Projeto favorece compra de terras por estrangeiros

CMPC teria mais facilidade para expandir sua base florestal do Estado

Por Jefferson Klein

Proposta torna questão mais ponderada, afirma Mauricio Harger
Parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), que limita a aquisição de terras brasileiras por empreendedores estrangeiros, é atualmente um obstáculo que muitas empresas enfrentam para investir no País. Essa questão também afeta uma possível expansão da chilena CMPC no Rio Grande do Sul, que produz celulose a partir da sua unidade em Guaíba, alimentada por uma ampla base florestal espalhada por vários municípios gaúchos. No entanto, o diretor-geral da empresa, Mauricio Harger, destaca que está tramitando no Congresso um projeto do senador Irajá Abreu (PSD-TO) que pode ajudar na aceleração de investimentos, em especial de grupos com origem fora do Brasil.
Nesta quarta-feira (11), as comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado aprovaram em sessão conjunta o projeto de lei Terra para Mais Empregos Mais Alimentos (PL 2.963/2019). O texto autoriza, com algumas restrições, a compra e o arrendamento de propriedades rurais brasileiras por empresas nacionais com capital estrangeiro. "Temos a expectativa de que a aprovação do projeto possa atrair R$ 50 bilhões por ano em novos investimentos em toda cadeia produtiva do agronegócio brasileiro", ressalta o senador. O texto segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O diretor-geral da CMPC recorda que o parecer da AGU tem cerca de 10 anos e foi feito em um momento que se especulava que chineses estavam para comprar reservas minerais e naturais do Brasil. "Foi de um extremo ao outro, podia tudo e, agora, não pode nada", frisa Harger. Segundo o dirigente, a proposta do senador Irajá torna a questão mais ponderada.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas atualmente, o diretor da CPMC diz que é possível ampliar a produção de eucaliptos no Estado aproveitando parcerias com donos de terras ou através de um fundo florestal (em que a companhia se torna sócia da propriedade da terra, mas não como controladora). No Rio Grande do Sul, a empresa possui 324 mil hectares, sendo cerca de 180 mil hectares voltados para o plantio de árvores para a produção de celulose e o restante destinados à área de preservação. A maior parte desses terrenos é pertencente à própria CMPC, que os adquiriu antes do parecer da AGU.
Apesar das opções das parcerias e do fundo florestal, Harger argumenta que são mecanismos mais caros e que diminuem a atratividade de um possível novo plano de expansão no Estado. O executivo comenta que o grupo não trabalha com uma data específica para empreendimentos de aumento de capacidade, mas a meta é crescer globalmente, e o Brasil é uma nação que tem condições de atrair investimentos. Um projeto de expansão da capacidade de celulose levaria, no mínimo, um prazo de sete anos para ser desenvolvido, pois é o tempo para formar os bosques de eucaliptos. No País, o dirigente adianta que o setor de papéis e celulose, como um todo, deve aportar em torno de R$ 30 bilhões nos próximos cinco anos.

Empresa investe R$ 12 bilhões em 10 anos no Brasil

A CMPC iniciou suas operações no Brasil em 2009, com a aquisição da planta de celulose de Guaíba, da Fibria. Desde aquele momento, foram investidos aproximadamente R$ 12 bilhões (aquisição de fábrica, expansão da unidade, formação de base florestal etc.), faturados cerca de
R$ 17 bilhões e gerada uma arrecadação de impostos na ordem de R$ 1,64 bilhão. Hoje, as atividades da CMPC no Estado (plantio, produção de celulose, entre outras) abrange 62 municípios, gerando 6,6 mil empregos diretos.

Em 2018, foi alcançado o recorde de produção de celulose no complexo gaúcho, com 1,87 milhão de toneladas. Neste ano, o diretor-geral da CMPC, Mauricio Harger, não adianta números, entretanto comenta que o resultado será menor, até por conta de paradas técnicas. Sobre as vantagens competitivas do Rio Grande do Sul, o executivo destaca que para empresas exportadoras (como é o caso da unidade de Guaíba, que destina cerca de 90% da sua produção para o mercado externo) um desses diferenciais é a disponibilidade da hidrovia.
Nessa área, a companhia fará uma dragagem de manutenção no Guaíba para melhorar a condição do canal de acesso ao seu terminal portuário. Com a obra, que custará em torno de R$ 40 milhões, o calado passará de 3,5 metros para 5,5 metros. Assim, serão superadas algumas restrições impostas pela Marinha quanto à navegação noturna de barcaças. A dragagem deverá começar em março e levará 18 meses para ser concluída.