Trump se recusa a apoiar declaração do G-7

Após ter endossado comunicado conjunto, presidente dos EUA muda de opinião e culpa primeiro-ministro do Canadá

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Photo released on Twitter by the German Government’s spokesman Steffen Seibert on June 9, 2018 and taken by the German government's photographer Jesco Denzel shows US President Donald Trump (R) talking with German Chancellor Angela Merkel (C) and surrounded by other G7 leaders during a meeting of the G7 Summit in La Malbaie, Quebec, Canada. The photo went viral, popping up all over social media, sometimes in its original form sometimes altered for humorous or satirical ends. / AFP PHOTO / Bundesregierung / Jesco DENZEL / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / BUNDESREGIERUNG / JESCO DENZEL - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS JC CAPA 11062018
Pouco depois de o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, ter anunciado em coletiva de impressa que os sete países do G-7, incluindo os Estados Unidos, tinham endossado um comunicado conjunto, o presidente norte-americano, Donald Trump, declarou em sua conta no Twitter que o país não endossaria o documento.
A coletiva com jornalistas foi realizada pouco depois de Trump embarcar para Singapura, onde deve se encontrar com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, amanhã. Na ocasião, Trudeau informou que todos os sete países tinham dado seu aval ao comunicado, no qual as lideranças das nações do G-7 declaravam compartilhar o comprometimento de promover a "ordem internacional baseada em regras". Em uma seção intitulada "Investindo no crescimento que funcione para todos", o comunicado destacava o "papel crucial das nações na luta pela redução de barreiras tarifárias, não tarifárias e subsídios".
Apesar do aparente consenso entre os integrantes do G-7, Trudeau fez declarações duras à administração Trump. Disse que os países tinham tido "algumas conversas firmes sobre comércio, especificamente sobre as tarifas impostas por americanos". Segundo o primeiro ministro canadense, em seu encontro com Trump, ele o alertou que o Canadá não seria pressionado e que poderia impor tarifas retaliatórias a produtos dos EUA em resposta a taxas sobre metais produzidos no Canadá. "Não queremos prejudicar trabalhadores norte-americanos ou o comércio entre Canadá e EUA", falou Trudeau a jornalistas. "Mas a escolha da administração (Trump) de impor tarifas ilegítimas e inaceitáveis deve ser respondida de forma clara e firme. Eu farei isso sem vacilar."
Algum tempo antes da coletiva, repórteres a bordo do avião oficial do governo norte-americano, que estava a caminho de Singapura, tinham recebido um comunicado informando que o presidente Trump apoiava o documento do G-7. Em coletiva dada antes de partir do Canadá, Trump chegou a dizer que seu relacionamento com o presidente da França, Emmanuel Macron, a chanceler alemã, Angela Merkel, e com Trudeau era "um 10" e defendeu a criação de um bloco de livre comércio entre os sete países.
Mas, depois da coletiva dada por Trudeau, Trump disse, em sua conta no Twitter, que o líder canadense tinha agido de forma "mansa" nas reuniões, para depois falar duramente na coletiva de imprensa. "Com base nas declarações falsas de Justin em sua coletiva de imprensa e no fato de que o Canadá está cobrando tarifas massivas dos fazendeiros, trabalhadores e companhias dos Estados Unidos, instruí nossos representantes a não endossarem o comunicado (do G-7) enquanto examinamos as tarifas sobre automóveis que inundam o mercado dos EUA!", escreveu o presidente norte-americano.
Trump também acusou o líder canadense de ser desonesto e fraco. Mas não chegou a especificar a quais pontos do comunicado ele fazia objeção. A declaração aumenta a insegurança em relação a um possível acirramento da batalha comercial entre os aliados, após o que parecia ser um arrefecimento das tensões.
Após as postagens no Twitter, uma porta-voz de Trudeau disse que os comentários do primeiro-ministro não representavam "nada que ele não tivesse dito antes, tanto em público como em conversas privadas com o presidente". Membros da delegação europeia reagiram com descrença às declarações de Trump. "Vamos nos ater ao comunicado, conforme acordado por todos os participantes", comentou uma autoridade do bloco.
Mesmo antes de Trump informar que os EUA não endossariam o comunicado do grupo, os membros do G-7 já tinham entrado em divergências. Todos os sete países, exceto os EUA, afirmaram que promoveriam a luta contra as mudanças climáticas, enquanto um parágrafo à parte indicava que os EUA acreditavam que "o crescimento econômico sustentável e desenvolvimento dependem de acesso universal a fontes confiáveis e acessíveis de energia". EUA e Japão também discordaram de outro comunicado dos demais membros sobre a ameaça aos oceanos imposta por lixo plástico. 

Consultores norte-americanos acusam Trudeau de 'apunhalar o presidente pelas costas'

A Casa Branca elevou o tom em seu discurso sobre comércio internacional, com críticas sem precedentes ao primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Em uma entrevista de TV veiculada em âmbito nacional nos Estados Unidos, o consultor para relações comerciais do presidente Donald Trump, Peter Navarro, disse que Trudeau é alguém que apunhala pelas costas, indigno do tempo de Trump.
"Há um lugar especial no inferno para qualquer líder estrangeiro que se envolve em uma diplomacia de má-fé com o presidente Donald J. Trump e então tenta esfaqueá-lo enquanto ele caminha em direção à porta de saída", declarou Navarro. Ele afirmou que Trump havia feito uma "cortesia" a Trudeau ao viajar a Quebec para o encontro do G-7. "Ele tinha outras coisas, maiores, para tratar em Singapura. Fez um favor (a Trudeau) e inclusive desejava assinar aquele comunicado socialista. E o que Trudeau fez assim que o avião (do governo norte-americano) decolou? Apunhalou nosso presidente nas costas", declarou.
O diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Larry Kudlow, reforçou que Trudeau estava "polarizando" o debate e que havia apunhalado o governo pelas costas. Segundo o consultor de Trump, o líder canadense fez uma "façanha política para consumo doméstico", que representou uma "traição".
A ministra de Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, respondeu que seu país "não conduz sua diplomacia por meio de ataques ad hominen (a indivíduos)". Já Stephen Harper, ex-primeiro-ministro do Canadá, declarou não entender a "obsessão" dos EUA com sua relação comercial com o país vizinho. Segundo Harper, o Canadá é o maior comprador individual do mundo de bens e serviços produzidos nos EUA.