Claudio Coutinho é indicado para presidir Banrisul

O economista Claudio Coutinho foi apresentado na manhã desta quinta-feira (14) no Palácio Piratini, em Porto Alegre.

Por Patrícia Comunello

Coutinho (com microfone) foi apresentado pelo governador no Palácio Piratini, em Porto Alegre
Um nome do mercado financeiro privado e que estava há bem pouco tempo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). Este é o perfil do escolhido pelo governador Eduardo Leite (PSDB) para presidir o Banrisul. 
O economista e bacharel em Engenharia Civil Claudio Coutinho, 62 anos, afirmou, na primeira manifestação nesta quinta-feira (14), no pátio do Palácio Piratini em Porto Alegre, após o anúncio, que pretende manter a ação no varejo, área forte do banco, e impulsionar a carteira de investimentos, com foco em crédito para infraestrutura, agronegócio e exportações.   
O mercado reagiu bem à indicação, vista como técnica e com experiência no setor. A valorização das ações nessa quinta-feira na B3 reforça a boa recepção, dizem fontes do mercado. O principal papel, a BRSR6, subiu 5%.
A alta ganhou mais fôlego desde a divulgação do balanço, na terça-feira, com lucro líquido histórico de R$ 1,1 bilhão no ano passado. Já o fato de ser um nome de fora do Estado pode neutralizar eventuais pressões que possam comprometer os números da instituição, que reduziu a inadimplência a 2,55% no fim de 2018, um ponto abaixo das maiores grifes dos bancos de varejo. 
"Minha missão, além de manter toda a atividade bem-sucedida na área de varejo em pessoa física e jurídica, será trazer mais foco para investimentos e ter maior crescimento. Vamos observar os riscos prudenciais para cada nova atividade e rentabilidade do banco", resumiu Coutinho, que ficou por pouco mais de um ano na função de diretor das áreas de Crédito, Financeira e Internacional do Bndes.
Terreno para ganhar tem. A carteira de financiamento de longo prazo fechou 2018 em R$ 936,32 milhões, recuo de 24% frente a 2017, em uma carteira total de crédito de R$ 34 bilhões. 
Leite reforçou que vê potencial para o banco nas mudanças que o atual governo quer fazer e que combinará venda de ativos, concessões e parcerias público-privadas (PPPs). "Terá uma carteira importante do governo com privatizações e concessões rodoviárias e PPPs em saneamento. Todas essas parcerias com o setor privado vão precisar ser financiadas. As empresas vão precisar buscar financiamentos no mercado, e o Banrisul será estratégico para oferta de recursos", projetou o governador. 
O indicado compôs o grupo da economista Maria Silvia Bastos, que ficou um ano na presidência do banco público de investimento, entre maio de 2016 e maio de 2017, durante o governo de Michel Temer (MDB). Maria Silvia saiu após pressões para liberar recursos com os quais não concordava, mas ela alegou questões pessoais. Coutinho pediu demissão do cargo em julho de 2017, após divergências com o então presidente do Bndes Paulo Rabello de Castro, que concorreu depois a presidente da República em 2018.
O governo gaúcho informou que o ex-diretor do Bandes fundou e foi CEO do banco CR2 Investimentos e atuou no Banco BBM. Para assumir o cargo no Banrisul, o indicado por Leite terá de passar por sabatina na Comissão de Finanças, Planejamento, Fiscalização e Controle da Assembleia Legislativa e depois ser submetido ao Banco Central (BC).
Cabe à Casa Civil do governo enviar a indicação à AL, o que deve ocorrer nos próximos dias, informou a assessoria da pasta. Até esta sexta-feira (15), o governador não havia encaminhado o nome para a área no Piratini. A composição da diretoria deve ser definida após a oficialização de Coutinho. O atual presidente é Luiz Gonzaga Veras Mota, funcionário de carreira do banco, está desde o começo de 2015 no cargo. 
Leite disse que a escolha ocorreu depois de "indicações de mercado". O governador destacou que espera da futura diretoria a gestão da competitividade do banco no mercado, dando sustentação e resultados, mas administrando riscos. O chefe do governo ponderou que, mesmo sabendo que o Estado não é o único acionista - detém quase 50% de todo o capital social e 98,13% das ordinárias (com direito a voto), e que a gestão precisa olhar o retorno, o banco tem relação com a economia gaúcha. "Nesse sentido buscamos um nome que atendesse a essa visão: mercado e, ao mesmo tempo, de desenvolvimento para o Estado", definiu Leite. 
Questionado sobre o tamanho do banco e atuação em pequenos e médicos municípios, Coutinho descartou reduzir a rede física e definiu que a "penetração que o banco tem é um ativo". Mesmo assim, o futuro presidente admitiu que o uso de tecnologias pode aproximar mais a operação dos clientes.
"Não vejo movimento para diminuir a cobertura de pequenos municípios. A fortaleza do Banrisul é justamente a penetração no Interior. Perder esta abrangência é perda grande ao banco", resumiu. Na atual gestão, houve uma pequena diminuição de rede. O número de agências caiu de 526 para 518. Coutinho considerou o corte insignificante para o tamanho da operação. 

Leite reafirma intenção de vender ações no limite do controle do banco

O tema da venda de ativos do Banrisul voltou à cena. Eduardo Leite reafirmou que, na busca de condições para aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) com a União, analisa "toda a disponibilidade de ativos, desde patrimônio imobiliário, estatais e, neste caso, o Banrisul". 
Ao mesmo tempo em que reforçou o compromisso de manter banco público, Leite foi claro: "Evidentemente, olhamos para as suas ações como oportunidade para que possamos aderir ao RRF".
O governo trabalha com eventual venda mantendo o controle acionário. "É possível, sim, que as ações sejam negociadas. Vamos buscar identificar a melhor oportunidade dentro das condições do mercado e que melhor atendam ao interesse público", pontuou o governador, mantendo o tom na esfera das possibilidades. "Estas definições caberão à nova diretoria do banco e à Fazenda (secretaria) para ver a melhor oportunidade, respeitando a premissa de manter o controle", endereçou Leite.
Diante da afirmação do chefe do governo, Coutinho observou que "a questão da venda do excedente de ações é decisão exclusiva do acionista, neste caso o Estado". O futuro presidente do banco deixou claro que o assunto não compete à diretoria da instituição, mas amenizou indicando que pode auxiliar na avaliação.
O ex-diretor do Bndes evitou comentar perspectivas sobre a abertura de capital da Banrisul Cartões, subsidiária do banco, cujo registro para lançamento de papéis na bolsa de valores (B3) foi cancelado no fim de 2018. A operação, que renderia receita ao governo como acionista majoritário, também poderia virar moeda na negociação do acordo do RRF. "Não tenho detalhe das razões porque a operação deixou de ser feita. Não posso emitir opinião sem ouvir a atual diretoria do banco", encerrou Coutinho.
Em abril de 2018, o governo de José Ivo Sartori (MDB) autorizou que o banco contratasse agentes do mercado de capitais para oferta de 26 milhões de ações preferenciais e 2,9 milhões de ordinárias. Os leilões renderam R$ 537,4 milhões, usados para pagar a folha dos servidores. Segmentos do mercado e oposição cobraram falta de transparência no processo. Com as negociações, o Estado reduziu a fatia no capital social total de 50,62% para 49,89%. Como tem 98,13% de ordinárias, é controlador absoluto.

República do Bndes do Sul

“Bem-vindo ao time”. A saudação do governador Eduardo Leite ao escolhido para dirigir o Banrisul, Claudio Coutinho, tem duplo sentido. Coutinho é o segundo integrante do “time” que teve passagem pelo Bndes. O primeiro é o secretário da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso.
Coutinho e Cardoso saíram juntos do anúncio no Palácio Piratini e acharam graça quando foram provocados pela reportagem do Jornal do Comércio: “Vamos ter a República do Bndes do Sul?”
O titular da Fazenda estará muito próximo ao número um do banco, pois é o interlocutor do governo nas tarefas de representar o acionista majoritário. Cardoso está no comando das negociações da adesão ao RRF.
A escolha de mais um integrante de fora do Estado reforça a ala de “estrangeiros” no governo Leite e justamente na tríade que lida com caixa e finanças: Banrisul, Fazenda e Planejamento, comandada pela brasiliense Leany Lemos.