Bolsonaro quer acelerar modernização do Mercosul

Brasil assumiu presidência pro tempore do grupo por seis meses

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Durante o encontro na Argentina, brasileiro disse que não há espaço para regimes autoritários na região
Ao discursar ontem na sessão plenária da 54ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Santa Fé, na Argentina, o presidente Jair Bolsonaro disse que vai trabalhar para acelerar a modernização do bloco sul-americano. Durante o encontro, o Brasil assumiu a presidência pro tempore (rotativa) do grupo pelos próximos seis meses.
"Quero aproveitar a ocasião para firmar o compromisso do meu governo com a modernização e a abertura do nosso bloco, fazendo dele um instrumento de comércio com o mundo, sem o viés ideológico que tanto critiquei enquanto parlamentar. Vencemos essa barreira, e a conclusão do acordo de livre comércio com a União Europeia é resultado concreto dessa nova orientação", disse.
Após o acordo com a União Europeia, Bolsonaro disse que o bloco planeja concluir as negociações com a Associação Europeia de Livre Comércio e avançar nas conversas com o Canadá, a Singapura e com a Coreia.
O presidente destacou o acordo assinado ontem que elimina a cobrança de roaming internacional de serviços de telecomunicações entre pessoas que residem nos países-membros do bloco. "Temos aí um exemplo da diferença para melhor que o Mercosul pode fazer no cotidiano do cidadão, eliminando dificuldades e burocracias."
Bolsonaro também disse que o Brasil vai continuar o trabalho da presidência pro tempore argentina de revisão da tarifa externa comum (TEC) para a modernização da política comercial do Mercosul e de reforma institucional do bloco com enxugamento do número de órgãos. "Para que sigamos colhendo frutos, precisamos trabalhar por um Mercosul enxuto e dinâmico", defendeu.
O presidente também afirmou que, à frente da presidência rotativa do grupo, vai focar nas negociações externas. "Compartilhamos a visão de que para cumprir seu papel de motor do desenvolvimento o nosso bloco deve se concentrar em três áreas: as negociações externas - aí com grande apoio do meu ministro das Relações Exteriores, no zelo das indicações das embaixadas também sem o viés ideológico do passado. E quem sabe um grande embaixador nos Estados Unidos brevemente. Então, focamos nisso, na nossa tarifa externa comum e em nossa reforma institucional."
No seu discurso, o presidente brasileiro também pediu que a América do Sul eleja representantes comprometidos com "a democracia, liberdade e prosperidade". Bolsonaro disse que não há mais espaço para "regimes autoritários" na região. Neste ano, há eleições presidenciais na Argentina, Uruguai e Bolívia.
"A responsabilidade do voto de cada um de nós para eleger representantes que tenham compromisso com democracia, liberdade e prosperidade (...). Não tem mais espaço para regimes autoritários", disse.
Bolsonaro fez uma referência à expressão "pátria grande", cunhada pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez a fim de simbolizar a integração dos países latino-americanos, para pregar contra a esquerda. Ao mesmo tempo, sinalizou a aproximação com os Estados Unidos de Donald Trump.
"Não queremos o Mercosul uma pátria grande, mas que cada país seja grande. Como vemos o Trump falando que quer a América grande, eu quero o Brasil grande, a Argentina grande, a Bolívia grande também, Uruguai. É a nossa vocação", disse.
No discurso, Bolsonaro celebrou um Mercosul "livre das amarras ideológicas" e citou a proposta do presidente argentino, Mauricio Macri, de uma Declaração sobre o Fortalecimento da Democracia no Mercosul.
"Não há lugar entre nós para regimes autoritários. Não podemos permitir que o que está acontecendo na Venezuela se repita em nenhum país da nossa região", disse.

Ministro argentino defende a criação de moeda única no bloco

O ministro da Economia da Argentina, Nicolás Dujovne, reacendeu as conversas sobre a criação de uma moeda única no Mercosul, a exemplo do que ocorre na Zona do Euro. Dujovne afirmou que o tema foi discutido em reunião com seus pares do Mercosul ontem e que houve avanços. A declaração foi dada menos de 24 horas depois de Paulo Guedes, o ministro brasileiro da Economia, afirmar que essa conversa havia ficado para um horizonte distante.
O ministro argentino disse que os avanços nos debates ocorreram inclusive para a inclusão de Paraguai e Uruguai na moeda única. "Vamos fazer um estudo profundo de que mudanças deveríamos fazer antes para seguir. Esse processo que nos parece muito interessante", disse Dujovne.
O anúncio da possível criação do "peso-real" foi feito no começo de junho, durante uma viagem do presidente Jair Bolsonaro e de sua equipe econômica à Argentina.
Entre os economistas, a ideia foi mal recebida. O motivo seria a necessidade de reformas que antecedessem uma integração monetária, como harmonização de políticas fiscal e cambial entre países. Os vizinhos argentinos passam por uma crise severa, com inflação acima de 40% e com dólar cotado ao redor de 40 pesos.
Indagado sobre as reformas trabalhista e uma nova reforma da previdência na Argentina, Dujovne disse que "não estava na agenda por ora", algo que é considerado necessário por analistas para que o país possa ser competitivo quando o acordo com a União Europeia for implementado.
Além disso, o país está em período pré-eleitoral, o que dificulta o debate de temas sensíveis.