Logística hidroviária ainda aguarda mais incentivos

Modal representa apenas 3% da matriz de transportes do Estado

Por Jefferson Klein

Rio Grande do Sul tem 776 quilômetros de trechos navegáveis
Era de se esperar que um estado chamado de Rio Grande do Sul usasse mais de sua malha fluvial para a movimentação de cargas. No entanto, não é isso que se verifica. O Plano Estadual de Logística e Transportes do Rio Grande do Sul (PELT-RS) aponta que, conforme dados de 2017, a hidrovia representa apenas 3% da matriz de transportes do Estado. As rodovias são responsáveis por 88%; as ferrovias, 6%; e as aerovias e dutovias, 3%. Ainda segundo o estudo, a malha hidroviária do Rio Grande do Sul, com operação comercial, é constituída de 776 quilômetros de trechos formados por Lagoa dos Patos; lago Guaíba; rios Jacuí, Taquari, Caí, dos Sinos e Gravataí; e canal São Gonçalo.
O presidente da Hidrovias RS (grupo criado por meio da parceria entre Famurs, Farsul, Fecomércio, Fiergs e empresas que utilizam o modal aquaviário interior), Wilen Manteli, recorda que o Estado tem, aproximadamente, 70 municípios que são banhados por lagos, lagoas ou rios navegáveis. Porém essas áreas, que poderiam ser aproveitadas para a instalação de terminais portuários, estão ociosas. O dirigente comenta que, através das entidades que compõem a Hidrovias RS, as prefeituras dessas cidades estão sendo orientadas a adotar uma política de atração de empreendimentos, sejam eles ligados à logística, à indústria, ao lazer ou ao turismo, para aproveitar os recursos hídricos, como fazem países europeus e os Estados Unidos.
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Se muitas iniciativas acabaram não indo adiante na área do transporte hidroviário, o Contêineres Terminal Santa Clara (Contesc) - localizado em Triunfo, inaugurado em setembro de 2016 e operando integrado ao Tecon Rio Grande - é uma prova que o setor tem potencial. No ano passado, foram 42.987 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) movimentados no Contesc. Em 2019, nos primeiros oito meses, foram contabilizados 29.307 TEUs. O complexo tem operado com cargas como madeira, resinas, borrachas, frango congelado, entre outras.
Atualmente, são duas barcaças (uma da Navegação Aliança e outra da Navegação Guarita) fazendo a ligação entre a Região Metropolitana e a Metade Sul com quatro escalas semanais do Contesc até o Tecon (terminal de contêineres) Rio Grande. Inicialmente, havia a expectativa que, no último trimestre deste ano, fosse acrescentada mais uma embarcação para prestar o serviço, mas, agora, segundo a assessoria de imprensa do Contesc, não se tem mais essa previsão, pelo menos para este ano.

Governo gaúcho planeja PPP para realização de dragagem

Entre as ações que podem incentivar o transporte hidroviário, o superintendente dos portos do Rio Grande do Sul, Fernando Estima, cita a melhoria das condições de infraestrutura com a realização da dragagem de manutenção da hidrovia e a sinalização para a navegação noturna de embarcações de maior porte. Quanto à dragagem, o governo do Estado desenhará com o BNDES a modelagem dessa ação através de uma Parceria Público-Privada (PPP).
O investidor que participar da PPP e fizer a dragagem será remunerado pela tarifa aquaviária, paga por usuários da hidrovia como os portos de Pelotas e da capital gaúcha, assim como por terminais de uso privados, como Petrobras, Braskem, CMPC, entre outros. O trabalho do BNDES consiste em indicar pontos como, por exemplo, qual seria a tarifa adequada. Estima adianta que, provavelmente, como não há muita carga sendo transportada pela via fluvial no momento, o Estado patrocinaria o montante faltante para fechar a equação financeira e remunerar satisfatoriamente o investidor. "O que é muito melhor que pagar sozinho (como ocorre hoje para os cofres públicos)", enfatiza.
Apesar de a hidrovia representar apenas 3% da matriz de transportes gaúcha, para o porto do Rio Grande esse modal é mais importante. Do total de cerca de 42 milhões de toneladas movimentadas anualmente pelo complexo rio-grandino, em torno de 8 milhões dessas toneladas fazem a conexão pelas hidrovias (o restante é por rodovias e ferrovias). Estima admite que esse número poderia ser bem maior.
Outro plano é que a Superintendência dos Portos do Rio Grande do Sul deixe de ser uma autarquia e se torne uma empresa pública, o que dará mais autonomia para a entidade.