Expoagro tem desafio de estimular jovens

Maior feira da agricultura familiar do País reúne atrativos que podem ajudar filhos de produtores a permanecerem no campo

Por Thiago Copetti

Wermuth e Lemos destoam do seu grupo e querem ficar no Interior
Aberta ontem, em Rio Pardo, a Expoagro Afubra tem como foco principal duas gerações. Uma é econômica; a outra, humana. A geração de renda extra ao produtor é um dos objetivos do evento que prioriza estimular a diversificação das atividades rurais além do tabaco, a principal cultura da região. A segunda proposta é a manutenção no campo de uma nova geração de produtores rurais. No evento, que termina nesta quinta-feira, se pode encontrar as duas ações andando juntas.
Realizado durante a tarde de ontem, o encontro de Cooperativas Escolares, promovido pelo Sicredi, mostra que o duplo desafio é possível. O encontro reuniu dezenas de crianças e adolescentes que integram um grupo de 112 cooperativas criadas por estudantes, dentro de escolas, a maior parte delas rurais. A ideia é estimular o associativismo, as ideias de gestão e o empreendedorismo.
Integrantes da Cooperativa Escolar Semeando Sonhos, Francisco Lemos, 15 anos, e Everton Wermuth, 14 anos, destoam da maioria dos 49 integrantes do grupo. Dos alunos que formam a cooperativa, criada dentro da Escola Municipal Maurício Cardoso, no interior de Herveiras, não mais de 20 pretendem seguir no meio rural, diz a presidente da cooperativa, Raiane da Silveira, 15 anos. Ela mesma, conta, pretende estudar Odontologia e morar na cidade. Lemos e Wermuth, não. "O que temos na propriedade é só fumo. Eu quero trabalhar com gado e criação de cavalo. Quero pensar em expansão", diz Lemos.
Na casa de Lemos, os cinco moradores ajudam no plantio e na colheita do tabaco, inclusive ele. Para ampliar a renda da propriedade e diversificar as atividades, o adolescente quer ingressar em uma escola agrícola em 2020 e aprender novas técnicas. Wermuth também pretende seguir quase o mesmo caminho. "Em casa, já temos duas vaquinhas, e quero continuar trabalhando com gado. Talvez junto com outra atividade na cidade, mas quero seguir produzindo alimentos", diz Wermuth.

Henrique aposta na agroindústria familiar como fonte de renda

Expondo no recém-inaugurado Pavilhão da Agricultura Familiar, o jovem Douglas Henrique, 20 anos, também diz que sair do campo não está nos planos. No pavilhão, vendia cucas, bolos e biscoitos feitos na propriedade do sogro, em Candelária. Henrique participa tanto do trabalho na agroindústria familiar - alternativa de renda e valorização da produção agrícola - quanto da lida com gado de leite. A namorada, porém, quer deixar a zona rural e, hoje, estuda Nutrição. "Com o que ela estuda, ajuda na produção da agroindústria. Ela quer ir para a cidade, mas eu vou ficar na zona rural trabalhando com meu sogro", garante o jovem.

Pastre e Letícia buscam conhecimento na área de sementes

Gabriel Pastre, 21 anos, e a namorada, Letícia Scarparo, 20 anos, viajaram cinco horas desde Marau, no Norte do Estado, para visitar a feira em busca de novidades, especialmente na área de sementes e agroquímicos. Pastre também não pensa - e nunca pensou - em deixar o campo. Apesar de ter um acesso que ele diz ser fácil a uma faculdade, garante que não pretende fazer um curso universitário. Ao ser questionado sobre se é um exceção em seu grupo de amigos por querer ficar no campo, responde que sim. Poucos da idade dele ainda estão na lida rural. A maior parte, conta, está na cidade fazendo cursos técnicos ou faculdade. "O difícil é formar um time de futebol para jogar. Tem que andar quilômetros até juntar."

Pronaf poderá ter verba e usos ampliados

Em um palanque sem as celebridades políticas que costumam aparecer na abertura de grandes eventos do agronegócio, como Expodireto e Expointer, o secretário da Agricultura Familiar do Ministério da Agricultura, Fernando Schwanke, se sobressaiu. Ex-prefeito de Rio Pardo, ele estava em casa na abertura da Expoagro Afubra, onde o governador Eduardo Leite foi ausência sentida, mas representada pelo vice-governador, Ranolfo Vieira.
Schwanke afirmou que já negocia, para o próximo Plano Safra, a ampliação de recursos do Pronaf de R$ 30 bilhões para R$ 35 bilhões. Além disso, afirma que tentará expandir possibilidades de uso dos recursos para investimento em habitação rural e aquisição de terras. A decisão, porém, vai além da aprovação dos pedidos no próprio ministério. "Primeiro tratamos desses temas dentro da própria pasta e, em breve, vamos tratar disso também com a Fazenda."

Censo Agropecuário e realidade rural se encontram no parque

Jonathan Leites, 17 anos, e Irajá Vargas, 21 anos, são visitantes frequentes da Expoagro. Moradores de Amaral Ferrador, a dupla mirava, principalmente, tratores. Leites está orçando com a família a compra de um modelo mais moderno. "Temos um só e é aberto. Precisamos de um novo, com cabine, que pretendemos comprar para a próxima safra de soja, com recursos do Mais Alimentos", afirma Leites, que tem apenas o Ensino Fundamental e sem planos de voltar a estudar em breve.
Ele é um raro produtor jovem no Estado, onde, de acordo com dados prévios do novo Censo Agropecuário do IBGE, apenas 1,2% tem menos de 25 anos. Percentual que, mesmo ainda ínfimo, era um pouco maior em 2006: 1,9%. Mas o município onde vive Leites se destaca pelo número de agricultores com menos idade. Amaral Ferrador é um dos 20 municípios com maior presença de jovens agricultores no Rio Grande do Sul, de acordo com os dados do IBGE. O município conta com 8,9% de agricultores com menos de 30 anos. O líder é Ibarama, com 12,7%.
Apesar de ser um alento no quesito idade, Leites também simboliza um indicador menos desejável do campo. Entre os produtores de áreas entre 50 e 100 hectares, como é o caso de Leites, 69% não chegaram ao Ensino Médio. "Talvez um dia volte a estudar, mas prefiro me informar em feiras sobre novidades. Compramos, aqui, uma semente de soja mais resistente à ferrugem, e a safra deste ano teve menos problema com isso", diz o jovem produtor.