Indústria de brinquedos aposta no Dia das Crianças

Empresas do setor esperam aumento de 7,5% nas vendas neste ano

Por Carolina Hickmann

Xalingo produz 22 mil itens por dia e investe em produtos acessíveis
Em meio a ano de baixa demanda em razão de eventos que desviam o foco do consumidor, a expectativa do setor industrial para o Dia das Crianças é de aumento de 7,5% na relação com a procura para a semana da criança de 2017, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). Para atingir a meta, o segmento investiu na criação de cerca de 700 modelos de brinquedos. "Não é um ano de grandes emoções comerciais. Então, o que fazemos é uma tentativa de compensar o marasmo do ano com os lançamentos", comenta o presidente da associação, Synésio da Costa. O setor registrou altas nos primeiros três meses do ano, depois disso, apenas empatou com o desempenho do ano passado e passou a registrar quedas em julho e agosto.
Somente a Xalingo Brinquedos produziu mais de 10 novidades pensadas para o Dia das Crianças, em um ano de cerca de 100 lançamentos. "O mercado é bastante demandado em termos de novidades, damos destaque as linhas do Mickey e das princesas", comenta o gerente nacional de vendas, Alexandre Marques, ao explicar que personagens costumam ser bastante atrativos. A indústria, que produz 22 mil produtos ao dia, aposta em brinquedos acessíveis, entre R$ 39,00 e R$ 69,00 nos pontos de venda para esta edição da comemoração.
Até o início da campanha eleitoral, a empresa registrava alta de 10% de aumento em faturamento na relação com o ano anterior, segundo o gerente. Com as distrações do pleito, explica Marques, no mês de setembro, quando a maior parte dos lojistas abastecem os estabelecimentos para a data, o crescimento recuou para cerca de 7%. Mesmo assim, a projeção do gerente é de que, se houver um bom giro de mercadorias durante essa semana, o varejo voltará a procurar a indústria após a data e será possível fechar 2018 atingindo a meta de 12%.
Costa observa que os consumidores brasileiros tendem a procurar brinquedos mais desenvolvidos, que contam, muitas vezes, com tecnologia embarcada. Por outro lado, não são itens que tornam a criança o expectador da brincadeira a maior aposta da indústria nacional. "Os japoneses sim, passam muito tempo apertando botões e se divertindo. Aqui, estimamos que 1h seja a média que uma criança passe entretida não sendo o ativo", relata. Dos mais de 4,7 mil modelos disponibilizados pela indústria nacional, cerca de 70% deixam o protagonismo para os pequenos.
O desafio do setor, no entanto, é responder por 60% das vendas do mercado nacional até o fechamento do ano. Segundo Costa, em 2017, 59% foi a participação da indústria nacional no segmento de brinquedos no mercado interno. Costa avalia que o maior impedimento está na falta de competitividade na questão dos preços frente ao principal concorrente dos brinquedos brasileiros, a China. "Para ganhar um ponto dos chineses, a gente sangra. A carga tributária incidente em nossos brinquedos é de 38%, enquanto os chineses enfrentam apenas 3%", argumenta.
Apesar de lamentar que o "DNA do consumidor é pagar mais por menos" no Brasil, outro fato pode ajudar a expansão do segmento internamente, segundo Costa. O dólar elevado, circulando em torno dos R$ 4,00, favorece o segmento, pela avaliação do dirigente, uma vez que a indústria brasileira adquire menos de 1% do total de suas peças no mercado externo. Majoritariamente, mecanismos de articulação de bonecos e dispositivos de voz são adquiridos em mercados como EUA, Japão e Espanha. Assim, o setor projeta terminar 2018 com US$ 4,5 bilhões de faturamento, 7% a mais do que o total do ano passado.

Varejistas esperam crescimento na procura por presentes durante esta semana

Com o quinto dia útil de outubro tendo caído na última sexta-feira, as primeiras compras para o Dia das Crianças iniciaram-se ainda neste fim de semana. Contudo, dirigentes do varejo ressaltam que a intensificação da procura deve ocorrer apenas na véspera do dia 12 de outubro, como de costume. Ciente da maior demanda, a supervisora-geral da loja de brinquedos Del Turista, Beatriz Dias, contratou cinco funcionários. A expectativa é de que o quadro extra permaneça na loja até o Natal - outra data importante para o segmento.
Assim, Beatriz espera encerrar as vendas de outubro com aumento em torno de 8% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Para chegar ao número, porém, a gestora precisou iniciar promoções ainda em agosto, que baixaram preços de uma boneca Rapunzel de R$ 179,99 para R$ 89,95, por exemplo, negociando quantidade com o fornecedor. Desta maneira foi possível atingir o crescimento de 8% ainda em setembro, na relação com o mesmo mês de 2017, em um ano de pouca demanda do consumidor.
O presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse, comenta que o movimento esperado no comércio da Capital deve atingir R$ 205 milhões, uma vez que 68% da população cima de 18 anos pretende presentear a alguém. O tíquete médio projetado é de R$ 119,00. Levantamento realizado pela entidade aponta que pagamento à vista em dinheiro deve ser a preferência de 44%, e cartões de crédito devem responder por 33%.
Para este Dia das Crianças, a liderança de intenção de compra voltou a ser brinquedos, após o evento em 2017 sinalizar que as roupas foram os presentes mais procurados. Kruse lembra que a preferência por itens de vestuário ou para diversão alterna conforme as temperaturas e a necessidade do consumidor, quanto aos brinquedos, a demanda por produtos que estimulam o desenvolvimento infantil seguem como tendência. Beatriz explica que estes produtos costumavam ter maior valor agregado, o que fez com que marcas nacionais como a Calesita, de Santa Catarina, voltassem-se ao nicho, custando até 50% a menos do que marca itens semelhantes da norte-americana Mattel.
A procura por brinquedos de menor valor, segundo o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS), Vitor Koch, é fruto de um cenário de recessão vivido pelo consumidor. "Isso, acrescido ao momento de incerteza das eleições, aumenta o receio de endividamento", relata. Pela projeção da entidade, a venda de brinquedos deve crescer cerca de 4% ante o mesmo período do ano passado.