Cresce busca por intercâmbio que une estudo e trabalho

Em algumas agências especializadas a demanda por este tipo de programa no exterior mais que dobrou frente a 2017

Por Adriana Lampert

TORONTO, CANADÁ. - CRÉDITO DIVULGAÇÃO CI ZONA SUL
O número de brasileiros que passaram a ter interesse em buscar uma oportunidade de trabalho no exterior tem aumentado a cada ano. De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação das Agências Brasileiras de Intercâmbio (Belta), este tipo de programa ficou em 2º lugar entre os modelos mais procurados durante o ano passado. Em algumas agências de intercâmbio a demanda mais que dobrou frente a 2017. É o caso do programa Trabalhar e Estudar disponibilizado pela empresa CI Intercâmbio e Viagem, cuja demanda cresceu em 150% quando comparado ao ano passado. No mesmo período, a empresa do grupo CVC, Experimento Intercâmbio Cultural, teve um aumento 40% na venda de produtos que aliam estudo e trabalho no exterior. Os destinos mais procurados são Irlanda, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, que são os que melhor recebem os brasileiros, e com legislação que permite o trabalho.
Para a maioria dos intercambistas, o ideal é conciliar estudo e trabalho, para poder garantir o tempo de estadia no país. Neste formato, os destinos que melhor recebem os brasileiros são Canadá, Irlanda e Dubai, informa a supervisora da Região Sul da CI, Ana Flora Bestetti. Ela destaca que Malta, Nova Zelândia e Austrália são outros três destinos receptivos à mão de obra brasileira. Confiante nesta informação, a analista de marketing Natália Rauter, 25 anos, está com as malas prontas para embarcar no dia 2 de novembro para Brisbane, em Queensland (Austrália). Lá ela frequentará um curso de comércio exterior por oito meses, e pretende trabalhar para adquirir experiência profissional.
"A ideia é adquirir novos conhecimentos, conhecer novas pessoas e culturas, sair da zona de conforto", resume Natália. Ela admite que - apesar de já ter viajado três vezes para estudar no exterior - a expectativa é grande. "Vai ser a primeira vez que vou trabalhar e sei que vou me deparar com outra realidade, além disso vou atrás de conhecimento e poderei colocar em prática o meu inglês, uma vez que vou ter contato diário com o idioma." Após quatro anos juntando dinheiro, Natália vai desembolsar R$ 22 mil, valor que cobre os oito meses de curso, além de custos com visto, taxas, passagens e hospedagem no primeiro mês. "Vou ficar na casa de um casal, via Airbnb, depois pretendo procurar residência para alugar. Antes terei que 'dar a cara a tapa', e 'bater de porta em porta' para deixar meu currículo, para conseguir um trabalho, mesmo que não seja na minha área."
Este pensamento vai ao encontro ao de muitos estudantes que, em meio à crise econômica e política do País, buscam no exterior a possibilidade de aperfeiçoar um segundo ou terceiro idioma, unindo experiência profissional. A vantagem de vivenciar outras culturas in loco é ter um diferencial na hora de concorrer às vagas de emprego no Brasil. Segundo a Pesquisa Selo Belta, pela primeira vez o País alcançou a marca de contar com 302 mil estudantes no exterior. O estudo mostra um aumento de 23% ma demanda por outras línguas e por cursos de desenvolvimento profissional. O investimento para um curso no exterior também aumentou 12%, atingindo a média de US$ 9,9 mil. No total, o País movimentou entre US$ 2,7 e 3 bilhões de dólares em programas educacionais em 2017. "O mercado de intercâmbio cresceu tanto em volume como em receita porque o brasileiro começou a considerar opções mais diversificadas e apostou em se especializar profissionalmente", explica a presidente da Belta, Maura Leão.

Programas de mestrado e doutorado estão entre os mais procurados por brasileiros

Mesmo com a queda do investimento público em bolsas de estudo no exterior, a demanda por programas de mestrado e doutorado, cursos de graduação e certificados profissionais aumentou em 2017, enquanto programas de Ensino Médio perderam força, informa a presidente da Belta, Maura Leão. "O brasileiro não se contenta apenas com uma segunda língua. O objetivo é se diferenciar, no mercado de trabalho", salienta.

Entre os destinos mais procurados estão Irlanda, Austrália, Nova Zelândia e Canadá, onde a legislação permite que os intercambistas trabalhem, comenta a gerente da CI Zona Sul, Janaína Brentano. "Devido à situação política no Brasil, muita gente está querendo se afastar do País e, se possível, nem voltar", admite. A Irlanda dispensa visto antecipado e comprovação financeira de que o intercambista terá como se manter por lá. "Só exigem que o curso esteja pago e que o estudante tenha
¤ 3 mil para gastar no país", explica.

Já para Austrália e Nova Zelândia precisa a comprovação de pagamento de um curso de no mínimo 14 semanas, visto antecipado e garantia de recursos para se manter nos destinos. O mesmo ocorre no Canadá, onde a estudante Nicole Lago, 21 anos, viveu por oito meses. "Fui para Toronto, no Canadá, onde frequentei um curso de Serviço à Clientes", conta. "Nos primeiros quatro meses fiz estágio em uma rede de saladas, e após o término do curso, trabalhei em turno integral em uma cafeteria."
A estudante aproveitou três semanas para viajar a turismo em cidades próximas. "Gostei muito da experiência e meu sonho é que o Brasil fosse como o Canadá: um país sem preconceitos, seguro e onde é possível sobreviver com um salário-mínimo. Lá os teus impostos retornam em serviços e o meios de transportes são muito eficientes", destaca Nicole.
O perfil médio de quem busca visto de estudante com permissão para trabalhar no exterior é na maioria de jovens entre 20 a 30 anos. "Tem aqueles que buscam apenas experiência, outros querem mesmo trabalhar para ter como se manter enquanto estudam", diz a diretora da agência de educação Experimento, Carla Mussoi. "Nos últimos dois anos, cresceu em 80% aqueles que buscam primeiro este tipo de programa, para depois viver para sempre em outro país."