A volta de Sira, dando conta de tudo

Por Jaime Cimenti

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O aclamado romance O tempo entre costuras, da consagrada professora e escritora espanhola María Dueñas, encantou crítica e público, foi publicado em muitos países e originou a premiada série de TV em 2013, sucesso na Espanha e no Brasil. Duenãs também é autora dos livros As filhas do capitão e Destino: La templanza.
Sira (Editora Planeta, 480 páginas, R$ 69,90) é a esperada continuação de O tempo entre costuras e foi lançado com tiragem inicial de 500 mil exemplares. Em Sira, vemos novamente a poderosa mulher forte, submetida a desgraças na Guerra Civil Espanhola e, depois, na Segunda Guerra Mundial, que encontra e até muda caminhos de personagens históricos reais como Evita Perón.
A densa e envolvente narrativa se passa em Jerusalém, Londres, Madri e Tânger e, no final da Segunda Guerra Mundial, Sira enfrenta lágrimas e reencontros, compromissos arriscados, sentimentos profundos e a marcante e definitiva experiência da maternidade. Sira nasceu de uma viagem da autora a Tânger, cidade que ela considera como seu refúgio.
Apesar de ter vivido na década de 1940, a personagem é uma mulher muito contemporânea que está empenhada em continuar a progredir na vida paralelamente à criação do filho. Depois de ter atuado no Serviço Secreto Britânico e de seguir sua atividade de costureira, Sira planejava um lugar um paz para criar o filho. Mas um trágico acontecimento modifica seu destino.
No retorno narrado pelo romance, Sira não é mais apenas uma jovem costureira inocente e vai, com todas as suas forças inabaláveis, tornar-se uma verdadeira mulher e fazer o que for preciso para atingir seus objetivos, dando conta de vida, trabalho, maternidade e muito mais. Em rota de fuga, para conquistar o que pretende, ela correrá riscos inimagináveis.
Como se vê, um romance histórico que retrata o reerguimento do mundo depois da Segunda Guerra e o crescimento e amadurecimento de Sira, personagem que já tinha marcado milhões e milhões de leitores e espectadores.

O impacto dos ativismos na pós-modernidade

Todos sabemos que, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, nos universos das mídias e nos meios acadêmicos, de modo especial, disseminaram-se crenças e ativismos envolvendo temas políticos, sexuais, de costumes e outros, que de uns anos para cá passaram a ser pensados e, em alguns casos, revisados, em torno de muitas polêmica e reflexões sobre o que é científico e o que não é.
Teorias Cínicas - Como a academia e o ativismo tornam raça, gênero e identidade o centro de tudo - e por que isso prejudica a todos (Avis Rara, 288 páginas, R$ 54,90), de Helen Pluckrose e James Lindsay, obra lançada em 2020 em Nova York, best-seller e agora publicada entre nós, justamente está aí para ajudar a muitas pessoas perplexas com a onda de guerra de justiça social que transbordou do ambiente acadêmico e inundou outras esferas da vida.
Helen Pluckrose, escritora britânica, editora da revista Areo Magazine, escreveu muitos ensaios sobre pós-modernismo, teoria crítica, liberalismo, secularismo e feminismo. James Lindsay escritor, matemático e comentarista político, escreveu seis livros sobre temas como religião, filosofia da ciência e teoria pós-moderna.
Os dois discutem se a ciência é sexista, se certas pessoas devem ou não praticar ioga ou cozinhar comida chinesa e se ser obeso é saudável, entre outras questões atuais. Os autores questionam sobre a existência de sexo biológico e se só os brancos é que podem ser racistas, entre outros temas e crenças "anti-iluministas" que atualmente estão aí, proliferando, ameaçando não somente a democracia liberal como também a própria modernidade.
Claro que os autores reconhecem a necessidade de desafiar o conceito de que não vivemos numa sociedade totalmente justa, mas procuram analisar e mostrar como tantos estudos ativistas, frequentemente radicais, prejudicam justamente os grupos que afirmam defender. O tema evidentemente é polêmico, mas deve ser enfrentado, num mundo globalizado, complexo e que necessita de respostas para questões sociais, políticas, econômicas e temas de costumes que estão aí desafiando os atarantados cidadãos de um tempo sem fronteiras definidas, sem referências duradouras, com discussões cansativas e intermináveis sobre uma infinidade de tópicos.
Em síntese, o que pretendem os autores, com base em análise histórica, pesquisas, documentos e, através de uma linguagem clara, é demonstrar se os estudos sobre minorias têm realmente beneficiado os integrantes das referidas minorias, em pautas como ciência, linguagem, apropriação cultural, sexismo, questões de gênero, obesidade e racismo, entre outros.
Para os autores, as respostas para as questões apresentadas não são novas e elas apontam, de modo geral, soluções de natureza liberal. Novamente, é uma colocação polêmica, mas que deve ser levada em conta.
 

a propósito...

Teorias Cínicas, como se constata, apresenta o histórico de posições ativistas, especialmente no mundo acadêmico, mas, notadamente nas páginas finais, apresenta exemplos práticos e soluções quanto à indefinição de fronteiras do pós-modernismo, o poder da linguagem, o relativismo cultural e a perda do individual e do universal. Os autores tratam das "militâncias erradas" e mostram como as pessoas podem defender uma causa válida de forma errada. É possível que exista uma maneira subjetiva de analisar cientificamente os mesmos dados? Será que o cinismo contaminou o engajamento social? Perguntam os autores, entre outros tantos questionamentos. Enfim, um livro interessante para tentar entender, principalmente, a priorização de causas em detrimento do compromisso científico.

Lançamentos

Divina Rima - Um diálogo com a Divina Comédia, de Dante Alighieri (Editora Sulina, 151 páginas, R$ 59,90), do médico e escritor Gilberto Schwartsmann, com ilustrações de Zorávia Bettiol e prefácio de Antonio Carlos Secchin, inspirada no clássico italiano, escrita em tercetos, é um agradável convite para ao leitor para que leia A Divina Comédia.
O Homem do Casaco Vermelho (Editora Rocco, 272 páginas, R$ 79,90), do celebrado inglês Julian Barnes, narra a chegada de três franceses em Londres, em 1885. Um era príncipe, outro conde e o terceiro um plebeu que fora o tema de um dos maiores retratos do pintor John Singer Sargent. Barnes trata de arte, vida e Belle Époque com elegância e talento.
Catorze Camelos para o Ceará (Editora Todavia, R$ 74,90, 288 páginas), do consagrado jornalista gaúcho Delmo Moreira, narra a história da primeira expedição científica brasileira. Catorze camelos vieram da Argélia para a expedição dos membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, impulsionados pelo espírito científico de D. Pedro II.