Crescimento da bolsa brasileira está 'garantido'

Para analistas, o momento é favorável à renda variável e deve levar o Ibovespa em dólar a subir cinco vezes até 2023

Por Guilherme Daroit

Bredda (e) e Barros, do fundo Alaska, participaram do MB Experience
Com capacidade ociosa nas fábricas e a expectativa de um bom ciclo de commodities pela frente, os gestores do fundo Alaska não têm dúvidas de que a bolsa de valores brasileira irá crescer, e muito, pelos próximos cinco anos. "É irreversível", defende o investidor e sócio do Alaska Luiz Alves Paes de Barros. "Já começou e vai terminar perto de 2023, com patamar em dólar cinco vezes maior do que hoje" crava Barros, que ficou conhecido no mercado como um "bilionário anônimo" pelos seus ganhos na bolsa e poucas aparições públicas. Atualmente, o índice em dólar está em torno dos 23 mil pontos, e o máximo histórico na série é de 44 mil pontos, alcançado em 2008.
Seu sócio na Alaska, Henrique Bredda, concorda que o "voo de galinha" da bolsa brasileira já está contratado, e segue tendência histórica. "Sempre vai bem 6 ou 7 anos, depois fica mal 6 ou 7 anos. Nunca vimos a bolsa descolada das commodities, independentemente de governos", comenta Bredda. Para que se transforme em um 'voo de águia', porém, o gestor defende que o País precisaria de reformas estruturais, que não sabe se acontecerão. "Mas o voo de galinha é bem rentável também", brinca Bredda. Os dois investidores estiveram ontem em Porto Alegre para evento da assessoria de investimentos Monte Bravo.
Os gestores argumentam ainda que o mercado é independente de crises, e que as finanças públicas serão ajustadas em algum momento. "Se não melhorar agora, quem assumir o governo pós-Bolsonaro vai ter que resolver o problema de forma matemática. Tudo isso se resolve no tempo", comenta Bredda, que usa o exemplo da Grécia, onde o atual primeiro-ministro, Alexis Tsipras, venceu as eleições com plataforma de extrema-esquerda e, mesmo assim, em poucas semanas foi obrigado a realizar medidas de austeridade fiscal.
Bredda também defendeu que medidas que são boas para economia não necessariamente o são para o Ibovespa. "O Brasil de 1971 a 1983 é um caso emblemático, quando o PIB cresceu 10% ao ano e a bolsa ao todo caiu 82%", argumenta. Um exemplo seriam medidas da União para facilitar a entrada de novos players no mercado bancário e, com isso, diminuir o custo do crédito, o que seria bom para a economia, mas poderia causar grande impacto no Ibovespa por conta das possíveis perdas dos bancos brasileiros.
As altas nos juros norte-americanos, que devem ser duas ou três em 2019, também não preocupam os gestores da Alaska, porque, segundo Bredda, sempre que a alta acontece, a bolsa brasileira sobe. "Aumento dos juros significa que a economia norte-americana está forte, e isso sempre foi boa notícia para a bolsa brasileira", argumenta.
Os executivos, que criticam os movimentos baseados em euforia por alta ou queda nas cotações, veem várias oportunidades na bolsa atualmente. A volatilidade é boa, argumenta Barros, porque permite comprar ativos a preços defasado. O exemplo dado pelo investidor é o da Vale, cuja ação chegou a valer US$ 44 e, depois, caiu para US$ 2. "A empresa não mudou, o custo de extrair minério não mudou, e a Vale ainda o faz o com menor custo do mundo. Hoje já está em torno de US$ 15, e vai voltar para US$ 50", afirma Barros. "Há muitas empresas com liquidez e que vem gerando caixa", agrega Bredda, citando ainda Braskem, Petrobras, Suzano, Rumo e Magazine Luiza na carteira do fundo.
 

Desafio da XP, maior corretora de valores do Brasil, é expandir sem perder a cultura

De uma empresa quase natimorta à maior corretora de valores do Brasil, a trajetória da XP Investimentos deve continuar sendo de grandes e rápidos crescimentos. Até o fim do ano, a corretora deve chegar a R$ 220 bilhões sob sua custódia, e a meta da empresa é de alcançar o primeiro trilhão em 2020, quando também já deverá ter funcionando o seu próprio banco de varejo. Com uma história de expansão acelerada, o maior desafio da companhia, para o CEO e fundador, Guilherme Benchimol, é conseguir manter a cultura corporativa.
"Desafio hoje é como crescer, virar uma empresa burocrática, sem parecer uma multinacional", argumenta Benchimol, que esteve ontem em Porto Alegre para evento organizado pela assessoria de investimentos Monte Bravo. Na XP, a avaliação é feita pelo atingimento de metas e pela forma como o profissional consegue chegar lá. "Tivemos casos de gente que entregava resultado, mas não aderia à cultura. Era rentável, mas complicava o resto do grupo", conta Benchimol, que agrega que ter pessoas alinhadas foi fundamental para o crescimento da XP.
Criada em Porto Alegre como agente de investimentos autônomo em 2001, pelo agora CEO e pelo sócio Marcelo Maisonnave, a XP esteve prestes a ser fechada nos primeiros meses. Em meio à crise das bolsas e sem clientes, o capital inicial de R$ 20 mil reais foi drenado sem sucesso, e Benchimol chegou a organizar o fechamento da empresa e o seu retorno ao Rio de Janeiro, de onde é natural. "Aí, começamos a dar aula sobre o mercado e começou a dar certo, porque quem pagava pelo curso estava disposto a investir, e vinha investir com a gente", conta o executivo.
Desde lá, a XP comprou uma corretora, em 2007, e a transformou na maior do Brasil. Em 2010, recebeu aporte do fundo britânico Actis e, em 2017, anunciou a venda de 49,9% do capital para o Itaú Unibanco. "Achamos o Itaú mais seguro do que abrir capital. Empresário tem que ter pé no chão, não tentar ser herói", argumenta Benchimol. A venda causou surpresa pela postura da XP, que sempre atacou os bancos como sendo incapazes de gerir os investimentos dos clientes e cresceu se diferenciando deles.
"Estávamos captando R$ 4 bilhões por mês, agora captamos R$ 7 bilhões. As pessoas entenderam que não mudou nada", defende Benchimol, lembrando que a independência na gestão da XP é garantida em contrato, e que o Itaú possui apenas dois dos sete conselheiros da companhia. O acordo teria trazido credibilidade à XP e força contra os próprios bancos, que, segundo o executivo, perderam o argumento de que a XP não era sólida.
O próximo passo da corretora para dentro do segmento bancário será a criação de um banco próprio, que Benchimol garante não será no modelo tradicional. Não terá agências nem tarifas, segundo o executivo, e terá como objetivo fomentar a corretora e fidelizar o cliente, que hoje possui parte de sua liquidez na XP e parte nos bancos tradicionais, por conta de facilidades como conta-corrente e cartão de crédito.
"Nosso primeiro produto, porém, será crédito barato, para que possam alongar o ativo com a gente", conta Benchimol. Atualmente, a média de investimentos na XP é de 11 dias, e o crédito será oferecido de forma que o cliente possa assumir prazos mais longos.