Impasse pode atrasar obras na pista do aeroporto Salgado Filho

Retirada e reassentamento de mil famílias da Vila Nazaré devem ocorrer até dezembro

Por Adriana Lampert

Andreea apresentou os estágios dos trabalhos a empresários na Fiergs
Prevista para outubro de 2021, a entrega das obras de ampliação da pista de decolagem do aeroporto Salgado Filho corre o risco de atrasar, caso a retirada e o reassentamento de mais de mil famílias da Vila Nazaré não ocorram até dezembro. O alerta é da diretora-presidente da Fraport Brasil-Porto Alegre, Andreea Pal, que participou, nesta terça-feira (6), de café da manhã com empresários na Fiergs, onde apresentou os planos e o atual estágio dos trabalhos de melhorias. O investimento total do grupo é de R$ 1,9 bilhão.
Criado a partir de uma ação judicial movida pelos Ministérios Públicos (MPs) Federal e Estadual, e as Defensorias Públicas (DPs) Estadual e da União contra a empresa alemã, o impasse gira em torno da interpretação do contrato de concessão do aeroporto, assinado em julho de 2017, que cita que os custos decorrentes de desocupações de moradores para liberar a área em que estão previstas as obras são de responsabilidade da concessionária. A empresa também teria a responsabilidade pelo reassentamento das famílias, algo que caberia ao poder público, segundo entendimento do grupo alemão. "Estamos 100% seguros que não temos essa obrigação", destacou Andreea. "Se tivéssemos entendido que teríamos que realocar essas pessoas, possivelmente não assinaríamos o contrato."
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Os empresários lembraram que, com uma pista capaz de permitir operações de aeronaves de maior porte, com capacidade em torno de 100 toneladas, exportadores não precisarão mais transportar seus produtos até São Paulo para enviá-los ao exterior, o que encarece o frete e provoca perdas de clientes. A empresa está finalizando a ampliação do Terminal 1, com previsão de inauguração em novembro. A companhia aérea Azul será transferida para o novo prédio, e o Terminal 2 terá outro destino, ainda não definido.

Importância das obras é defendida por entidades

Dirigentes de entidades empresariais se manifestaram a favor da concessionária Fraport. "A obra facilita o acesso a negociações com o exterior e beneficia o setor produtivo, e não pode ser interrompida", apontou o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL), Vitor Koch. "Estamos preocupados com o calendário e esperamos que se cumpra a lei e o contrato", concordou o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn.
O presidente da Fiergs, Gilberto Petry, destacou que "as obras de ampliação da pista do Salgado Filho são importantes não somente para o setor industrial, mas para toda a comunidade gaúcha".
Presente no evento na Fiergs, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, pontuou que "independentemente" do contrato com a Fraport, a prefeitura tem trabalhado para o reassentamento das famílias. Ele lembrou que centenas de famílias já estão sendo reacomodadas em espaços "onde terão água encanada, saneamento, drenagem, via pavimentada, calçada e imóvel em endereço fixo".
O cônsul-geral da Alemanha em Porto Alegre, Thomas Schmitt, alerta para a necessidade de acordo urgente. "O que nos preocupa é o problema social, são quase 1,3 mil famílias vivendo com esgoto aberto, em situação intolerável."