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China projeta reduzir importações de soja
Tecnologia que permitiu a criação de ração especial pode diminuir em 10 milhões de toneladas as compras em 2018
Um estudo divulgado pelo governo da China traz um alerta aos produtores de soja do Brasil, que, de janeiro a julho deste ano, comercializaram o equivalente a US$ 17,5 bilhões somente para o mercado chinês. E dado o peso das exportações de soja na balança comercial do Rio Grande do Sul, o sinal vermelho deve ser acionado também no Estado. Com a criação de um tipo de ração de baixa proteína - que não prejudica o desenvolvimento dos animais -, aliada ao aumento da área plantada com a oleaginosa em terras chinesas, a importação de soja poderá cair, já neste ano, em 10 milhões de toneladas - cerca de 10% de tudo o que é importado hoje.
No momento, a China está produzindo e já começou a utilizar uma nova tecnologia de ração de baixa proteína na criação de porcos e frangos. Zhang Haitao, encarregado da tecnologia na Guangdong Evergreen Feed Industry, afirma, segundo a agência de notícias Xinhua, que a China tem suficiente capacidade produtiva de aminoácido, e que o uso da fórmula de ração de baixa proteína pode reduzir a demanda do país pela farinha de soja entre 5% e 7%.
Como resultado, é "operável e sustentável" baixar o consumo de soja da China utilizando rações de baixa proteína, acrescentou Zhang. Além da redução na demanda pela oleaginosa na pecuária chinesa, o gigante asiático também trabalha para aumentar sua própria produção de soja. Com essas duas estratégias no horizonte tomando corpo, a redução da necessidade de importações pode afetar os negócios gaúchos.
Segundo a Fiergs, o Estado tem balança comercial positiva com a China, mas basicamente graças à soja. "Em 2017, exportamos US$ 5,35 bilhões para o país, enquanto importamos US$ 1,07 bilhão, o que gerou uma corrente de comércio de US$ 6,4 bilhões. O nosso principal produto enviado à China é a soja, que corresponde a mais de 80% do embarcado em 2017", destaca o presidente da Fiergs, Gilberto Petry, que tenta estimular a exportação de mais produtos industrializados e de diferentes setores para diversificar a pauta.
O alerta vermelho na dependência gaúcha da oleaginosa para o equilíbrio da balança está lançado e pode afetar as vendas do Estado em médio prazo. A perspectiva de redução anunciada, porém, tende a ser diluída pelo crescimento da economia e do consumo de alimentos por parte da China, avalia Antônio da Luz, economista da Farsul.
Luz também ressalta que a China poderá adotar outras estratégias para fugir da elevação dos custos da importação de soja, boa parte reflexo da guerra comercial com os Estados Unidos, reforçando o cultivo na África, um de seus grandes parceiros.
O abalo na relação entre EUA e China traz riscos de médio e longo prazos para todos, alerta Luz. O primeiro deles é que, sem a soja norte-americana, a China tende - como já está fazendo - a buscar alternativas para a oleaginosa. "Teria um custo elevado a produção de soja na África? Sim, teria. Mas o custo de colocar dinheiro na África para organizar a produção de soja pode ser menos do que pagar o custo maior pela soja brasileira ou norte-americana, com sua sobretaxa de 25%", analisa o economista.
Alternativas à oleaginosa
- Pesquisa de Yin Yulong, da Academia Chinesa de Ciências, mostra que a produção e a qualidade de porcos não foram afetadas pela redução da porção da proteína em rações animais, com o acréscimo de quatro aminoácidos específicos em diferentes fases de crescimento do plantel.
- Li Qiang, presidente da Shanghai JC Intelligence, disse que a importação chinesa de substitutos da farinha de soja tem enorme espaço para crescimento. "Se a China aumentar as importações de colza em 2,5 milhões de toneladas, de farinha de semente de girassol em 3,5 milhões de toneladas e de farinha de semente de palma em 3 milhões de toneladas neste ano, teoricamente, o país pode reduzir as importações de soja em 6 milhões de toneladas", disse Li.
- A China também pode aumentar sua capacidade para a autossuficiência, com o cultivo de plantas oleaginosas. No início deste ano, o Ministério de Agricultura e Assuntos Rurais divulgou que a área de plantio de soja da China aumentaria em cerca de 666.667 hectares em 2018.
- Fu Tingdong, professor da Universidade Agrícola Huazhong, na província de Hubei, no Centro da China, calcula que 4 milhões de hectares de terra arável inativa e zonas de entremarés na bacia do rio Yangtze podem ser usados para o cultivo de soja.
Fonte: Xinhua, agência estatal de notícias da China