Exterior mantém aversão a risco e Ibovespa cai 0,65%

Cenário externo e disputas no governo fizeram o dólar aumentar

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O Índice Bovespa teve novo pregão de perdas ontem, determinado mais uma vez pela aversão ao risco no mercado internacional. O principal índice de ações brasileiro fechou em queda de 0,65%, aos 94.388 pontos. Os negócios na B3 somaram R$ 17,117 bilhões.
O temor de intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China manteve-se no centro das atenções e justificou as perdas em todos os mercados acionários de relevância no mundo. A queda do Ibovespa foi considerada "positiva" entre operadores, se comparada às perdas superiores a 2% registradas pelas bolsas americanas. Na mínima do dia, o índice chegou aos 92.749 pontos, numa queda de 2,38%.
Alguns profissionais do mercado citaram mal-estar do investidor com os mais recentes ruídos no cenário político brasileiro. Isso porque, na semana em que a reforma da Previdência começa de fato a tramitar na Câmara, integrantes do governo ligados às alas militar e ideológica do governo voltam a trocar farpas publicamente. Com isso, houve críticas ao presidente Jair Bolsonaro, por supostamente desperdiçar tempo com questões menores que a reforma. A percepção não foi unânime.
"Hoje (terça-feira) a queda do Ibovespa esteve muito mais ligada ao exterior do que a fatores internos, até porque já tivemos momentos piores no que diz respeito a ruídos políticos. A sinalização de Donald Trump contra os produtos chineses criou um movimento global, com quedas das commodities e perdas superiores a 2% nas bolsas de Nova Iorque", afirma Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos.
Na análise por ações, um dos principais destaques do dia foi Itaú Unibanco PN. Segunda ação de maior peso na composição do Ibovespa (9,88%), o papel caiu 1,12% e respondeu pelo maior volume de negócios na B3 (R$ 909,9 milhões). Petrobras PN caiu 1,57%, alinhada às perdas dos preços do petróleo no mercado internacional.
A conjugação de ambiente global de aversão ao risco com temores de diluição da reforma da Previdência, na esteira de disputas internas no governo Jair Bolsonaro, fez com que o dólar subisse mais um degrau ontem, emendando o segundo pregão consecutivo de alta. Com valorização de 0,29%, a moeda americana fechou cotada a R$ 3,9694. Na semana, o dólar já sobe 0,77%, o que leva a valorização acumulada em maio a 1,23%.

Migração para o Novo Mercado tem novos procedimentos

A B3 divulgou novo procedimento aplicável à listagem e à migração para o Novo Mercado de companhias que realizarem ofertas de distribuição de ações em patamares inferiores a R$ 500 milhões. Até então, ofertas em valores inferiores a R$ 500 milhões poderiam ser realizadas no referido segmento especial, mas estavam potencialmente sujeitas à verificação por parte da Comissão de Listagem da B3.
"Ouvimos o mercado e entendemos que havia a interpretação de que essa verificação da Comissão funcionava como uma barreira para a realização de ofertas menores no Novo Mercado. Optamos então por esclarecer que o volume da oferta, por si só, não será considerado fator suficiente ao acionamento da Comissão de Listagem, sem prejuízo de toda a análise que já se faz quando uma companhia decide se listar ou migrar para o Novo Mercado. Com esse movimento, sinalizamos que o ingresso no Novo Mercado tem como foco as regras de governança corporativa previstas no respectivo regulamento", afirma Flavia Mouta, diretora de Emissores da B3.
A iniciativa integra os esforços da B3 para tornar o mercado de capitais brasileiro mais competitivo. A B3 adotou a possibilidade de que pedidos de listagem ou de migração sejam apresentados em caráter confidencial, preservando a estratégia das companhias e possibilitando que estas possam aguardar o melhor momento para vir a mercado, sem se expor antecipadamente. A alteração acompanha os procedimentos estabelecidos pela Deliberação CVM 809, de fevereiro.
A deliberação abre a possibilidade de que companhias obtenham registro de suas ofertas de distribuição de ações, junto ao regulador, nos 16 dias que antecedem a divulgação de suas demonstrações financeiras, o que resulta em 64 dias a mais para condução de tais operações ao longo do ano.