Pedro Longes retorna ao RS depois de temporada no Chile

Lançado em série de sete singles, 'Sinestesias' marca volta do cantor e compositor

Por Igor Natusch

Lançado em série de sete singles, Sinestesias marca volta do cantor e compositor Pedro Longes ao Estado depois de temporada no Chile
Do mesmo modo que quem vai embora leva consigo algo de onde esteve, quem retorna para casa necessariamente volta de algum lugar. A jornada parece uma mas, na verdade, são múltiplas - e é dentro dessa reflexão sobre caminhos e caminhantes que se insere Sinestesias, trabalho que marca a volta do cantor e compositor Pedro Longes ao Rio Grande do Sul. Depois de quatro anos fora do Estado (a maior parte deles no Chile), o músico faz de seu trabalho autoral um processo análogo ao retorno para casa, lançando cada uma das sete canções como singles, entre janeiro e julho.
A primeira delas é Hermosa, em parceria com a cantora Anaadi, que estará disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (15). É uma canção mais antiga, registrada logo antes da viagem rumo à América do Sul - uma boa forma de marcar, de forma simbólica e sonora, o trajeto vivido pelo compositor. Para promover o lançamento, Longes realiza uma live nesta quinta-feira (14), a partir das 20h, com Anaadi como convidada. A transmissão acontece pelo perfil do músico no Instagram.
Nas próximas canções, haverá colaborações com Ana Clara Moltoni, Daniel Mueller e André Vicente (ver quadro), e as faixas também estarão disponíveis futuramente para compra, em download digital.
A jornada começou em 2015, logo após o lançamento do primeiro álbum de Pedro Longes, Conexión, que teve versões em português e espanhol. "O disco traz um diálogo entre a música brasileira e a cultura platina e, logo que foi publicado, eu senti que tinha que vivê-lo de uma forma mais intensa", comenta. Nisso, ele esteve na Argentina e no Uruguai, antes de aceitar um convite para morar e fazer música em Santiago, no Chile.
Enquanto esteve em solo chileno, Longes estudou composição e arranjo com o músico chileno Oscar Torres, além de cursar canto popular no Instituto ProJazz Chile e fazer apresentações com o Pedro Longes Trío. A principal realização, de qualquer modo, foi o segundo álbum de estúdio, dedicado à obra do compositor argentino Luís Alberto Spinetta. Em Longes canta Spinetta (2018), o gaúcho permitiu-se ousar nos arranjos, que ganharam um sabor mais próximo da música brasileira, e nas letras, que foram adaptadas poeticamente para o português - um trabalho que rendeu elogios na América Latina e recebeu a aprovação dos familiares de Spinetta, falecido em 2012. "É o disco de um brasileiro, com músicos chilenos, relendo composições de um argentino. Às vezes, penso que foi uma loucura ter feito isso", ri Longes. "Não são covers, mas uma reconstrução a partir do meu ponto de vista, e acho que essa era a melhor forma de homenagear o Spinetta, que era um músico tão livre de amarras. Foi um processo que certamente refletiu muito no Sinestesias, fez com que me sentisse mais confiante e seguro das sonoridades que quero alcançar."
Apesar de lançadas separadamente, as canções de Sinestesias são um conjunto, unidas em conceito e estética. As capas, extraídas de gravuras da artista chilena Natalia Babarovic, dão coesão visual ao trabalho, dialogando com fotos de Luis Ferreirah e pinturas do próprio Pedro Longes. Musicalmente, a conversa estética continua, com arranjos minimalistas em torno de piano, violão e voz - além de letras que tratam, por diferentes ângulos, da transformação inerente à existência humana. "A pessoa que escutar os sete singles vai perceber que fazem parte da mesma proposta", assegura Longes. "Penso o Sinestesias como um álbum, a única diferença é que ele é lançado em partes, se adaptando a um formato que está funcionando melhor hoje em dia."
Um moldar-se aos ouvintes do presente que - e isso Longes faz questão de frisar - não tem nenhuma disposição de tornar o material mais fácil ou comercial. "Em nenhum momento faço uma concessão para uma música de mercado, uma poesia mais do mesmo. É uma tentativa minha de conversar com esse formato (do single) e de, por meio dele, chamar as pessoas para escutar esse tipo de música e poesia em que acredito. E estou desfrutando disso também. É uma descoberta, não tenho um sentimento de 'bem, as pessoas querem assim, é o único jeito que posso fazer'", garante.
O retorno, tanto em Sinestesias quanto na vida de Longes, está em andamento. Devido às restrições da pandemia, o compositor ainda não pode saborear plenamente essa volta - algo que vai acontecer mais tarde, no tempo certo. "É uma escolha de vida e de com quem se quer falar", diz. "Sentia alguma dificuldade no Chile, às vezes, porque as pessoas queriam me ouvir, estavam abertas a isso, mas eu queria cantar coisas que escrevi em português, dizer coisas em português para as pessoas do Rio Grande do Sul e do Brasil. O contato com uma língua vizinha tão próxima acabou reforçando meu encantamento com a língua portuguesa. Que bom que querem me ouvir no Chile, na Argentina e no Uruguai, mas a vontade é de seguir a carreira aqui."

As sete etapas de 'Sinestesias'

15/01 - Hermosa (com Anaadi)
05/02 - Lares quebrados (com Ana Clara Moltoni)
05/03 - Samba erudito 
02/04 - Nós hemos de ir 
07/05 - Tema para Natalia 
04/06 - Cavalos no quarto (com Daniel Mueller)
02/07 - Valsa em solidão (com André Vicente)
Mais informações: instagram.com/pedrolonges