Mostra documental retrata herança afro-açoriana cultural na Península do RS

Madir Chaves da Silva, o Rei do Congo, fala do ensaio de pagamento de promessa. Foto Felipe Janicek

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Rei do Congo (Madir Chaves da Silva) fala do ensaio de pagamento de promessa
Em Mostardas e Tavares, cidades da Península (no Litoral Médio do Estado, entre a Lagoa dos Patos e o Atlântico), destacam-se quatro manifestações culturais: o Ensaio de Pagamento de Promessa Quicumbi; os Ternos Juninos de Santos Padroeiros e de Reis; a Festa do Divino Espírito Santo e as Corridas de Cavalhadas.
O projeto Arte Encontro da Cultura Afro-Açoriana documentou essas tradições, em uma mostra audiovisual sobre os rituais de origem africana e luso-açoriana, revelando singularidades de personalidades e das expressões artístico-culturais da região. O material está disponível no site da Rota Açoriana.
Para marcar o lançamento do projeto, será realizada uma live nesta quinta-feira (29), às 20h, com a participação do músico e produtor cultural Marco Araújo e do agente cultural Ivo Ladislau. A transmissão ocorre pela página do Ponto de Cultura Coração de Tambor no Facebook.
Coração de Tambor é um Ponto de Cultura localizado em Tavares que tem como intenção manter viva a riquíssima cultura Quicumbi, manifestação única no Rio Grande do Sul e que há mais de 260 anos vem mantendo a realização de seus ensaios de pagamentos de promessas. Também tem seu foco na valorização da cultura açoriana praticada na Península.
A mostra virtual Arte Encontro da Cultura Afro-Açoriana consiste de apresentações musicais e palestras, reunindo personalidades culturais representativas da Península e do Litoral Norte do Estado. As gravações da programação artística ocorreram no Auditório José Mathias Velho, em Mostardas, nos dias 24 e 25 de março, sem a presença de público e dentro das normas de segurança estabelecidas pelo Estado e municípios envolvidos, conforme preconiza a OMS.

Personalidades do projeto

Entre as atrações da mostra virtual Arte Encontro da Cultura Afro-Açoriana, estão Ivan Terra & Grupo Folclórico Boizinho da Praia, de Cidreira; Loma & Grupo Chão de Areia; o cantor e compositor Marco Araujo & Banda; Marcello Caminha & Grupo e o músico e compositor Gilberto Oliveira com seu Trio. Prestigiando as expressões da terra, se apresentam o Terno de Reis da Comunidade Quilombola de Casca; a Banda Santo da Casa, os artistas tavarenses Zé Neto Souza e o Grupo de Terno Mirim da Escola Onofre Pires.
Outro documento importante do projeto consiste de palestras, com depoimentos e relatos de nome atuantes da cultura popular e da academia. Entre os depoentes, estão Antônio Lopes de Matos, conhecido como Mestre Zango, de Casca, que fala sobre ensaio de promessa e os ternos de reis; o Rei do Congo dos Teixeiras, o quicumbi Madir Chaves da Silva, que comenta o ensaio de pagamento de promessa na tradição quicumbi, e Jorge Paulo Martins Silveira, comandante dos corredores de Cavalhada de Tavares, que aborda a teatralidade deste grande evento folclórico, de tradição europeia, cuja encenação retrata a batalha entre Mouros e Cristãos.
Outra participação a salientar é a de Luiz Agnelo Chaves Martins, que evidencia o papel do tropeiro Cristovão Pereira de Abreu (1678-1755) e sua importância histórica e cultural. O pesquisador Ivo Ladislau, figura proeminente na região, aborda o conceito de afro-açorianidade na Península.
A presença negra no território é ressaltada pelo antropólogo Iosvaldyr Bitencourt Jr., que fala sobre os negros quanto à sua descendência banto e o surgimento das congadas. Seguindo este caminho, destaca-se a presença de Sandra Lopes da Silva, comentando sobre sua participação no auto do ensaio do pagamento de promessa quicumbi, das capelonas e suas rezas. Fala, ainda, da participação da mulher negra no quilombo e sua participação na sociedade.
Outro depoimento relevante é do maestro, compositor e arranjador Alessandro Ferreira, que comenta sobre a tradição da Banda Diplomata, de São José do Norte, uma das mais antigas do Estado. É digna de nota a palestra da historiadora Vera Barroso, de Santo Antônio da Patrulha, que evidencia a contribuição das diversas etnias na formação do Litoral Norte gaúcho.