Casa Lutzenberger é reformada e reabre em março

Imóvel na rua Jacinto Gomes, em Porto Alegre, é sede da empresa Vida

Por Adriana Lampert

Casarão que abrigou três gerações da família Lutzenberger foi tombado há 10 anos pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre
O imóvel da sede administrativa da empresa Vida Produtos e Serviços em Desenvolvimento Ecológico, fundada pelo
Idealizada pelo ambientalista, a Vida oferece consultoria e serviços de reciclagem. Trata, por exemplo, os resíduos industriais da fábrica de celulose da CMPC, em Guaíba.

Imóvel foi projetado por arquiteto com grandes obras em Porto Alegre

No ano que marca duas décadas de falecimento do ambientalista José Lutzenberger, as filhas do ambientalista, Lara e Lili Lutzenberger, devem voltar ao casarão para seguir com o trabalho na empresa Vida, que, paralelamente tocam também em ações desenvolvidas pela ONG Fundação Gaia, criada ali pelo ecologista em 1987.
"A sede da Vida foi uma das primeiras casas a serem construídas na Jacinto Gomes, que antes se chamava rua Dona Tereza", destaca o diretor da Vida, Fernando Bergamin, que também é engenheiro agrônomo. "Para se ter uma ideia de como esta parte da cidade mudou, na década de 1940, as crianças pulavam as cercas das chácaras que haviam ali por volta, para ir pescar no Arroio Dilúvio, que era muito bonito antes de ser canalizado", comenta Bergamin.
"Manter a casa erguida e bem preservada é manter o espaço da minha infância, que é também o reduto de onde partiu a militância ambiental do meu pai e é o testemunho mais genuíno do legado arquitetônico de meu avô paterno", comenta Lara.
Imigrante alemão, "Lutzenberger Pai" assinou projetos de outras várias casas e prédios icônicos na Capital, a exemplo da sede do Pão dos Pobres, da Igreja São José, e do Palácio do Comércio. Em Porto Alegre, conheceu a futura esposa, com quem casou, e se radicou no País. Foi então que comprou dois terrenos, onde construiu o sobrado da família e manteve o jardim, que na verdade é pode ser chamado de "pequeno bosque" em meio à urbe.
"Quando Lutz faleceu a casa ficou cerca de 10 anos sem morador fixo, porque as filhas tinham suas residências. Foi somente em 2011, que elas resolveram fazer uma reforma geral da casa para servir de sede da Vida", conta o diretor da empresa. "Lara e Lili procuraram então a prefeitura, para solicitar o tombamento e garantir que no restauro fosse mantido o projeto assinado pelo avô".
Com a pandemia, a equipe que trabalha na sede da Vida migrou para o home office. "Aproveitamos que o prédio ficou vaziou para fazer obras de manutenção, porque já tínhamos a necessidade de fazer uma pintura interna na casa. Além disso, a fachada é muito antiga, e estava apresentando sinais de deterioração", explica o diretor da empresa.
Quem está tocando os trabalhos é a Engtech, responsável não só pela recuperação da fachada (que iniciou com uma limpeza feita por jateamento de água, seguida de restauro de trincas e rachaduras), como também pela recuperação de janelas antigas (que foram retiradas, lixadas e pintadas) e restauração das esquadrias do imóvel. "Foi um investimento de cerca de R$ 250 mil", calcula Bergamin.
Segundo Lara, a obra também ficou alguns meses parada por conta das restrições decretadas para conter o avanço do novo coronavírus, que dificultaram o trabalho de fornecedores e empreiteiros. "E agora estamos fazendo esses novos serviços de recuperação e adequações para proteger-nos do vandalismo."
Neste sentido, outra medida foi tomada para melhorar a segurança da casa. "Notamos uma fragilidade na altura do portão principal (que agora aumenta e passa um pouco mais para frente) e nas grades da frente (que estão sendo reforçadas no prédio anexo)", comenta o diretor da empresa. "Esperamos que até o final de fevereiro, esteja tudo pronto para remover os tapumes e reabrir o prédio em março, para voltarmos ao trabalho presencial, se a pandemia permitir."
Pesquisadora da vida de Lutzenberger, a professora de História e idealizadora do Canal Lutz Global no YouTube, Elenita Malta Pereira, observa a importância do tombamento e preservação do imóvel. "A casa guarda uma história importante, não só do modelo de arquitetura (Art déco, pré-moderno), mas também da trajetória do ambientalismo, uma vez que ali foram realizadas muitas reuniões em torno de questões importantes para a luta de Lutz, que foi reconhecido nacional e internacionalmente por isso."