Quase 60% da malha rodoviária gaúcha apresenta problemas

Pesquisa da CNT aponta piora na qualidade das estradas brasileiras neste ano

Por Jefferson Klein

VIAGEM AO LITORAL SUL. NA FOTO: TRECHO DA RODOVIA - ESTRADA RST-101 (ANTIGA ESTRADA DO INFERNO), APRESENTA ALGUNS BURACOS E ESTA COM DIVERSOS PONTOS COM DEMARCAÇÕES PARA RECEBER RECAPEAMENTO NO VIA.
A qualidade das rodovias brasileiras caiu neste ano, conforme indica a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada nessa terça-feira pela Confederação Nacional do Transporte e pelo Sest Senat. O estado geral das estradas pavimentadas apresenta problemas em 59% da extensão dos trechos avaliados, contra um percentual de 57% em 2018. Já a malha rodoviária do Rio Grande do Sul verifica dificuldades similares à do País. Do total analisado, 59,4% registrou algum tipo de contrariedade quanto ao seu estado em geral, sendo considerado trecho regular, ruim ou péssimo, e 40,6% foi julgado como ótimo ou bom.
O levantamento avalia toda a malha federal pavimentada e os principais trechos estaduais, também pavimentados. Em 2019, foram analisados 8.874 quilômetros no Rio Grande do Sul e 108.863 quilômetros no Brasil. Foram constatados problemas quanto ao pavimento, à sinalização, à geometria das vias, entre outros. O estudo identificou, ainda, 78 pontos críticos no Rio Grande do Sul, sendo sete erosões na pista, duas quedas de barreira e 69 trechos com buracos grandes. Esse resultado representa 9,8% do total do País, deixando o Estado em terceiro nesse ranking negativo, superado apenas por Maranhão, com 213 pontos críticos, e Ceará, com 106.
De acordo com a CNT, para recuperar as rodovias no Rio Grande do Sul, com ações emergenciais, de manutenção e de reconstrução, seriam necessários R$ 4,89 bilhões. Do total de recursos autorizados pelo governo federal para infraestrutura rodoviária, especificamente no Estado, em 2019 (R$ 685,35 milhões), foram investidos R$ 573,09 milhões até setembro (83,6%). O prejuízo gerado pelos acidentes no Rio Grande do Sul foi de
R$ 581,83 milhões no ano passado - o cálculo considera os danos com veículos, cargas e despesas médico-hospitalares. Também considera a perda de produção das pessoas que morrem nas rodovias, parte delas ainda muito jovem.
Ainda em 2018, o governo federal gastou R$ 755,31 milhões com obras de infraestrutura rodoviária de transporte no Rio Grande do Sul. Quanto ao meio ambiente, o trabalho da Confederação Nacional do Transporte estima que, em 2019, haverá um consumo desnecessário de 71,1 milhões de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento. Esse desperdício custará R$ 251,94 milhões aos transportadores.
No cenário nacional, a pesquisa mostra que estão piores as situações do pavimento (52,4% com problema), da sinalização (48,1%) e da geometria da via (76,3%) em 2019. No ano passado, a avaliação foi 50,9%, 44,7% e 75,7% com dificuldades, respectivamente. A análise estima a necessidade de R$ 38,6 bilhões para reconstrução e restauração das rodovias brasileiras. Em 2018, foram registrados, nas rodovias federais brasileiras, 69.206 acidentes. O prejuízo gerado é da ordem de R$ 9,73 bilhões para o País, com a perda de 5.269 vidas e, ainda, com 76.525 pessoas feridas.
O professor de Transportes da Escola de Engenharia da Ufrgs Luiz Afonso Senna diz que os resultados da pesquisa não surpreendem. "Quando não se tem investimento, vai caindo a qualidade", alerta. O especialista salienta que os governos estaduais e federal não possuem recursos para pagar as folhas de funcionários, quanto mais para fazer aportes em infraestrutura. Entre as ferramentas para amenizar a situação, conforme Senna, estão as concessões e as parcerias público-privadas (PPPs). O professor da Ufrgs adverte que, se não for melhorada a logística nacional, o custo País aumentará.

Condições ruins refletem em custos logísticos

Segundo a Pesquisa CNT de Rodovias, as condições insuficientes das estradas impactam diretamente nos custos do transporte. Neste ano, estima-se que, na média nacional, as inadequações do pavimento resultaram em uma elevação do custo operacional do transporte em torno de 28,5%, sendo que o maior índice foi registrado na região Norte (de 38,5%). No Rio Grande do Sul, esse percentual foi de 29%.
O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Vander Costa, destaca a importância do investimento para que seja possível manter e expandir a malha rodoviária brasileira, garantindo a qualidade do tráfego de veículos. "É urgente a necessidade de ampliar os recursos para as rodovias e melhorar a aplicação do orçamento disponível", afirma.
Segundo Costa, a priorização do setor nas políticas públicas e a maior eficiência na gestão são imprescindíveis para reduzir os problemas nas estradas e aumentar a segurança no transporte.
O número de pontos críticos identificados pelo levantamento da CNT ao longo dos 108.863 quilômetros pesquisados na malha nacional aumentou 75,6%. Passou de 454, em 2018, para 797 em 2019. Nesta edição do estudo, foram percorridas todas as cinco regiões do Brasil, durante 30 dias (de 20 de maio a 18 de junho), por 24 equipes de pesquisadores. No ranking das melhores ligações rodoviárias, a primeira classificada foi a entre Campinas e Jacareí, em São Paulo, através das estradas SP-065 e SP-340.
A pior colocada, na 109ª posição, é entre Natividade (TO) e Barreiras (BA) envolvendo as rodovias BA-460, BA-460/BR-242, TO-040 e TO-280. Na Região Sul, o destaque, na 23ª posição, fica entre Porto Alegre e Curitiba, abrangendo as BRs 376, 290, 280 e 101.
Além de abordar a situação das rodovias sob gestão pública e sob gestão concedida, o estudo também realiza o levantamento das infraestruturas de apoio, como trechos com postos de abastecimento, borracharias, concessionárias e oficinas mecânicas, restaurantes e lanchonetes disponíveis ao longo das rodovias.