Um olhar materno sobre a humanidade ferida

O ser humano quando padece alguma enfermidade ou passa por alguma tribulação agradece profundamente quando encontra alguém em seu caminho com um olhar de amor, compaixão e solidário com o seu sofrer

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Dom Aparecido Donizeti, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
O ser humano quando padece alguma enfermidade ou passa por alguma tribulação agradece profundamente quando encontra alguém em seu caminho com um olhar de amor, compaixão e solidário com o seu sofrer. Não lhe agrada um olhar de cobrança, julgamento e muito menos condenatório. E é neste sentido que se pode pensar no olhar de uma mãe para com seu filho. Quando este passa por alguma provação ou sofrimento normalmente a mãe sofre junto e, se pudesse, assumiria o sofrimento no lugar de seu filho. Isso se explica e se entende a partir do amor que, quando verdadeiro, leva ao esquecimento de si mesmo para pensar e viver mais em prol do outro.
É a partir deste amor presente em uma mãe, marcado pela alteridade, generosidade e gratuidade, que o pensamento se volta à jovem escolhida para ser a Mãe do Salvador. Maria, a jovem de Nazaré, foi envolvida em um plano de amor que vai além de qualquer compreensão humana. Deus ao visitar Maria por meio do Anjo Gabriel lhe revela que foi a escolhida dentre todas as mulheres para ser a Mãe do Messias, do próprio Filho de Deus. A noticia foi tão extraordinária que Maria ficou até perturbada com as palavras do Anjo. Mas este lhe acalma o coração dizendo: “Não temas Maria! Encontrastes graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus” (Lc 1,30). Maria, verdadeiramente é a agraciada por Deus e, por meio dela, também toda a humanidade pode e deve alegrar-se pela chegada do Salvador.
Da mesma forma que Deus olhou para a jovem de Nazaré com profundo amor também encontrou nela um olhar acolhedor e carregado do mesmo amor. Foi no amor e pelo amor que Maria aceitou ser a Mãe do Salvador. No amor ela gerou o Filho de Deus. Com amor cuidou e acompanhou Jesus durante toda sua vida. Esteve presente junto ao mesmo também no sofrimento, na paixão e morte de cruz. E foi justamente quando Jesus estava crucificado que “ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo a quem amava, disse à mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis tua mãe!’. Diante desta imagem pode-se afirmar: Foi por amor à humanidade toda que Jesus na cruz deu sua mãe para ser a mãe do discípulo amado.
Assim sendo, neste discípulo amado, todo ser humano pode se identificar. Todo ser humano pode ter a certeza que Maria o acolhe como filho amado e, como mãe, continua presente no hoje, cuidando e zelando por cada um com amor maternal. E se certamente ela acolhe, ama e acompanha a todos, o seu olhar deve ser todos especial para os que mais sofrem e padecem no mundo de hoje. E não são poucas as realidades de sofrimentos. O sofrimento hoje está presente tanto na humanidade como também na chamada “Casa Comum”.
Contudo, como afirma o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si, o ser humano pode ter esta certeza: “Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido. Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora. Se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano” (n. 241).Por fim, que Deus seja louvado e glorificado por essa preciosa mãe que tem seu olhar voltado para toda humanidade e se compadece de todos. Mãe que continua da mesma forma que fez no casamento em Caná da Galileia, intercedendo por todos junto a seu Filho Jesus Cristo de modo que a paz, a alegria e a harmonia nas famílias, na sociedade e na Casa Comum sejam restauradas no hoje de nossa história.