes passaram pelo Praia de Belas. Mas nem todos foram às compras. Em um cenário de pouca correria, consumidores de última hora se misturavam a quem foi ao empreendimento para passear, tomar um café, ou mesmo levar as crianças para interagir com o cenário natalino montado próximo à praça de alimentação principal.
Durante todo o mês de dezembro, o comércio ampliou os horários de funcionamento, com shoppings abrindo as portas mais cedo e fechando mais tarde. "Neste mês, trabalhamos de segunda a segunda, das 10h às 23h), comenta a vendedora da loja Amo Bijuterias, Letícia Brum Fernandes. "O movimento foi muito bom, e estamos superando a meta de dobrar as vendas em relação ao ano passado, apesar de que ainda poderia ser melhor." A vendedora destaca que a loja oferta produtos (colares, brincos, bolsas e saídas de praia) mais em conta (em torno de R$ 13,00), garantindo bons desempenhos. "Quase 100% das compras feitas aqui foram para presentear alguém, muita gente levando presentes mesmo", comenta Letícia.
Lojas com produtos mais baratos ou de departamentos foram as mais visitadas neste domingo. Na contramão, alguns negócios menores ou de segmentos menos concorridos para as compras de Natal ficaram mais à deriva em meio à circulação considerável de pessoas que passavam em frente, pelos corredores. Dentre o público que circulou no Praia de Belas Shopping durante a tarde, a maioria das pessoas que carregava sacolas tinha feito alguma compra em grandes varejistas como Renner, C&A, Lojas Americanas e Hering. As lojas de brinquedos também foram bastante disputadas por famílias com crianças, nem que fosse ao menos para uma pesquisa.
"Os preços estão muito altos", lamenta a professora de ensino fundamental da rede Estadual, Jaqueline Mello. Ela saiu de Gravataí para ir em busca de presentes para os filhos de 10 e três anos. "A prioridade é levar os jogos de montar no estilo Lego para eles, porque pelos preços não vai dar para comprar presente para a família toda", comenta a servidora pública, lembrando que este ano está sofrendo mais no bolso, em vista do parcelamento do salário. "Fui em duas lojas, mas o jeito vai ser continuar pesquisando."

Comércio estima resultados iguais a antes da recessão

As vendas de Natal, data que movimenta cerca de 20% do comércio em dezembro, podem bater os patamares do período pré-recessão, mostram as projeções de varejistas e institutos de pesquisa.
O cenário de retomada econômica, com aumento nos índices de confiança, preços bons dos produtos mais escolhidos com presentes, juro baixo, liberação do FGTS e crescimento por crédito, elevou muito a expectativa do setor.
A CNC (Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo) estima que as vendas subam 5,2% e movimentem R$ 36,5 bilhões na data. A última vez que o comércio cresceu a uma taxa próxima a 5% foi em 2013, antes da crise econômica.
No Natal passado, os resultados frustraram o varejo, que havia inflado seu otimismo. Algumas estimativas apontavam para recorde de vendas para a década, mas a alta foi de 1,7%, inferior aos 3,9% registrados em 2017. No auge da crise, em 2015 e 2016, o comércio natalino caiu 5%.
Neste ano, analistas dizem que há menos chance de surpresa negativa. Fabio Bentes, economista da CNC, afirma que mesmo o câmbio desfavorável (dólar cotado R$ 4,09) não deve atrapalhar o desempenho varejista do fim do ano.
"A formação dos preços do Natal acontece de julho a setembro e, durante esse período, o dólar estava numa média de R$ 3,97. Em 2018, fomos impactados por uma alta forte no período pré-eleitoral", afirma. "Não houve uma surpresa negativa a ponto de afugentar o consumidor neste ano."
Mesmo com o resultado prévio da inflação atingindo o maior nível desde junho de 2018, com alta de 1,05% puxada pelo preço da carne, itens chamados de presenteáveis estão abaixo da inflação em 12 meses, de 3,91%. Entram nessa divisão produtos como brinquedos, roupas e calçados.
As atuais condições de crédito, que permitem ampliação de prazos para pagamentos e, portanto, parcelas mais baratas, também ajudam a aquecer a expectativa das vendas. O consumidor brasileiro costuma tomar decisão pelo peso mensal da prestação.
O crédito pode beneficiar a compra de itens mais caros, como móveis e eletrônicos. Já o FGTS deve estimular a compra produtos mais baratos, como de supermercado. Segundo economistas, a união desses dois fatores impulsionará o comércio de modo geral.
Foi a mudança do calendário do FGTS, entretanto, que concentrou todos os saques até dezembro, considerada a maior responsável por colocar os números para cima.
"A capilaridade do FGTS é maior que a de 2017, quando só quem tinha conta inativa sacava. O tíquete médio era mais alto, então muitos pouparam. Dessa vez, todos com conta ativa e inativa podem sacar. A propensão ao consumo é maior", afirma Vitor Vidal Velho, da LCA Consultores.
A Black Friday abocanhou parte dos presentes de Natal, mas não deve ser entrave ao crescimento das vendas. Pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que a antecipação das compras neste ano foi de 18,2%. Em 2017, outro ano bom para a data, o indicador chegou a 33%. Com a Black Friday, algumas análises das vendas de Natal passaram a considerar o bimestre.
O indicador da FGV que mede o ímpeto de compra avançou a 65,5 pontos, superior ao de 2018 (61,1). É o melhor nível desde 2014, quando o país entrou em recessão.