Sojas orgânica e convencional são alternativas de mercado

Sojicultores buscam resolver o dilema de como reduzir o uso de defensivos nas lavouras sem perder produtividade

Por Thiago Copetti

Nos planos de Vian está ampliar plantio convencional para 400 hectares
A aplicação incorreta de químicos em lavouras gaúchas, especialmente no ciclo 2018/2019, deixou um prejuízo de R$ 100 milhões apenas na cultura da uva, segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). No entanto, as perdas devem ser maiores, uma vez que outros segmentos, como fruticultura e olivicultura, também foram afetados.
Além dos danos, a deriva de produtos à base de 2,4-D, principalmente, também levantou uma questão até então pouco debatida no Estado: como reduzir o uso de químicos em lavouras de soja. Apenas nesses primeiros dias de preparação e plantio de soja no Rio Grande do Sul, já foram feitas ao menos 12 denúncias à Secretaria de Agricultura sobre aplicações incorretas de produtos químicos na preparação do solo para semeadura.
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Dilema comercial e risco de contaminação

Parte dos produtores não consegue mais sair do sistema de produção transgênica no qual estão inseridos. Com grandes indústrias orbitando seus negócios em torno de uma produção baseada em químicos, a oferta de crédito para compra de defensivo, de sementes e até da compra posterior da produção ajuda a manter o modelo.
"É um sistema comercial que está por cima disso tudo também. Mais de 80% dos produtores vivem dentro desta lógica: não têm crédito, se endividam e se comprometem com essas empresas a manter a produção neste ciclo", critica Rogério Vian. De origem Suíça, com base no Paraná, a Gebana é referência em compras de soja orgânica no Brasil. Gerente de produção agrícola da empresa, Marcio Challiol explica que o foco é estimular a produção na agricultura familiar e, para isso, além da compra garantida, dá assistência técnica, transportes e faz industrialização de farelo e lecitina. Hoje, a Gebana compra a produção de 120 propriedades.

Com custos em alta, reduzir químicos ganha novo apelo

Um dos coordenadores do Grupo de Agricultura Sustentável (GAS) no Rio Grande do Sul, o produtor e engenheiro-agrônomo Ênio Bassani Filho vai fazer sua estreia com a soja convencional neste ano. Pretende destinar 10% dos 60 hectares nos quais semeará soja para sementes não transgênicas. Bassani acredita que cultivar soja convencional, especialmente pelos custos de produção em alta, além de mais sustentável, pode ser economicamente mais rentável.
Ir até a lavoura, olhar o sistema como um todo e pensar na solução do solo até a planta, como deve fazer o produtor, defende Bassani, foi trocado pela simples aplicação direta e constante de químicos, com os custos que isso implica. "Somos produtores e queremos lucro, mas acredito que há opção além dos transgênicos, que pode até ser mais barata, sem perder produtividade. É possível trabalhar com fungos, bactérias, reprodução de alternativas biológicas na fazenda e até mesmo com liberação de determinados insetos para combate de pragas", garante Bassani.
O produtor diz que a metodologia que aplicará nos 60 hectares cultivados com soja convencional exige mais trabalho direto no campo para entender o ambiente como um todo. Estar na lavoura, analisar os dados, observar e diagnosticar o problema - a solução ideal para cada caso - traz retorno, diz Bassani.
"Um ambiente equilibrado exige organização maior do produtor. É claro que é mais fácil fazer a agricultura de pacote, vendida pronta por grandes indústrias, mas, se é possível fazer de forma mais sustentável, e economicamente viável, por que não fazer?", questiona o agrônomo. Sobre os riscos, um dos grandes entraves é a contaminação, na venda ou no transporte, da soja convencional pela transgênica, avalia Bassani. Com isso, o esforço do produtor se perde, já que a produção acaba sendo comercializada sem o bônus pago pelo grão diferenciado. "Mas a soja é apenas um dos elementos dentro da agricultura biológica", ressalta Bassani, que também cultiva feijão e milho, entre outras atividades.