Valor do gás de cozinha não deve cair com novas regras

Resolução da ANP possibilita que distribuidoras comercializem gás de cozinha diretamente com consumidor final

Por Jefferson Klein

Botijão de 13kg é vendido no Brasil a um valor médio de R$ 113,48
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aprovou, neste mês, resolução quanto à verticalização do setor de GLP (gás de cozinha), com o objetivo de liberar a comercialização do produto pelo distribuidor diretamente a consumidores finais. Entre as justificativas do órgão regulador para a medida está a simplificação de procedimentos, a diminuição do custo regulatório e a garantia da livre iniciativa dos agentes econômicos. Apesar desses benefícios, revendedores e distribuidores adiantam que a iniciativa não significará queda nos preços para o cliente final.
O presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras, Comercializadoras e Revendedoras de Gases em Geral no Estado do Rio Grande do Sul (Singasul), Ronaldo Tonet, descarta a possibilidade de redução de custos, pois, se a distribuidora assumir a função da revenda, absorverá também os gastos com pessoal, caminhões, equipamentos etc. A cadeia do GLP começa na refinaria, que produz o gás a partir do petróleo, depois o segundo elo é a distribuidora, que industrializa e coloca o produto no botijão, e o terceiro é o revendedor, que trata do varejo e faz o insumo chegar nas residências.
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Distribuidores saem fortalecidos com a decisão

Apesar de as entidades que representam distribuidores e revendedores não verem grandes mudanças na estrutura do mercado com a resolução da ANP quanto à verticalização do segmento, o diretor da consultoria ES-Petro Edson Silva vê certa ameaça para as revendas. "Ainda que a distribuidora não entre no mercado do varejo, seja industrial ou residencial, ela adquiriu uma posição de força em relação à revenda, podendo pressioná-la", argumenta.
Silva acredita que, com a possibilidade das distribuidoras assumirem a venda direta ao consumidor, o preço do gás poderia cair para o cliente final, pois as margens da operação poderiam ser reduzidas. Segundo o consultor, a margem da revenda mais custos corresponde a 24,1% no preço final de um botijão de 13 quilos, enquanto que a margem da distribuidora mais custos é de 20,4%. Silva destaca que, ainda dentro da ideia de maior flexibilização para o mercado de gás de cozinha, a ANP está estudando autorizar o enchimento fracionado de recipientes com GLP. Ele frisa que essa é outra medida que beneficiaria as distribuidoras, pois as revendas não fazem o enchimento. Se a proposta for aprovada, um consumidor pode, por exemplo, colocar R$ 20,00 em gás dentro do seu botijão, sem a necessidade de comprar o volume total do recipiente.
O presidente do Singasul, Ronaldo Tonet, vê essa ideia, sendo materializada, mudando o funcionamento da cadeia. Caminhões-tanque poderão ir até as residências ou estabelecimentos comerciais para fazer o abastecimento, eliminando a necessidade da troca dos botijões ou do processo industrial de envasamento. Tonet diz que existem questões de segurança que precisam ser observadas, mas a prática do fracionamento já é adotada em países como EUA e Austrália.