Missão e migração

Outubro nos fez recordar uma dimensão essencial do cristão que é ser missionário

Por JC

Dom Adilson Pedro Busin, cs., bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
Outubro nos fez recordar uma dimensão essencial do cristão que é ser missionário. A Igreja é missionária. Mulheres e homens que em nome do Senhor e por Ele sentindo-se chamados, deixam tudo para anunciá-Lo ao mundo. Muitos expõem sua vida na perseguição ou vivem um verdadeiro despojamento para abraçar outros povos e culturas. "Bem-aventurados os pés dos mensageiros da paz".
No evangelho do domingo (dia 28) está a passagem do cego Bartimeu que suplica ao Senhor: "Mestre, que eu veja". Disse-lhe Jesus: "Vai a tua fé te curou!" Ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho" (Jo 10, 52). Há três atitudes fundamentais para quem quer viver uma verdadeira fé em Jesus Cristo: Querer! Buscar! E ser seguidor! O cristão não pode supor que já vê tudo. Tampouco resignar-se ou deixar-se dissuadir por aqueles que não querem que você veja, como a multidão tentou com Bartimeu. É preciso querer ver e buscar o Senhor. O cristão, uma vez que encontrou Jesus, põe-se a segui-lo. Diz o evangelho: "seguia Jesus pelo caminho". Há muitos que uma vez recebida uma graça ou, por ter longos anos na Igreja, acham-se no direito de "mandar no Senhor". O bom cristão é quem se coloca no caminho e segue o Mestre. É preciso cuidado para não inverter os papéis. Há muitos que não vendo, se fazem de guias e usam Deus para manter as trevas sobre si e sobre os demais. Na fé, somos todos aprendizes dEle. A humildade de Bartimeu nos coloca na busca contínua da luz. Discípulos no caminho.
O discipulado traz intrinsecamente a missão. Os discípulos anunciaram o Senhor. Neste mês acontece em Roma o Sínodo da Juventude. O Papa Francisco quer uma igreja que escute e favoreça os jovens como protagonistas da evangelização. Eles são portadores da esperança e mensageiros da fé em nosso tempo. Os jovens são também eles missionários, nas diversas realidades em que se encontram. Os jovens esperam que a Igreja aponte caminhos. Mas eles também apontam para onde a Igreja deve caminhar.
Igreja discípula está em caminho e em missão. Uma realidade particular do campo de missão dos jovens, é o mundo da migração. Estive até poucos dias na Austrália visitando as comunidades de língua portuguesa e os hispano-americanos. Há milhares de jovens neste país. Talvez você que agora lê este artigo diga: "Eu também tenho parentes por lá". Não seria novidade. São muitos. Foram como migrantes a trabalho ou para estudar. Eles são a Igreja de migrantes jovens. Dão novo impulso àquela Igreja. São leigos e leigas missionários. Vão como migrantes, mas carregam na bagagem a fé. Continuam a seguir o Senhor que encontram aqui no Brasil ou nas Américas. Assim como Bartimeu, "seguem Jesus pelo caminho". A migração que em si é uma busca de dias melhores e um futuro menos doloroso, pode trazer muitas dificuldades resumidas na palavra "saudade". Há dor na migração. Mas na dor se mistura a fé que muitos a partilham formando comunidades como tenho encontrado. Os migrantes, jovens na sua maioria, se tornam então missionários. Não partiram enviados por alguém, mas o desejo de ver e seguir Jesus os torna, pelo batismo, mensageiros do evangelho. Quem bom. A migração se torna para muitos uma oportunidade de viverem e testemunharem sua fé.
Que Deus derrame luz sobre nosso Brasil neste momento. Que seja garantido o Estado democrático de direito. Que a justiça e a paz se aliem ao bem do trabalho e do pão para todos. No manto de N. Sra. Aparecida, Deus abençoe nosso Brasil.