Projeto leva placas solares a duas escolas do Morro da Cruz, na Capital

Iniciativa em Porto Alegre instalou biodigestores e é financiada com recursos do Google

Por

Escola Judith Macedo de Araújo foi contemplada com o equipamento
Duas escolas municipais no Morro da Cruz, em Porto Alegre, receberam em julho placas fotovoltaicas que captam a luz solar para a produção de energia elétrica. Dados preliminares indicam que a mudança pode gerar economia de 70% na conta de luz. Nos próximos meses, será apresentado um relatório e a expectativa é alcançar a prova de conceito de que investir na implantação de energia solar representa economia financeira.
A iniciativa integra o projeto Morro da Cruz Circular, contemplado em outubro passado com recurso internacional do Action Fund, uma colaboração entre a Rede de Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei) e o Google.org, braço filantrópico da empresa de tecnologia.
Um dos méritos do projeto é "trabalhar a emergência climática no local", destaca Tânia Pires, do Centro de Inteligência Urbana de Porto Alegre (CIUPOA), ONG à frente do trabalho. Os estudos utilizam os dados e colaboram com a ferramenta online Environmental Insights Explorer (EIE), do Google, que mapeia a emissão de gases de efeito estufa de transportes e de edificações e o potencial dos imóveis para captar energia solar.
Para cumprir com a proposta, a ONG conta com parceiros como a empresa ViaVerde Energia, que instalou as placas solares e também biodigestores (equipamento que transforma matéria orgânica, como restos de alimentos, em biogás de cozinha e em fertilizante líquido para o jardim) nas escolas Judith Macedo de Araújo e Morro da Cruz e no CTG local.
O aproveitamento dos dados ficará na comunidade, aponta Daniely Votto, uma das consultoras à frente do projeto. Essa "replicabilidade" também é destacada por Rodrigo Corradi, secretário-executivo adjunto do Iclei América do Sul, como um dos objetivos com o financiamento. Até o fim do ano serão apresentados dados sobre os investimentos e o impacto ambiental gerado, com recomendação para que a ação seja reproduzida, pelo poder público, em outras escolas.
Aliás, está entre as propostas do financiamento do Google.org convencer os tomadores de decisão a estabelecer metas de gestão relacionadas ao planejamento climático. Para servirem de exemplo, as escolas e o CTG serão transformados em "hubs de economia circular e zero emissão".
Na semana passada, representantes do Iclei e da prefeitura de Porto Alegre visitaram as instalações das placas e dos biodigestores. O município não tem participação direta no projeto, mas, por ser associado do Iclei, foi responsável por incluir Porto Alegre como uma das duas cidades aptas a candidatar propostas, por entidades sem relação com o governo. A outra cidade brasileira contemplada é Curitiba.
Ainda assim, a prefeitura participou da escolha das duas iniciativas que receberam o recurso. O outro projeto em andamento é desenvolvido pelo Centro Brasil no Clima, que se vale dos dados disponíveis na plataforma EIE e levanta novos indicadores para apontar para a transição energética do transporte público.
Gabriel Pabst, um dos pesquisadores envolvidos, explica que o estudo inclui mapear as externalidades do combustível fóssil, utilizado hoje nos ônibus, em outras políticas públicas. Um exemplo é na saúde, já que a poluição é associada a casos de problemas respiratórios. Neste exemplo, o tratamento de saúde gera custos ao município que podem ser evitados num cenário com menos poluição. Ao fim do estudo, a proposta é mostrar que compensa aos cofres públicos - e também à qualidade de vida - eletrificar a frota de ônibus.

Setor de transporte é o maior emissor de gases de efeito estufa

O setor de transporte é, aliás, o maior emissor de gases de efeito estufa, em Porto Alegre, responsável por 67,7% das emissões em 2019. Em segundo lugar, com 23% das emissões, aparecem as fontes de energia estacionária (queima de combustíveis em edifícios residenciais, comerciais e institucionais). Na sequência aparecem o setor de resíduos, com 8,8%, e agricultura, florestas e uso do solo, com 0,5%.
Os dados fazem parte do 2º Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa de Porto Alegre, desenvolvido pela empresa WayCarbon em parceria com a Ecofinance Negócios e a rede de Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei). O relatório aponta que as emissões diminuíram em média 5% entre os anos 2016 (1º Inventário) e 2019. Apresentado no dia 12, o estudo é considerado a primeira entrega técnica do Plano Diretor, já que foi produzido a partir de um edital por meio da parceria entre a prefeitura e o PNUD para a revisão da lei.