Aneel pode relicitar obras de transmissão no Rio Grande do Sul

Órgão avalia transferência de concessão de projetos da Eletrosul

Por Jefferson Klein

Empreendimentos vão contemplar diversos municípios
Marcado para 20 de dezembro deste ano, o leilão de transmissão de energia nº 4/2018 prevê projetos de mais de R$ 5 bilhões no Rio Grande do Sul. No entanto, a maioria dessas iniciativas somente integrará o certame caso a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) negue a transferência da concessão de uma série de obras já arrematadas pela Eletrosul para a chinesa Shanghai Electric. Posteriormente, a meta dessas duas empresas, mais a Zhejiang Energy, é realizar os empreendimentos através de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE).
Na semana passada, dirigentes das três companhias estiveram no Palácio Piratini, em Porto Alegre, celebrando uma cerimônia alusiva à formação da SPE. As obras a serem feitas por essa parceria contemplam a implantação de 1,9 mil quilômetros de linhas de transmissão, oito novas subestações, ampliação de 14 subestações existentes e geração de cerca de 11 mil empregos diretos e indiretos. Esses empreendimentos, estimados em R$ 4 bilhões, serão implementados em vários municípios gaúchos, como Santa Vitória do Palmar, Rio Grande, Santana do Livramento, Osório, Candiota, entre outros. O direito de fazer os projetos e ser remunerada por isso foi conquistado pela Eletrosul em leilão disputado em 2014, mas a estatal controlada pela Eletrobras não teve fôlego financeiro para ir adiante com as obras.
Apesar da intenção de Eletrosul, Shanghai Electric e Zhejiang Energy em prosseguir com a iniciativa agora conjuntamente, segundo a assessoria de imprensa da Aneel, o órgão regulador ainda não decidiu sobre a autorização da transferência da concessão. Assim, os empreendimentos que compõem os lotes de 10 a 13 do leilão de dezembro estão vinculados ao contrato firmado com a Eletrosul, cujo processo administrativo de caducidade encontra-se suspenso, em face da possibilidade de transferência da concessão. Caso essa troca de responsabilidade seja consolidada, a questão será arquivada e os empreendimentos não integrarão a concorrência do final do ano. Caso contrário, o processo de caducidade será encaminhado ao Ministério de Minas e Energia até outubro, para que a extinção contratual seja decidida, previamente à publicação do edital do leilão de transmissão. Em nota, a Eletrosul afirma que no dia 28 de agosto apresentou à Aneel o pedido de transferência da concessão. A empresa aguarda a análise da entidade e, paralelamente, prossegue nas tratativas finais para a viabilização dos empreendimentos por meio da SZE Transmissora de Energia Elétrica, uma SPE criada pela Eletrosul, em parceria com a Shanghai Electric e Zhejiang Energy.
O coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Edilson Deitos, considerou positiva a decisão da Aneel. "É importante colocar um prazo", frisa o dirigente. Deitos se diz otimista de que a transferência da concessão será bem-sucedida e as obras não precisarão ser relicitadas, mas vê como benéfico ter um "plano B". O integrante da Fiergs ressalta que a falta dessas linhas e subestações de transmissão dificulta a expansão da geração de energia no Estado e ameaça a região com problemas de abastecimento de eletricidade.
Sobre o possível interesse de empreendedores pelas obras caso sejam novamente colocadas em leilão, Deitos argumenta que o mercado está esperando o término das eleições para traçar seus planejamentos. No entanto, o dirigente adianta que, diferentemente do que aconteceu no passado, dificilmente uma estatal teria hoje condições de executar essas iniciativas, devido à falta de recursos dessas empresas.

Lote 14 prevê investimento de R$ 1,2 bilhão no Rio Grande do Sul

Mesmo se os lotes de 10 a 13 ficarem de fora do leilão de transmissão do final do ano, o Estado não ficará ausente da disputa. O lote 14 também contempla obras no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, que somam quase 770 quilômetros em linhas e abrangem duas subestações. Os empreendimentos absorverão investimento de cerca de R$ 1,2 bilhão.
O gerente de planejamento energético da Secretaria de Minas e Energia, Eberson Silveira, afirma que o reforço desses complexos é fundamental. Um destaque feito por Silveira é a linha de transmissão de 525 kV de tensão, com 251,5 quilômetros de extensão, que ligará o município gaúcho de Capivari do Sul ao catarinense de Siderópolis. Além de conectar os dois estados, o gerente da Secretaria de Minas e Energia detalha que a estrutura servirá para escoar energia dos parques eólicos do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
Quanto aos lotes de 10 a 13, Silveira não acredita que farão parte do leilão de dezembro, pois prevê que as iniciativas serão concluídas pela SPE a ser formada por Eletrosul, Shanghai Electric e Zhejiang Energy. "É algo sacramentado, não vejo de outra forma", enfatiza.

Obras previstas no Lote 14

LT 525 kV Povo Novo - Guaíba 3, C3 245,7 km
LT 525 kV Capivari do Sul - Siderópolis 2, C1 251,5 km
LT 230 kV Siderópolis 2 - Forquilhinha, C2 27,6 km
LT 230 kV Livramento 3 - Santa Maria 3, C2 244,5 km
SE 525 kV Marmeleiro - Compensação Síncrona (-90/ 150 Mvar)
SE 230 kV Livramento 3 - Compensação Síncrona (-90/ 150) Mvar)