Mesmo em estágio inicial, 5G empolga o mercado

Empresas aguardam leilão para definir como será a implementação

Por Patricia Knebel

Futurecom 2019 foi aberta oficialmente na noite de segunda-feira
No mundo da tecnologia e dos negócios, só se fala no 5G. Embora ainda falte uma longa caminhada para que essa tecnologia se torne efetiva no Brasil, o início da oferta comercial por operadoras nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, sem falar nos testes e projetos-piloto que já estão sendo feitos no Brasil, empolga. A proximidade do leilão de espectro para a tecnologia de quinta geração, previsto para 2020 pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), é um elemento a mais nesse cenário de otimismo.
"Desde a evolução do modelo analógico para o digital na telefonia celular não víamos uma expectativa tão grande de disrupção como a que o 5G poderá trazer", aponta o diretor-executivo da Accenture, Paulo Tavares.
O 5G é a grande estrela do Futurecom 2019, maior feira de tecnologia da América Latina, que teve sua abertura oficial na noite de segunda-feira e acontece até esta quinta-feira, em São Paulo. Entre os presentes na cerimônia, o governador de São Paulo, João Dória; o secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Julio Semeghini; o vice-presidente da Anatel, Emmanoel Campelo, entre outros.
Dos painéis, demonstrações em estandes e rodinhas de executivos, a grande discussão é o impacto que essa tecnologia poderá ter no mercado. A previsão é de que haja um crescimento superior a 120% de investimentos em redes de 5G nos próximos cinco anos. "Estimamos uma injeção de US$ 12,3 trilhões na economia global nos próximos anos em função do 5G", projeta Tavares.
Mas o que faz o 5G ser tão aguardado? Certamente, não é apenas o aumento de capacidade de tráfego em relação ao 4G - que é estimado em 20 vezes maior que a tecnologia atual. Outra atratividade é a baixa latência, que é o tempo entre enviar um pacote de dados e receber a resposta. A latência, hoje, do 4G é de 100 a 150 milissegundos, e, com 5G, a meta é chegar a menos de um milissegundo.
Isso deve garantir a viabilidade de novas aplicações, como telemedicina, realidade virtual em jogos e carros autônomos. São exemplos de negócios em que nada pode falhar. A simples instabilidade na rede de telefonia ou demora no envio de uma resposta pode significar um acidente ou morte de uma pessoa na mesa de cirurgia.
Tavares comenta que o 5G também vai possibilitar a capacidade de hiperconectividade. Serão centenas de dispositivos conectados em indústrias, agronegócios e outros segmentos. Apenas 10% dos dispositivos conectados no 5G serão de smartphones, o restante será tudo Internet das Coisas, comenta o executivo da Accenture.
"A principal diferença é a capacidade de atender às demandas do setor produtivo, impulsionando a Indústria 4.0 e resolvendo entraves que atrasam a economia digital no País. Os consumidores finais serão beneficiados, mas o impacto mais significativo será sentido pelas empresas, em sua maior capacidade de inovar", analisa Tavares.
Cerca de 20 operadoras já lançaram comercialmente seus serviços de 5G no mundo. Embora os Estados Unidos não sejam os pioneiros, é lá que as implementações estão mais avançadas. Empresas já oferecem pacote de quinta geração, ainda em uma fase inicial, não com todos os benefícios, mas com grandes avanços em relação ao que temos hoje com o 4G.
No Brasil, as empresas ainda dependem do leilão do espectro para definir como será a sua estratégia, já que cada uma das faixas favorece algum tipo de aplicação e indica o caminho a seguir, como Internet das Coisas, aplicações de telemedicina, transmissão de vídeos, entre outros. "O 5G vai ser viável na medida em que os cases que estão sendo prometidos façam sentido para as operadoras e todo o ecossistema. É uma promessa que é quase realidade lá fora", diz o executivo da Accenture.
O diretor de Gerenciamento de Produtos da Qualcomm, Hélio Oyama, também destaca o potencial do 5G. "Assim como aconteceu com o 4G, estamos no primeiro ano de lançamento em termos de versão, e a tecnologia vai continuar evoluindo em ganhos expressivos de velocidade e redução de latência", relata.
A empresa tem investido em P&D em tecnologias de conectividade e tem fornecido equipamentos de testes para os primeiros testes de conformidade com esse padrão. "O nosso objetivo é ajudar as operadoras a otimizar as redes. Fomos a primeira empresa a lançar soluções de processadores baseados em 5G e acreditamos que essa tecnologia vai trazer novas oportunidades de aplicações que o 4G não oferecia", analisa.

IEEE destaca desafio de ampliar acesso da rede a todos os usuários

O 5G promete um mundo novo de possibilidades de aplicações, mas não dá para esquecer que o Brasil ainda é um país com muitas dificuldades do ponto de vista de infraestrutura. O alerta é do professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e especialista do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), Paulo Miyagi.
"É um desafio de todos, já que menos de 20% dos países está 100% conectado. O mundo é mais parecido com o Brasil, com grandes centros bem equipados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, e o restante com dificuldade de conectividade", aponta.
Para Miyagi, o desafio é ampliar o acesso e os benefícios a todos. "Temos que saber como usar essas novas tecnologias para melhorar o acesso de todos a coisas básicas, como educação, saúde e mobilidade. O custo será menor se todos participarem."
O vice-presidente de marketing para redes móveis da Nokia, Sandro Tavares, diz que o 5G trará um grande impacto para o País. O ano de 2019 está sendo o das primeiras implantações comerciais no mundo, e 2020 deverá marcar a consolidação das redes, para que, em 2021, a tecnologia esteja madura.
No Brasil, se o leilão ocorrer no primeiro trimestre de 2020, a meta é termos as redes comerciais iniciais nas maiores cidades ainda em 2020. "A nossa expectativa é que, o quanto antes as frequências forem alocadas, e considerando que isso seja feiro corretamente, o 5G impactará não apenas as indústrias, como a competitividade do País", projeta.

Repórter do Jornal do Comércio lança livro na Futurecom 2019

O Futurecom, maior evento de tecnologia da América Latina, foi palco do lançamento do livro Mundo Conectado: como a Internet das Coisas está revolucionando os negócios, as cidades e a vida das pessoas, de autoria da jornalista especializada em tecnologia do Jornal do Comércio, Patricia Knebel.
Um coquetel realizado na noite de abertura do encontro marcou o lançamento. "Essa é uma obra de consulta para o setor de tecnologia e que apresenta diversas possibilidades de negócios que podem ser desenvolvidos a partir da Internet das Coisas", destacou o diretor da Informa Markets e da Futurecom, Hermano do Amaral Pinto Junior.
O gerente de Telecom, TI e Economia Criativa do BNDES, Carlos Azen, elogiou o projeto. "Fico muito feliz em apoiar essa iniciativa do livro, que é mais uma semente plantada no País para a Internet das Coisas ser, de fato, uma realidade para o desenvolvimento do Brasil", apontou Azen, que é o autor do prefácio de Mundo Conectado.
Foram mais de 50 entrevistas realizadas ao longo de 12 meses. O livro destaca 10 cases de empresas que estão apostando na Internet das Coisas para transformar os seus negócios: Embraer, Natura, Grow, Bayer, John Deere, Mercedes-Benz, Salvus, Microsoft, Micro-bit e a cidade de Campinas.