Cidades gaúchas investem na música para atrair visitantes

Do erudito ao nativista, festivais cativam público dos mais diferentes estilos

Por Thiago Copetti

V Gramado em Concert reúne cerca de 40 apresentações de música erudita até o dia 9 de fevereiro, com entrada franca
O turismo embalado pela música vem ajudando a movimentar as economias de diferentes cidades gaúchas. Atrair visitantes por meio de um festival, dos mais diferentes estilos musicais, é uma festa para hotéis e restaurantes, especialmente, mas que respinga também em diferentes setores de comércio e serviços (como de transporte), e nos cofres púbicos, com incremento na arrecadação de impostos.
No Rio Grande do Sul, há bons exemplos de como o turismo musical pode ser um atrativo para grandes e pequenos municípios. Mesmo em Gramado, por exemplo, cidade onde atrativos naturais e de lazer, serviços e gastronomia não faltam, a música passou a colaborar para o incremento de visitantes. Até o dia 9 de fevereiro, o município da Região das Hortênsias espera receber 100 mil pessoas com 40 apresentações gratuitas de música erudita sob a batuta do Gramado in Concert, que teve início nesta sexta-feira.
De acordo com o secretário de Cultura da cidade, Allan Lino, o festival reúne músicos, professores e estudantes de 20 estados e quatro continentes, com representantes da Hungria, da França, da Alemanha, do Chile e da Coreia do Sul. De uma média de 400 a 500 mil turistas que visitam Gramado em fevereiro, cerca de 25% do público está na cidade para o evento, diz Lino.
"Especialmente, a partir de 2014, passamos a atrair mais turistas. São pessoas que já apreciam esse estilo de música ou têm curiosidade de conhecer melhor. É um público que busca uma gastronomia mais refinada, uma hospedagem de excelência e tem um tíquete médio de gastos de maior valor", explica o secretário.
Junto com os próprios participantes, diz Lino, vêm muitos familiares e amigos, que ajudam a movimentar ainda mais a cidade nestes dias, juntamente com os fãs da música clássica. São ônibus, vans e voos que trazem também as famílias dos músicos e outros profissionais que aproveitam a evento para conhecer as famosas belezas de Gramado.
Inicialmente, conta o secretário, o púbico era formado principalmente por pessoas da região, que, desde o início, se mobilizavam para as apresentações. Agora, ganhou proporção nacional. "Desde 2014, diagnosticamos que vem gente de todos os lugares do Brasil. Com certeza, o investimento (entre R$ 800 mil e R$ 900 mil) se transforma em benefícios para a cidade ", avalia o secretário.
No outro extremo do Estado, Pelotas também soma ganhos com os muitos acordes e sons espalhados pela cidade durante o Festival Internacional de Música do Sesc. Em sua nona edição em 2019, entre 14 e 25 de janeiro, o evento altera significativamente a rotina do município. De acordo com sondagem feita pela prefeitura, em 2017, com empreendimentos próximos aos locais de apresentação, o setor de alimentação teve alta de 45% nas vendas em relação ao mesmo período do ano anterior; o comércio, de 35%; e os meios de hospedagens, de 40%.
"Com certeza, o maior símbolo do turismo musical é a Broadway, uma das mais importantes fontes de receita de Nova Iorque. Em música de orquestra, no Brasil, temos como bom exemplo o Festival de Inverno de Campos do Jordão, realizado há 50 anos, e o de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina", destaca Evandro Matté, maestro e diretor artístico da Ospa e do Festival de Música de Pelotas.
Na pequena São Francisco de Paula, com 22 mil habitantes, a música, em seus diferentes estilos e em diferentes épocas, também tem ajudado a economia da cidade. O município conta com quatro festivais ao longo do ano: o Paralelo (em janeiro, com rock, jazz, MPB e samba), o Festival de Outono (orquestra, em abril), o Beatle Weekend (em novembro) e o Ronco do Bugio (nativista, entre agosto e setembro). Rafael Castello Costa, secretário de Cultura, Turismo e Desporto de São Francisco de Paula, estima que o Paralelo e o Beatle Weekend tenham deixado na cidade uma receita de quase o triplo do investimento municipal.
"O custo do Paralelo não chegou a demandar R$ 70 mil da prefeitura, já que contou com apoio de empresas privadas, via Lei de Incentivo à Cultura. Já na segunda edição Beatle Weekend, foram cerca de R$ 160 mil. Com investimento de cerca de R$ 200 mil, se gerou entre R$ 600 mil e R$ 700 mil em diárias de hotéis, alimentação, varejo e transporte, por exemplo", calcula Costa.

Festivais de canções nativistas se espalham pelos municípios do Rio Grande do Sul

São muitos e longevos, em alguns casos, os eventos de música tradicionalista no Rio Grande do Sul. Espalhados por todo o Estado estão, por exemplo, a Coxilha Nativista, de Cruz Alta; a Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana; o Carijo da Canção Gaúcha, de Palmeira das Missões; a Moenda da Canção, de Santo Antônio da Patrulha; e o Ronco do Bugio, de São Francisco de Paula, entre muitos outros.
Apesar de a Califórnia da Canção Nativa ser o festival mais antigo do Estado, de 1971, atualmente, é a Coxilha Nativista que está há mais tempo ininterrupto, sendo realizado e incrementando a economia de Cruz Alta. No ano passado, o evento reuniu um público estimado em 12 mil pessoas, em quatros noites. De acordo com a secretária municipal de Cultura e Turismo, Laura Ajala, os cerca de R$ 200 mil investidos pela prefeitura se refletem em R$ 600 mil para o município.
"Isso sem falar na contratação de pessoal local para montagem de palco, decoração e até para confecção dos troféus, entre outros profissionais que se envolvem com o evento", ressalta Laura. Além de gaúchos, chegam à cidade visitantes de toda a Região Sul e dos vizinhos Argentina e Uruguai, de acordo com Laura, que, inclusive, já inscreveram composições nos dois últimos festivais. "Isso ajudou a atrair ainda mais hermanos para a cidade durante o festival, e, portanto, para o turismo local também. Neste ano, faremos um estudo mais aprofundado dos reflexos econômicos do festival na economia da cidade", destaca a secretária.
 

SERVIÇO

Gramado In Concert
Até 9 de fevereiro
O quê
Mais de 40 atividades e apresentações gratuitas de música erudita em concertos de orquestras, grupos de câmara e solistas com artistas nacionais e internacionais
Quem participa
Cerca de 300 alunos do Brasil e de países como Uruguai, Argentina, Costa Rica e Chile. Também estão confirmadas a vinda de professores de países como Hungria, França, Alemanha, Argentina, Chile e Coreia do Sul
Atividades
Concursos de composição erudita e de jovens solistas, grupos de câmara do Brasil e do Peru, além da participação da Orquestra Sinfônica de Gramado e da Orquestra de Cordas da Universidade Federal de Minas Gerais. Oferece, ainda, 19 modalidades de oficinas de variados instrumentos e práticas orquestrais
Mais informações:
www.gramadoinconcert.com.br