País abandona horário de verão depois de 34 anos

Associação de Bares e Restaurantes teme queda no movimento do setor

Por Jefferson Klein

Avaliações de impacto nos ciclos anteriores a 2019 superestimaram a redução de demanda no período noturno
Desde 1985, um hábito era frequente entre muitos brasileiros quando as estações mais quentes do ano chegavam: o adiantamento dos relógios em uma hora. Porém, esse ritual não irá se repetir neste ano. Em abril, o presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto que revogou o horário de verão. Entre as justificativas para isso estava a escassa economia de energia que a medida gerava. Se não fosse abolido, o horário de verão, neste ano, começaria à zero hora do dia 3 de novembro e se estenderia até 16 de fevereiro.
Tradicionalmente, a mudança no horário ocorria no terceiro domingo de outubro e terminava no terceiro domingo de fevereiro (por isso, nesse último fim de semana, houve vários relógios fazendo a troca automaticamente). Mas decreto do ex-presidente Michel Temer alterou a incidência para o primeiro domingo do mês de novembro de cada ano, até a zero hora do terceiro domingo de fevereiro para não atrapalhar as eleições de 2018. O horário de verão era praticado no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, em Minas Gerais, em Goiás, no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal.
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Distribuidoras não fazem projeções sobre consequências da medida

Procurada pela reportagem do Jornal do Comércio, a assessoria de imprensa da RGE comentou que, em função de este ser o primeiro ano, desde 1985, em que não haverá horário de verão, a distribuidora vai aguardar até o final da estação para avaliar sobre possíveis impactos quanto à redução ou ao aumento de demanda e consumo. Neste momento, não seria possível fazer projeções em relação a esse assunto.
Já o diretor de Geração e de Transmissão do Grupo CEEE, Jorge Jobim, lembra que a motivação inicial do horário diferenciado era aproveitar melhor a luz natural reduzindo o uso de iluminação pública. Segundo ele, cabe à Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ao Operador Nacional do Sistema (ONS) Elétrico e ao Ministério de Minas e Energia analisarem essas mudanças e estipularem as políticas para o setor elétrico brasileiro, que serão cumpridas pelos agentes.
Na área da saúde, a médica do trabalho Clarissa Bassin argumenta que uma hora de diferença não é o suficiente para afetar o relógio biológico das pessoas. Para haver reflexos, Clarissa estima que seriam necessárias de duas a quatro horas. Para ela, o horário de verão significava benefícios psicológicos e sociais para o público que saía do seu trabalho e conseguia aproveitar a luz solar. Já quem reclamava da medida, muitas vezes, tinha dificuldade de alterar sua rotina ou precisava acordar muito cedo.
 

A origem do horário de verão

Não existe um consenso sobre a origem do horário de verão, mas alguns estudos afirmam que a primeira pessoa a propor sua adoção foi Benjamim Franklin, em 1784, nos Estados Unidos, quando percebeu que o sol nascia antes das pessoas se levantarem, durante alguns meses do ano. Ele pensou, então, que, se os relógios fossem adiantados em uma hora, naquele período, poderiam aproveitar melhor a luz do dia, ao entardecer, e economizar velas, já que, naquele tempo, ainda não existia luz elétrica.
No Brasil, a iniciativa foi instituída, pela primeira vez, no verão de 1931/1932, pelo então presidente Getúlio Vargas. Sua versão de estreia durou quase meio ano, vigorando de 3 de outubro de 1931 até 31 de março de 1932. No verão seguinte, foi reeditada a medida com o mesmo tempo de duração. Posteriormente, a adoção da medida foi retomada em períodos não consecutivos, nos anos de 1949 até 1953, de 1963 até 1968, e nos tempos atuais a partir de 1985, até ser revogada, em 2019, pelo presidente Jair Bolsonaro.