Não ao obscurantismo: espetáculo faz alerta contra violência e intolerância

'Antes que a definitiva noite se espalhe em Latino América' tem colhido elogios desde que estreou

Por Cristiano Vieira

Antes que a definitiva noite se espalhe em Latino América tem colhido elogios desde que estreou
São apenas 63 ingressos por noite para uma peça que, somada ao rápido intervalo, chega a duas horas e meia de duração. No pequeno palco, quatro atores dão vida a textos inéditos de autores contemporâneos sobre o Brasil e a América Latina. Mais novo trabalho do diretor Felipe Hirsch, Antes que a definitiva noite se espalhe em Latino América tem colhido elogios desde que estreou, em 10 de janeiro passado, no Oi Futuro Flamengo, do Rio de Janeiro.
Debora Bloch, Guilherme Weber, Jefferson Schroeder e Renata Gaspar estão no elenco da montagem. A partir do convite de Hirsch, autores brasileiros e do exterior contribuíram com suas visões a respeito da contemporaneidade da América Latina.
O resultado é um intenso espetáculo no qual alertas contra a violência, a repressão, a censura, o machismo e a homofobia, entre outras chagas, ganham voz na interpretação precisa do elenco.
Difícil sair incólume do teatro, sem questionar o mundo atual. "Vivemos uma época triste de demonização do trabalho do artista e da arte. O obscurantismo parece estender seu manto repressivo sobre o Brasil e seus vizinhos", avisa Guilherme Weber.
A "definitiva noite" do título refere-se justamente a um cerceamento político-social cada vez mais presente no Brasil e em países como a Venezuela e o México, imersos em crise política e ondas de violência.
A América Latina esteve presente nos últimos trabalhos de Hirsch, seja no longa-metragem Severina (2017), rodado no Uruguai com atores argentinos, ou nos espetáculos A tragédia latino-americana, A comédia latino-americana (2016) e Democracia (2018), desenvolvido especialmente para a última edição do festival Santiago a Mil, no Chile.
Weber conta que, inicialmente, o espetáculo teria outro formato e texto, mas tudo mudou após a reconfiguração das forças políticas no Brasil a partir do último resultado eleitoral. "Fomos literalmente atropelados pelo Brasil e sentimos necessidade de reconstruir o espetáculo", relata.
Roberto Guimarães, gerente executivo de cultura do Oi Futuro, concorda. "Estamos diante de uma obra que atravessa a história. O que estamos vendo agora mudou muito. Como nosso País, como o mundo", explica.

A voz da periferia no projeto Interferências 19

No final de janeiro, espaços públicos da capital carioca foram palco para nova edição do projeto Interferências, realizado pelo Oi Kabum! Lab - local de formação e desenvolvimento de coletivos jovens das periferias cariocas.
Para o Interferências 19, cerca de 50 artistas ocuparam a cidade com 15 criações multilinguagens envolvendo design, projeção mapeada, animações, ensaios fotográficos, curtas e minidocs em vídeo, grafite, sensores interativos, instalações, performances e shows.
Entre os trabalhos de destaque, a execução de cinco jovens com 111 tiros no subúrbio de Costa Barros, ocorrido em 2015, foi o estopim do projeto 111 , que projeta imagens oníricas sobre uma performance corporal ao som de versos de rap, e exibe depoimentos reais e encenados de familiares das vítimas. O número se refere ao total de tiros disparados contra os cinco rapazes.
O registro das apresentações de rua, making of, instalações e performances farão parte da exposição Interferências 19 no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, sede do Oi Kabum! Lab, no Centro do Rio de Janeiro.
Com entrada franca, a exposição poderá ser visitada a partir de 15 de fevereiro. Mais informações em http://oikabumrio.org.br.