Brics ganha força com protecionismo dos EUA

China já teria estudos sobre tarifas comuns no grupo de países, afirma coordenador de Centro de Estudos Brasileiros

Por JC

Zhou diz que ideia é criar área de livre comércio para alguns produtos
O afastamento dos Estados Unidos em relação à China, que segue caminho incerto mesmo com a recente proposta de trégua, tende a fortalecer ainda mais as relações deste país com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, países que, com a China, formam o chamado Brics. O futuro do bloco econômico, assim batizado em 2001 pelo economista Jim O'Neill, é promissor, avalia Zhou Zhiwei, coordenador do Centro de Estudos Brasileiros em Beijing.
Apesar de terem características de desenvolvimento distintas (basta ver a superioridade da economia do gigante asiático), isso não deve ser impeditivo para ações conjuntas. "É normal, em qualquer grupo, ter integrantes com características diferentes, como também ocorre com o G-7 (grupo dos sete principais países desenvolvidos), explica Zhou.
O coordenador do Centro de Estudos Brasileiros revela que um grupo de acadêmicos da China já avalia como e onde se poderia ter barreiras tarifárias menores dentro do bloco, na contramão do atual protecionismo norte-americano. A ideia é ter uma espécie de Área de Livre Comércio (FTA, em inglês) para alguns produtos. "Ainda são apenas avaliações. Claro que há dificuldades nisso, mas temos que buscar as complementaridades."
Brasil e Rússia têm em comum, por exemplo, a produção de trigo, mas Índia e China têm alta necessidade por alimentos, equilibrando oferta e demandado grupo, com mercado para ambos, diz Zhou. Ao citar o recente encontro anual do Brics, em Joanesburgo, África do Sul, em julho, o professor lembra que o presidente chinês, Xi Jinping, sugeriu alguns pontos com potenciais de crescimento conjunto e benefícios mútuos no grupo. Entre os itens está a cooperação em ciência e tecnologia.
"O Brasil tem vantagens em algumas áreas, como na aviação; a China, em outras, como Inteligência Artificial; assim como a Rússia, na área militar", diz o especialista em temas sino-brasileiros.
Estar em grupo e ter uma "voz" mais potente também é uma forma para ser melhor escutado em temas da governança global e em espaços como a Organização das Nações Unidos (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Para Zhou, além de maior influência nestas e em outras representações internacionais, o Brics pode dar exemplos e mostrar novos caminhos possíveis aos sistemas já consolidados.
"O grupo criou, por exemplo, o Novo Banco de Desenvolvimento, que tem uma estrutura muito diferente do FMI e do Banco Mundial. No banco do Brics, todos os países têm igual poder de voto e participação, independentemente dos valores que tenham feito de aportes. É um processo decisório mais justo", avalia Zhou.
Em 2019, o Brasil volta a assumir a presidência do Brics e sediará cerca de 100 reuniões do bloco. Os encontros deverão ocorrer em mais de 30 áreas de cooperação setorial e terão lugar em diversas cidades do País, assim como o Fórum Acadêmico, o Festival de Cinema do Brics, o Festival Cultural e outros encontros relacionados ao diálogo entre sociedades civis.