Falta de dragagem em Rio Grande preocupa

Secretaria estadual dos Transportes projeta início das ações no porto gaúcho para o segundo semestre deste ano

Por Jefferson Klein

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Considerada uma das iniciativas mais importantes para a logística do Estado, a dragagem parcial do porto do Rio Grande recentemente teve o aval do Ibama para ir adiante. No entanto, ainda falta a liberação de verbas do governo federal para que isso aconteça. Apesar do secretário estadual dos Transportes, Humberto Canuso, prever que, neste segundo semestre, o dinheiro necessário para iniciar a obra seja concedido, representantes de terminais portuários receiam que essa questão possa se prolongar por mais tempo.
"Para a dragagem realmente sair, não basta ter discurso, a draga tem que estar em Rio Grande", adverte o diretor-presidente do Terminal de Contêineres (Tecon), Paulo Bertinetti. O executivo reitera que houve a liberação do Ibama, mas, agora, é preciso assinar o contrato, a ordem de serviço. Bertinetti salienta que, atualmente, os órgãos governamentais pensam mais de uma vez antes de liberar recursos para obras. O dirigente lamenta essa situação e ressalta que o Rio Grande do Sul é prejudicado com esse cenário.
O coordenador da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, diz que gostaria de ser otimista, entretanto, admite que não está entusiasmado com as perspectivas. Para o dirigente, a iniciativa privada vai ter que, cedo ou tarde, encontrar soluções para viabilizar as dragagens do porto do Rio Grande e da hidrovia gaúcha. Uma sugestão é implementar uma espécie de pedágio para os navios, pago para a empresa que fará a dragagem.
Os três dirigentes participaram, nesta quinta-feira, do Fórum Internacional de Infraestrutura e Logística, promovido pela Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul, no Hotel Plaza São Rafael. Na ocasião, o secretário dos Transportes comentou sobre a concessão de rodovias estaduais. Canuso acredita que seja possível realizar as privatizações também neste ano. Entre as estradas mais "maduras" para serem licitadas, conforme o secretário, estão a RSC-287 (Santa Maria-Tabaí) e a RSC-324 (na região de Passo Fundo, Marau e Nova Prata).
Outro empreendimento rodoviário mencionado durante o fórum foi a construção da segunda ponte sobre o Guaíba. Em sua palestra, o engenheiro da Construtora Queiróz Galvão Thiago Dias Pinto ressaltou que a estrutura já deverá estar apta para ser utilizada a partir de março de 2019. No entanto, ainda é necessário fazer 1.122 reassentamentos de famílias e comerciantes localizados nos arredores das obras. Se essa ação não for realizada, o empreendimento poderá avançar somente até 90% do seu total.
A extensão completa do complexo será de 12,3 quilômetros, e a previsão é de um tráfego de cerca de 50 mil veículos ao dia. O engenheiro diz que, como houve um momento em que o foco da obra era na industrialização de elementos pré-moldados, para o observador leigo, não foi possível perceber o avanço dos trabalhos. A segunda ponte do Guaíba absorverá 139.470 metros cúbicos de concreto, o que equivale a 25 edifícios de 15 andares cada um, e 21 mil toneladas de aço, o que representa duas torres Eiffel.

Naturovos planeja utilizar o terminal Santa Clara

Os problemas criados com a paralisação dos caminhoneiros fez com que os agentes logísticos buscassem outras opções ao transporte rodoviário. Uma alternativa que volta a ganhar força é o uso das hidrovias. Um exemplo prático disso é a empresa Naturovos, que pretende utilizar o terminal Santa Clara, em Triunfo, para escoar parte da sua produção.
O gerente comercial da Naturovos, Anderson Herbert, lembra que a empresa já usou, no passado, os serviços do terminal Santa Clara, mas, quando o complexo parou de operar com contêineres para o polo petroquímico receber etanol, a companhia deixou de aproveitar essa solução logística. Com a volta da atividade com contêineres na estrutura, a Naturovos também planeja retomar essa modalidade de transporte de cargas. O terminal fica a cerca de 40 quilômetros da unidade do grupo localizada em Salvador do Sul. A ideia é levar a mercadoria do complexo localizado em Triunfo até o porto do Rio Grande e dali até mercados internacionais, como Japão e Oriente Médio.
Sobre os impactos da greve de caminhoneiros, Herbert destaca que a Naturovos está mensurando o prejuízo, mas adianta que foi algo expressivo. A empresa perdeu um enorme volume de produção em função das aves terem ficado sem ração durante o período da paralisação. O executivo comenta que a companhia ainda não conseguiu retomar os padrões normais de produção e deve levar todo o mês de junho para esse patamar ser alcançado. O nível médio de produção da Naturovos é algo em torno de 45 milhões de ovos por mês.
Herbert recorda que, durante a greve, tiveram que ser doadas pela empresa 150 mil galinhas devido à falta de condições para alimentar as aves. O presidente da Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul, Marcus Coester, reforça que a greve dos caminhoneiros demonstrou a fragilidade estratégica da estrutura de transporte do País, absolutamente dependente do caminhão.
Com objetivo de fortalecer as potencialidades logísticas no Estado, a Câmara Brasil-Alemanha está promovendo o encontro de empresas e representantes do governo gaúcho com o grupo alemão Duisport. Coester adianta que o governo do Estado foi convidado pelo chairman da Duisport, Erich Staake, para conhecer o maior porto fluvial do mundo, às margens do Reno, em Duisburg. A intenção é que essa visita ocorra durante o EEBA 2018 - Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que se inicia em 24 de junho.