Pioneira na TV, no rádio e no teatro, Ivette Brandalise volta com programa pela internet

Ícone do rádio e da televisão no Rio Grande do Sul, Ivette Brandalise consolidou sua carreira como jornalista, mas é também psicóloga, atriz e escritora

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Um dos grandes nomes do jornalismo gaúcho, Ivette Brandalise também é atriz e psicóloga
O ano é da década de 1990, e a voz que se ouve do rádio é de um escritor. Com a voz grave, a jornalista pergunta: "Tu achas que neste momento aqui no Brasil estamos fazendo poesia? Boa ou má poesia?". "Acho que estão fazendo uma coisa que não tem nada a ver com poesia. Estão fazendo prosa mal escrita", responde Mario Quintana. O trecho é de uma entrevista realizada por Ivette Brandalise com o escritor gaúcho no programa As músicas que fizeram a sua cabeça, da FM Cultura, emissora pública de rádio do Estado.
A fórmula do programa não começou com Ivette nem foi desenvolvida por ela, mas qualquer pessoa que a ouve custa a acreditar que não tenha sido criado para a entrevistadora. Ivette parece ter um talento que, se não é nato, foi conquistado com muito apuro.
Ícone do rádio e da televisão no Rio Grande do Sul, Ivette Brandalise consolidou sua carreira como jornalista, mas é também psicóloga, atriz e escritora, além de possuir formação em Ciências Sociais. Dos seus 80 anos de vida, completados no dia 7 de janeiro - no papel, tendo em vista que ela relata que foi registrada com a data de nascimento incorreta e, portanto, completou 79 anos -, pelo menos 30 deram vazão à sua vertente de entrevistadora e mais de 50 são dedicados ao jornalismo. Começou jovem e, aos 36 anos, na segunda metade dos anos 1970, já experimentava o sucesso e a perseguição da ditadura.
Teve passagens marcantes e outras duradouras pela TV Gaúcha, pelo Diário de Notícias, Folha de Manhã, TV Difusora e TV Guaíba. No final dos anos 1980, ingressou na TVE, onde liderou, por mais de 20 anos, o programa Primeira Pessoa, em que colocava seus entrevistados a "conjugar verbos na primeira pessoa". Na FM Cultura também seguiu na entrevista para contar histórias, conduzindo o semanal As músicas que fizeram sua cabeça até meados de 2018, quando foi dispensada pela Fundação Piratini. Agora, volta ao ar pela rádio web Salve Sintonia, projeto do coletivo de profissionais que possuem, em comum, passagens pela FM Cultura. De pioneira na TV e no rádio, a experiente jornalista migra agora para as ondas da web, na qual também busca deixar sua marca e contribuição.
Pioneira, por sinal, é uma palavra que se repete na boca de vários especialistas e admiradores do trabalho de Ivette.
Parte desse pioneirismo aparece em seu trabalho como jornalista, mas também no de atriz. A provocação para atuar partiu do lendário ator e jornalista Antonio Abujamra, diretor do Teatro Universitário entre 1955 e 1958, que ela encontrou na Pucrs. Na universidade, Ivette integrou a primeira turma do curso de Arte Dramática e, na sequência, participou do Teatro de Comédia, atividade que a obrigou a abandonar os estudos temporariamente.
A escolha pelo palco trouxe problemas para Ivette, tendo em vista que a saída de Videiras, sua cidade natal em Santa Catarina, estava relacionada à tarefa de estudar Química. O objetivo era dar continuidade aos negócios do pai, que mantinha na cidade um frigorífico que daria origem à empresa Perdigão. Contrariando os desejos da família, que a sustentava, ela insistiu na carreira e ingressou no Teatro de Equipe.
Marco cultural de Porto Alegre, o grupo inaugurou o teatro profissional e conseguiu envolver artistas de manifestações culturais diversas no projeto e na realização de um teatro próprio, que se tornou centro cultural e espaço de encontro da boemia. Além de Ivette, Paulo José, Mário Almeida, Paulo César Peréio, Ítala Nandi, Lilian Lemmertz e Nilda Maria compuseram o grupo e o elenco dos espetáculos.
No Teatro de Equipe, Ivette participou das montagens de A farsa da esposa perfeita, de Edi Lima; Pedro Mico, de Antonio Callado; e O despacho, de Mario de Almeida - esta última uma sátira política, considerada uma das obras encenadas mais conectadas com o contexto político, que refletia a agitação resultante da renúncia de Jânio Quadros à presidência da República e a consequente Campanha da Legalidade protagonizada por Leonel Brizola em prol da posse de João Goulart.
Enquanto fazia história no teatro, Ivette encontrou a penúria, já que o pai havia parado de enviar dinheiro à estudante. Passou, então, a viver com um salário-mínimo graças à atuação como atriz. Após o fim do Teatro de Equipe, Ivette foi menos vista na sua faceta de atriz. Sua atuação mais recente no cinema foi no longa de 2008 Netto e o domador de cavalos, de Tabajara Ruas.

Do rádio à TV, uma profissional completa

Em 1962, Ivette Brandalise assumiu uma página feminina no Diário de Notícias. Assim, se tornou uma das raras cronistas no Estado, função que conquistou com ousadia após ouvir que o único cronista do Brasil era Rubem Braga. "Respondi: vão ter dois", conta Ivette. No Caderno de Sábado do Correio do Povo, que circulou entre 1967 e 1981 como suplemento cultural do jornal, era uma das únicas mulheres entre os colaboradores. "Eu era estudante do Instituto de Educação, depois também do Julinho (Colégio Júlio de Castilhos), e lembro de recortar as crônicas da Ivette Brandalise do jornal que o meu pai comprava. Gostava muito de ler as crônicas de Ivette e certamente me influenciaram. A minha primeira profissão é redatora, sempre fui metida a escrever e o estilo dela e o fato de ela ser uma mulher assinando uma coluna eram para mim incríveis", relata a também jornalista, radialista e apresentadora Katia Suman, que releu o material quando revirou seus arquivos para compor o livro Katia Suman e os diários secretos da Ipanema FM (Besouro Box, 2018).
Ivette tentou integrar a equipe de reportagem de rua da rádio Farroupilha, mas foi recusada, pois "disseram que não ficaria bem uma mulher subindo e descendo de uma Kombi". A convite da jornalista Celia Ribeiro, ingressou no programa Revista da Semana na TV Piratini, onde permaneceu até 1964, ano em que foi convidada a participar do telejornal Show de Notícias, na TV Gaúcha.
O programa era baseado no programa Vanguarda, da TV Excelsior do Rio de Janeiro, liderado pelo icônico escritor e radialista Stanislaw Ponte Preta. No quadro que deu grande projeção a Ivette, ela lia comentários escritos por Lauro Schirmer, Ibsen Pinheiro, Carlos Bastos e Werner Becker.
"Eram comentários críticos e sarcásticos. Ivette interpretava muito bem, ela atuava já no teatro e o texto parecia que era dela", lembra Bastos. Apesar de não escrever os textos, a fama de ser uma pessoa ácida seguiu acompanhando a jornalista.
Sem necessitar de redatores, no final dos anos 1960 foi contratada pela Rádio Guaíba, veículo em que apresentava uma crônica diária e, posteriormente, o programa Cinco minutos com Ivette Brandalise, que durou 19 anos. Foi em meados dos anos 1970 que Ivette considera que teve sua fase de mais popularidade e prestígio. Ela escrevia duas crônicas diárias, uma na TV Guaíba e outra na Folha da Manhã, além de participar de telejornais.
O tom crítico lhe rendeu problemas com a repressão da ditadura nos anos 1970, especialmente na TV Difusora e na Bandeirantes, emissoras nas quais tornou-se alvo da censura e foi demitida. Na ocasião, Ivette considerou que o então prefeito Guilherme Socias Villela poderia ter sido quem pediu sua demissão, mas depois soube que havia sido um integrante do governo estadual. Ela, no entanto, não revela o nome de seu algoz. "A pessoa está morta e não pode se defender", conta.
Na Rádio Guaíba, ela relata que a censura, muitas vezes, vinha mais dos editores do que do próprio jornal, pois achavam perigosos alguns temas que a comentarista abordava. "Aprendi a falar nas entrelinhas", relembra ela, "e sem citar o nome das autoridades", relatando que recebeu dicas dos agentes quando tornou-se frequentadora do posto da Polícia Federal na avenida Paraná, por conta de seus comentários na TV. "Eles reclamavam até do meu olhar."
Ivette também acionou o próprio Breno Caldas, proprietário da empresa Caldas Júnior, para que impedisse a censura contra os seus textos. "Os editores achavam que eu estava ousada e não queriam se responsabilizar. Pedi ao Breno Caldas que ele próprio usasse sua caneta verde nos meus textos e nunca mais tive problema", orgulha-se.

Com o Primeira Pessoa, o contato direto com a fonte

Ivette trabalhou na TVE a partir de 1987, permanecendo no ar com alguns intervalos até 2017 - virou sua marca o programa de entrevistas Primeira Pessoa. Na FM Cultura esteve desde sua inauguração em 1989, com o programa As músicas que fizeram sua cabeça até 2018. Seu desligamento das emissoras coincidiu com o processo de extinção da Fundação Piratini, que gerenciava as emissoras públicas.
O professor da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Ufrgs Flávio Porcello acompanha o trabalho de Ivette desde os anos 1960. "Eu era um jovem jornalista, recém-formado pela Fabico, e comecei na profissão prestando atenção nos comentários políticos que Ivette fazia em rádio, TV e jornal. Mulher falando em política era coisa inédita e, falando com precisão e objetividade, era mais raro ainda. As poucas mulheres que falavam nos veículos de comunicação tratavam de receitas culinárias e decoração da casa", rememora.
Para Porcello, que compôs com a pesquisadora Laura Campos um estudo sobre Ivette para a obra Perfis da comunicação: trajetórias profissionais no Rio Grande do Sul (Insular, 2018), Ivette influenciou o jornalismo praticado por toda uma geração, que a percebe como um paradigma de qualidade. "Influenciou o meu trabalho e o da minha geração de jornalistas dos anos 1970. Uma das grandes lições que Ivette nos deu foi a de saber ouvir. Aprendi com ela a falar o mínimo necessário na pergunta para que a resposta do entrevistado venha completa e precisa. Repórter está ali para perguntar, questionar, fiscalizar o poder e denunciar. Vai sofrer pressões: Claro que sim. Vai desistir? Claro que não", postula.
Também professor da Fabico, Luiz Artur Ferraretto descreve a técnica de Ivette como a de entrevista de personalidade, favorável para a construção de perfis. "O estilo de Ivette é de deixar a pessoa à vontade e transformar a entrevista, que é quase um inquérito para alguns, em uma conversa que é acompanhada por alguém de fora. É como se estivéssemos em um bar, ela e o entrevistado na mesa, e algumas pessoas circulando na rua, que é o público e pode se interessar pela linha de pensamento". Ainda segundo Ferraretto, Ivette respeita o entrevistado, evitando se colocar como dona da verdade e praticando o "jornalismo com humanidade".
Ivette resistiu a ser entrevistada no Primeira Pessoa em 2014. A troca de cadeiras foi organizada pela produção da TVE, em ocasião de uma programação especial, alusiva aos 40 anos da emissora pública.
Acostumada a jogar o holofote sobre os outros, Ivette mostrou-se muito tensa e emocionada quando a colega de profissão e também experiente entrevistadora Tania Carvalho aceitou a tarefa de fazer Ivette conjugar verbos em primeira pessoa. "Ela levou um susto. Não aceitou muito na hora. Mas depois foi muito legal", recorda Tania. "Ivette é brilhante, adorava ouvi-la na Guaíba e comprava a Folha para lê-la, assim como li seu livro de crônicas. Sou fãzoca."

Convidados célebres

Os programas de que Ivette participou são caros às pesquisas sobre imprensa e história. "É um bom panorama de memória do Estado", avalia Jaqueline Chala.
Entre os convidados, nomes como Cyro Martins, Alice Ruiz, Frei Betto, Helena Jobim, Ignácio de Loyola Brandão e Barbosa Lessa. Da área política, um dos destaques foi o ex-prefeito de Porto Alegre Sereno Chaise, que concedeu entrevista a Ivette veiculada em abril de 2007 - programa reprisado uma década depois, em junho de 2017, quando Chaise morreu. Com frequência, entrevistas que Ivette conduzia eram reprisadas logo após a morte de alguma personalidade, mostrando a capacidade do Primeira Pessoa estar atento ao seu tempo. Foi assim, por exemplo, com o ambientalista José Lutzenberger, falecido em 2002 e entrevistado em 1995.
Ivette chegou ainda à bancada do Roda Viva, da TV Cultura, em janeiro de 1989, para juntar-se ao grupo que sabatinou a então ministra do Trabalho, Dorothea Werneck, durante entrevista sobre o Plano Verão do governo José Sarney. A mesma desenvoltura com que falava de poesia era percebida ao falar de economia, citando a necessidade de negociações entre governo e entidades que representavam os trabalhadores.

Mestre na técnica de entrevistar

A entrevista parece estar na moda, vide a profusão de programas que utilizam a estrutura de um pergunta outro responde como mote. Se antes eram espaços vigiados por jornalistas, agora são liderados por comediantes e explorados nas redes por youtubers. A quantidade, como diz o ditado, não é qualidade, e poucos são aqueles que obtém o resultado perseguido por Ivette Brandalise. "Ela é uma pessoa inteligente, e também por conta da sua formação em Psicologia, tem um jeito de entrevistar que faz as pessoas falarem. Segue por outro viés. Realmente é uma mestre na arte de entrevistar", analisa Katia Suman.
Não raro, no entanto, há quem se intimide com o estilo de Ivette, considerando agressivo ou pessoal demais. Houve quem relutasse e até fugisse de participar de uma conversa que não é ensaiada. Geralmente uma pré-entrevista é feita com um produtor, que sinaliza à Ivette informações mais genéricas sobre a trajetória do convidado. No entanto, como Ivette vai conduzir o bate-papo e por que caminhos ela decidirá seguir é uma outra história, que ela define na hora, muitas vezes surpreendendo o entrevistado e deliciando a equipe. "O que me ajudou foi a Psicologia, saber escutar. Não trabalho com ponto (aparelho auditivo em que um produtor de TV costuma dar orientações para apresentadores). Prestar atenção, saber escutar e ter a preocupação de escutar. Vou pegando a deixa e não tenho pergunta feita. Às vezes, as pessoas se autodefendem. Então deixo que os ouvintes percebam que está passando uma imagem", revela.
Especialistas nas dificuldades para fazer uma entrevista resultar em interação entre entrevistado e entrevistador, jornalistas de diferentes gerações reconhecem o talento de Ivette. "Ela tem vocação para a comunicação. É uma entrevistadora formidável. Foi a primeira mulher a ter um quadro e conseguiu a permanência mesmo quando era tão difícil de a mulher se destacar, por ser um meio machista e conservador", avalia Benedito Saldanha, jornalista e pesquisador, autor de As radialistas, que traça perfis de diversas profissionais do rádio, entre elas Ivette.
Saldanha enfatiza que a apresentadora merece diversas homenagens por sua trajetória na comunicação. Entre as já recebidas, está a Medalha Alberto André concedida pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI).

Relação intensa com as palavras

Menos conhecida como escritora do que como jornalista, Ivette possui uma relação intensa com as palavras. Com o conto, aparece em Antologia de contistas bissextos, organizada pelo mestre Sergio Faraco (L&PM, 2007); Contos de algibeira (Casa Verde, 2007); e Contos de bolsa (Casa Verde, 2006) organizados pela escritora Laís Chaffe; e Contos comprimidos (Casa Verde, 2008), organizado pelo médico e escritor Fernando Neubarth. "Chamou atenção o humor afiado dos minicontos da Ivette, também presente nas crônicas", conta Laís Chaffe.
"Tenho cuidado com o ritmo e procuro estar sempre informada sobre tudo", enfatiza Ivette, citando Rubem Braga e Paulo Mendes Campos como suas inspirações. Na literatura, organizou ainda Cidade e crônica (Prefeitura de Porto Alegre/Xerox do Brasil/Câmara do Livro, 1997) e Cronicando (Mais Que Nada, 2009), resultado da reunião de textos que seus alunos produziram em suas oficinas de crônicas. A escritora Valesca de Assis relembra, encantada, da sua participação na primeira oficina ministrada por Ivette, em 1999. "Acompanho a Ivette desde que eu era adolescente, na política estudantil, na época da Legalidade. Não a conhecia pessoalmente nessa época, mas sabia do papel relevante que ela, Milton (Mattos, marido da jornalista) e outros intelectuais tiveram, não só durante a Legalidade, mas depois de 1964. Eram modelos", contextualiza. "Mais tarde, fui aluna de sua Oficina de Crônicas na Biblioteca Pública Josué Guimarães, do Centro Municipal de Cultura. Ela é meu exemplo como oficineira: mostrar tudo, dizer tudo, corrigir tudo, mas com muito respeito e afeto", afirma Valesca.
A única obra solo de Ivette é Posso falar com você (IEL, 1979), que está esgotada. Na obra, ela adianta temas hoje candentes, como a culpa das mães. Os filhos de Ivette e Mattos, André e Felipe, cresceram em meio às dificuldades da jornalista em manter as tarefas de mãe e as de profissional qualificada entre os anos 1970 e 1990. Mesmo com motoristas, empregadas domésticas e babás, ainda assim era difícil acumular os papéis. "Dormia pouquíssimo e, às vezes, levava as crianças para a rádio para gravar", conta.
Rubem Penz conheceu a obra cronística de Ivette por intermédio de Valesca de Assis e usa as orientações da cronista em suas aulas. "Levo adiante o esmero, a coragem e a clareza como lições", diz, contando ainda que Ivette foi madrinha do quinto livro oriundo de sua oficina literária, intitulado Santa Sede: crônicas de botequim (Buqui, 2004). "O que ela pode ensinar? Tudo, pois é grande mestre no ramo", conclui Penz.

O retorno nas ondas da internet

Ivette Brandalise achava que sua carreira no jornalismo havia acabado com a demissão da rádio e a extinção da Fundação Piratini. "O mercado para o jornalista está um horror. O jornalista é muito explorado e estamos mal de veículos", lamenta. A saída era seguir na clínica, atuando como psicóloga - completou a formação pela Ufrgs em 1976 -, atendendo adultos e casais. "Eu preciso de trabalho. Não tenho hobby, meu hobby é o trabalho", diz, acrescentando que seu melhor papel é o de avó de Eduardo.
Contudo, recentemente, a carreira de jornalista ganhou novo respiro com o convite do coletivo Salve Sintonia. "A ideia era meio óbvia, a gente sempre pensou nela, no Demétrio Xavier e no Paulinho Moreira (todos tiveram os programas dispensados pela gestão da FM Cultura em 2018). Era natural que convidássemos essas pessoas para retomarem seus programas, consagrados, de altíssima qualidade, com público cativo; e únicos. Tudo a ver com o que a gente acredita. Quando ela topou (participar do coletivo), eu dava pulos e ria sozinho em casa", recorda o jornalista e radialista José Fernando Cardoso, que produz o programa de Ivette na Salve Sintonia ao lado do produtor cultural Márcio Gobatto.
Ivette praticamente não vê TV, sendo mais interessada em rádio. Ainda está se acostumando com as emissoras on-line e podcasts, que ganham cada vez mais espaço em um mercado gigante como é o on-line. "A audiência ainda é pequena, mas me sinto prestigiada. Sei que vai crescer e que os patrocínios vão começar a chegar", acredita.
José Fernando enfatiza que "para cada pessoa que a gente liga dizendo 'a Ivette quer te entrevistar', a reação é a melhor possível". Ela é mestre em entrevistar, um assombro, faz miséria: sabe ouvir - coisa rara hoje em dia, não só entre os profissionais da comunicação - e a hora certa de puxar aquele gancho necessário, que faz o link do que o cara está dizendo com determinada música. Tem o timing perfeito do negócio. É um enorme prazer ouvir não só os entrevistados - e os caras se abrem naturalmente, tu percebes que se estabelece naturalmente uma relação de confiança com ela -, mas a própria Ivette. Ela dá show".
 

Fernanda Bastos é jornalista e escritora, autora de Dessa cor (2018). Trabalhou no Jornal do Comércio, na FM Cultura, foi repórter e apresentadora na TVE. Atualmente, é sócia da Editora Figura de Linguagem e servidora pública estadual.