Acordo comercial com a União Europeia divide o Mercosul

Na 52ª Cúpula do Mercosul, presidente Vázquez se opõe a Brasil e Argentina sobre a continuidade das tratativas

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Líderes do Mercosul tentam solução para impasse que dura 20 anos
A permanência das tratativas com a União Europeia para a assinatura de um acordo comercial opôs membros do Mercosul na 52ª cúpula de presidentes dos países do bloco, ontem, na Região Metropolitana de Assunção, no Paraguai. De um lado, Brasil e Argentina fizeram a defesa de prosseguimento das negociações, que já se arrastam há 20 anos, frente a um Uruguai crítico à aliança e a favor da retomada de conversas com a China.
Reservadamente, autoridades dos dois maiores países do bloco afirmam que, para fechar o acordo com a União Europeia, é necessário apenas o ajuste de questões políticas. "Não estamos obrigados a perder tempo em negociações eternas", afirmou o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, em sua fala na cúpula. "Precisamos de capacidade técnica, mas acompanhada de vontade política real", acrescentou.
Vázquez comparou o acordo da União Europeia com o Japão, que levou, segundo ele, um ano. "Quando se quer, se pode." Ao falar, logo depois do uruguaio, o presidente Michel Temer rebateu e defendeu a associação com os europeus. "Se me permite a ponderação, acho que não devemos abandonar a ideia dessa aliança do Mercosul", afirmou. "Nós sabemos que, na política econômica, nem tudo se resolve de um dia para o outro, ou de um ano para o outro. É provável que alguns países tiveram, quem sabe, rapidez para fazer essas composições", comparou Temer.
O discurso da vice-presidente argentina, Gabriela Michetti, seguiu a mesma linha de Temer. No fim do encontro, o Mercosul divulgou um comunicado em que cita "importantes esforços" no âmbito das negociações da União Europeia "para a assinatura de um Acordo de Associação Birregional, demonstrando seu compromisso e vontade integracionista em cada etapa do processo, especialmente desde outubro de 2016, oportunidade em que ambos os blocos decidiram intercambiar ofertas de acesso a mercados". A reunião de ontem marcou a transferência da presidência pro tempore (rotativa) do bloco do Paraguai para o Uruguai, e foi antecedida de discussões econômicas e comerciais entre os países-membros e associados. No domingo, os chanceleres dos países-membros também discutiram sobre a falta de avanço na tentativa de negociação de um acordo com a União Europeia. Aloysio Nunes, ministro das Relações Exteriores brasileiro, minimizou o problema.
Diante do empasse, os ministros Jorge Faurie (Argentina) e Rodolfo Nin Novoa (Uruguai) sugeriram que o bloco priorizasse o retorno de negociações com a China. Temer chegou ontem em Luque, cidade vizinha a Assunção, onde aconteceu o evento. Foi recebido pelo presidente do Paraguai, Horacio Cartes. Mauricio Macri, da Argentina, enfrenta uma crise econômica que levou a uma série de demissões no governo e faltou à cúpula.

Comissão Europeia reitera que Mercosul tem 'trabalho a fazer'

A Comissão Europeia - o órgão executivo da União Europeia (UE) - avisou ontem que o Mercosul ainda tem "trabalho a fazer" em vários capítulos em relação à conclusão do tratado de livre-comércio entre ambos os blocos, depois que o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, pediu aos europeus "vontade real" de selar o acordo.
"Para conseguir um acordo, ambas as partes precisam ceder, e está claro que nossos sócios do Mercosul ainda têm trabalho a fazer em alguns capítulos-chave que já foram colocados sobre a mesa na reunião ministerial de janeiro", lembrou o porta-voz de Comércio da UE, Daniel Rosario, na entrevista coletiva diária da comissão.
Essa foi a resposta do porta-voz após ser questionado sobre os comentários de Nin Novoa durante a reunião de domingo dos chanceleres do Mercosul antes da cúpula desta segunda-feira, quando o uruguaio avisou que as partes estavam "perto de presenciar uma ruptura" das negociações e recomendou que o Mercosul fizesse uma "mudança" em sua busca de acordos de livre-comércio, priorizando outras regiões, como a China.