Um Ricardo III contemporâneo na abertura do Porto Verão Alegre

'O inverno do nosso descontentamento' está em cartaz até 16 de janeiro

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O inverno do nosso descontentamento fica em cartaz até 16 de janeiro
Novo espetáculo dirigido por Luciano Alabarse, com atuação de Marcelo Ádams e Margarida Peixoto, O inverno do nosso descontentamento - Nosso Ricardo III marca, a partir desta quinta-feira (13), a abertura oficial da edição 2022 do Porto Verão Alegre. As entradas para a primeira sessão estão esgotadas, mas a peça fica em cartaz até domingo (16), sempre às 21h, no Teatro do CHC Santa Casa (avenida Independência, 75). Para todas as atrações do festival, a compra de ingressos é exclusivamente online, no site portoveraoalegre.com.br.
A palavra "nosso" no título do espetáculo frisa a liberdade com a qual a peça lida com o material histórico-mítico fornecido por Shakespeare, tornando uma tragédia criada no século XVI em um urro indignado sobre o século XXI. Além de reverenciar Ricardo III, um dos textos mais conhecidos do dramaturgo inglês, O inverno do nosso descontentamento celebra também 20 anos do Teatro ao Quadrado, além de marcar a volta de Luciano Alabarse como diretor teatral.
A obra, segundo Alabarse, renova sua "relação de entusiasmo" com a direção. Ele conta que foi um projeto discutido sem pressa, com todos imersos nas incertezas da pandemia, aproveitando o tempo de resguardo para amadurecer as metas da montagem, inclusive a principal delas: "retomar nosso trabalho apenas em condições presenciais".
O Ricardo da montagem é o vilão shakespeariano, mas não só. Como ele mesmo avisa, retrata em si, e para além de si, os tiranos genocidas de todos os séculos. Essa é a deixa para falar dos Ricardos que o sucederam. Não há truques nessas transformações do personagem: mudanças de corpo, voz e figurinos acontecem à frente do público, prescindindo o uso de ferramentas tecnológicas e se transformando, elas próprias, em elemento narrativo. 
Tratadas individualmente, a partir de rubricas iniciais genéricas, as cenas foram se imantando de forma surpreendente, segundo os realizadores. Trechos de outras peças de Shakespeare se impuseram, unindo-se a discussões e leituras sobre o teatro de Bertolt Brecht, Heiner Muller e Angélica Liddell, além de citações presidenciais e fatos da política brasileira. O cenário, com objetos cirúrgicos e hospitalares jogados em um lixão aleatório, serve como reforço de todas as doenças, físicas e psíquicas, do personagem.