Semelhanças e diferenças

O que há de semelhante entre Rogério Favreto e Marco Aurélio Mello? pergunta uma voz, na terça-feira, quase noite, nos corredores da OAB gaúcha

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O que há de semelhante entre Rogério Favreto e Marco Aurélio Mello? pergunta uma voz, na terça-feira, quase noite, nos corredores da OAB gaúcha.
A semelhança, entre ambos, é a ferrenha convicção político-partidária da necessidade de soltura do ex-presidente Lula (PT) responde o segundo integrante da roda.
E a diferença? pergunta um dirigente que se acerca.
Os dois primeiros coincidem na resposta uníssona:
A novela escrita por Favreto durou um domingo quase inteiro, teve vários personagens gaúchos e paranaenses e envolveu até gente que estava em férias. Já o breve enredo de glória rascunhado por Marco Aurélio morreu cinco horas e meia depois num canetaço de Dias Toffoli.
Não há controvérsias.
 

Em nenhum país do mundo...

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao requerer a suspensão da liminar proferida, sustentou que a decisão de Marco Aurélio "teria o efeito imediato de permitir a soltura, talvez irreversível, de milhares de presos com condenação proferida por tribunal". Além de ferir o princípio da colegialidade, a medida poderia gerar triplo retrocesso: a) para o sistema de precedentes incorporado ao sistema jurídico; b) para a persecução penal, que voltaria aos processos penais infindáveis, recursos protelatórios e penas massivamente prescritas; c) para a própria credibilidade na Justiça, com a volta da sensação de impunidade.
A procuradora lembrou observação da então ministra do STF Ellen Gracie, em 2005: "Em país nenhum do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa, aguardando referendo da Corte Suprema".
No pedido acolhido por Toffoli, a procuradora Dodge também menciona estudo sobre o tratamento dado ao tema por países como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Portugal, Espanha e Argentina. Conclusão: "A quase totalidade da comunidade internacional - incluindo países pioneiros na positivação e reconhecimento dos direitos fundamentais - interpreta a presunção de inocência de modo a compatibilizá-la com a necessidade de efetividade estatal na resposta ao crime".

Romance forense: A 'Menina Veneno'

É dezembro de 2016. Bem vivido, bom de bolso graças à consistente aposentadoria recheada de interessantes penduricalhos, o destacado ex-operador jurídico, viúvo, boa pinta - se é que isso é possível para um cidadão com 70 anos de idade - afinal sai com uma moça escultural, bem malhada, 24 anos. De comum entre eles, só o Direito.
Ele segredara aos amigos sua imaginação: "Seria uma 'Menina Veneno' - com letras maiúsculas - amadora nos embates de Eros, e honrada iniciante das lides do Direito".
Os dois vão a um restaurante cinco estrelas.
Depois de um opíparo jantar com o melhor vinho da carta, eles acabam no mais envolvente motel da cidade, um duplex com piscina, hidro e solarium (como se o último item fosse necessário para as delícias da madrugada).
Ele já tinha dado a ela antes, claro, uma joia e um vestido de grife.
Descansando após mais "umazinha" (viva a pílula azul!), os dois se aconchegam e - meio que preparando novo bote - ela pergunta:
Benzinho, eu estou saindo muito cara pra você?
O jurista responde na hora:
Meu amor, na minha idade não tem jeito. Ou a mulher é cara ou é coroa!
No dia seguinte, via motoboy, o douto cidadão despacha para ela - em envelope fechado - um cheque de valor desconhecido, acompanhado de um cartão:
"Menina veneno,
O mundo é pequeno demais pra nós dois.
Em toda cama que eu durmo
Só dá você, só dá você!"
Fevereiro de 2017, por uma dessas irreversíveis páginas da vida - talvez uma consequência da pílula azul - o jurista parte da vida terrena para os eflúvios celestiais.
Dezembro de 2018, um dia desses, a "Menina Veneno" é vista depositando flores de saudade no túmulo de um dos cemitérios da Azenha.
Se vivo estivesse, seria a data natalícia do provecto e saudoso homem.
 

Agilidade em vão

Os defensores de Lula foram pródigos em agilidade. Passavam apenas 45 minutos desde o momento (14h03min) em que o ministro Marco Aurélio surpreendeu a nação com a notícia da liminar - para que um pedido em prol do ex-presidente da República fosse protocolado na 12ª Vara Federal Criminal de Curitiba às 14h48min de quarta-feira.
Ao cabo de dez laudas de peroração jurídica, a petição solicitava a expedição imediata do alvará de soltura do preso mais famoso deste país. A juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal, logo passou adiante a "batata quente". Despachou com "vista ao Ministério Público Federal".

Agora férias

O colunista anuncia, aqui, o início do seu descanso a que todos os trabalhadores têm direito. Junto com a mensagem de melhores votos para 2019, fica o convite para o reencontro no ano que vem.
Em férias a partir da próxima quarta-feira, estaremos esperando os leitores desta página, para os habituais encontros bissemanais, a partir da sexta-feira 1 de fevereiro de 2019. Até lá! Aproveitem o verão!

Ciúme entre os 'astros'

"Marco Aurélio mandou soltar todo o mundo e Gilmar ficou arrasado de ciúmes."
(Da "rádio-corredor" do Conselho Federal da OAB-RS, quarta-feira, às 17h, antes de Dias Toffoli ter acabado com a zorra).

Ironias do destino

Os meandros jurídicos têm dessas coisas. Coube justo a Dias Toffoli - amigo querido de Lula, que o fez famoso - manter o ex-presidente da República recluso em Curitiba, no Natal, Ano-Novo, restante do verão e início do outono. O fundamento jurídico foi o de "evitar grave lesão à ordem e à segurança públicas". O quadro institucional fica assim pelo menos até 10 de abril. Em tal data, o plenário do STF volta a debater o julgamento após a prisão de segunda instância.

Estatística (1)

Cerca de 169 mil pessoas poderiam ser libertadas nos próximos dias se a liminar de Marco Aurélio tivesse sido mantida. Favoreceria muitos criminosos contumazes (especialmente traficantes, assassinos e ladrões), mas notadamente 166 mil pobres, anônimos, menos aquinhoados, assistidos pela Defensoria Pública ou por advogados de pouca ou nenhuma notoriedade.

Estatística (2)

Segundo o cérebro da Lava Jato em Curitiba, 21 dos 35 artífices do colarinho branco que estão presos em decorrência das operações e decisões que notabilizaram Sérgio Moro seriam favorecidos pelo canetaço (bem-pensado...) de Marco Aurélio Mello.
Todos defendidos por alguns dos advogados mais bem pagos deste país.