Alta nos custos pode levar transportadoras ao colapso

Muitas empresas evitam repassar custos para não perder os clientes

Por Vinicius Appel

Associações não veem ambiente para paralisação de caminhoneiros
Os reajustes no preço de caminhões e de semirreboques, assim como do óleo diesel, considerado o principal insumo para o veículo se locomover, têm afetado diretamente o setor de transporte rodoviário de cargas. A situação piorou e algumas empresas podem até mesmo falir. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do RS (Setcergs), em 2019 as empresas pagavam cerca de R$ 500 mil pelo conjunto de caminhão zero quilômetro e a carroceria. Hoje, o mesmo conjunto custa R$ 750 mil, um aumento de 50%.
A compra de pneus também tem sido um problema para o setor. Falta de estoque e ausência de um preço fixo estão entre as dificuldades enfrentadas. O diretor comercial da Tomasi Logística e vice-presidente de transportes do Setcergs, Diego Tomasi, informa que os pneus de um caminhão precisam ser trocados, em média, a cada três meses. O tempo pode variar conforme a distância percorrida pelo veículo.
De acordo com Tomasi, os pneus tiveram um aumento de preço médio de 35% entre 2020 e 2021. Fornecedores do produto comunicam que o valor pode sofrer alterações na semana da entrega em razão da taxa cambial e do preço do petróleo. O gerente comercial e de logística da Dinon Transportes, Marcelo Dinon, afirma que o pneu é o segundo maior custo da transportadora e comenta que a falta de um preço fixo remete ao início da década de 1990, quando muitos produtos tinham seus preços atualizados constantemente.
Com o aumento nos gastos, cresce a necessidade de repassar os novos custos ao valor do frete. De acordo com Dinon, o óleo diesel representa de 30% a 50% do custo de uma operação de transporte. O valor varia conforme o tamanho e o consumo do caminhão, bem como o caminho que ele fará para transportar a carga
Em comunicado oficial, o Setcergs destacou que os cinco reajustes no preço do combustível em 2021 resultaram na necessidade de incrementar 16,6% ao preço final do frete. Mas o repasse dos custos não tem sido tarefa simples para os transportadores.
O presidente do Setcergs, Sérgio Mário Gabardo, explica que a incerteza econômica trazida pela pandemia fez com que os contratantes de frete utilizassem menos o serviço. Com isso, empresas de transporte e logística costumam aceitar o trabalho sem repassar os reajustes. "A gente se obriga a ir por qualquer valor porque espera que amanhã melhore", afirma Gabardo.
Preocupado com a possibilidade de que as empresas do setor não consigam se manter ativas, Gabardo encaminhou aos governos federal e estadual um pedido por mais vacinas contra a Covid-19. A justificativa é que o aumento no número de pessoas imunizadas pode trazer a confiança para que empresas voltem a investir.
O presidente do Setcergs afirma que a vacinação é apenas um dos fatores que poderiam contribuir para uma retomada do setor e sugere que os governos se sentem junto aos transportadores para entender as demandas. "Faz horas que temos dificuldade para sermos ouvidos", relata.

Paralisação de transportadores é descartada pelo setor, que quer dialogar com o poder público para reduzir custo de insumos

Um dos caminhos a serem seguidos para melhorar a situação das empresas é o diálogo com governantes para tentar reduzir o custo dos insumos, aponta o diretor comercial da Tomasi Logística e vice-presidente de transportes do Setcergs, Diego Tomasi.
Para ele, este não é o momento adequado para uma paralisação, que poderia causar mais prejuízos do que trazer benefícios. Tomasi entende que há fases a serem vencidas antes de uma manifestação deste tipo. Para o dirigente, o melhor caminho é contar com o bom senso de todos na procura por uma solução para esse momento.
O presidente do Setcergs, Sérgio Mário Gabardo, também descarta a possibilidade de paralisação de transportadores neste momento. Ele afirma que os profissionais estão preocupados com a situação da população e querem colaborar durante a pandemia.
O gerente comercial e de logística da Dinon Transportes, Marcelo Dinon, compartilha da mesma ideia, mas relembra que os caminhoneiros autônomos passam por uma situação delicada, com cenário comparável ao de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros. Para ele, a melhor forma de resolver a situação é através do diálogo. "A gente está pressionado, esmagado, precisamos conversar", comenta.
Considerando a situação extremamente preocupante, Dinon afirma que o momento é para sentar com os clientes e sensibilizá-los de que os transportadores não podem continuar trabalhando sem repassar os custos. Para ele, o ideal seria que houvesse um acordo para que o frete fosse reajustado a cada 30 dias.
 

Empresas alertam que prejuízos acumulados estão 'esticando a corda'

Caso as negociações entre transportadoras e clientes não surtam efeito, o acúmulo de prejuízo por parte das empresas pode levar a um colapso do setor. É o que teme o gerente comercial e de logística da Dinon Transportes, Marcelo Dinon, ao comentar que os prejuízos estão "espichando a corda".
Segundo o executivo, chegará o momento em que "ela para de espichar ou arrebenta". O pior dos casos representaria o fechamento de muitas empresas transportadoras.
Sobre a possibilidade de empresas irem à falência, Dinon alerta que pode ser ruim com o reajuste no preço do frete, mas que seria pior sem as transportadoras operando. Ele afirma que o transporte é responsável por colocar os produtos na mão do consumidor. "Nós somos um setor muito importante e precisamos que exista essa sensibilização por parte das entidades de governo e por parte dos nossos clientes", conclui.
O diretor comercial da Tomasi Logística e vice-presidente de transportes do Setcergs, Diego Tomasi, explica que algumas empresas já estão repassando o custo dos insumos para o preço do frete e reconhece que a diferença pode ser paga pelo consumidor final, já que, segundo ele, 60% do que é transportado no país é feito por transporte rodoviário.
Para a Tomasi Logística, o repasse se trata de uma necessidade para manter as operações viáveis, já que houve redução no volume de carga. O diretor comercial da empresa, assim como o gerente da Dinon Transportes, acredita que os preços dos insumos continuarão subindo nos próximos meses. "O transportador está sofrendo muito, o momento é delicado", comenta Tomasi.
 

Transportadores pedem atenção das autoridades para as peculiaridades da atividade

O gerente comercial e de logística da Dinon Transportes, Marcelo Dinon, explica que o transporte rodoviário de cargas é um setor que tem inúmeras variáveis exclusivas.
Uma delas é a falta de controle sobre alguns fatores. Como exemplo, Dinon cita o acidente em que um caminhão de combustível explodiu sobre uma ponte na BR-386, em Estrela, no último dia 13.
Segundo ele, o fato fez com que a distância do trajeto entre Lajeado e Porto Alegre aumentasse de 200 para 300 quilômetros, mas o preço do frete permaneceu o mesmo.
O presidente do Setcergs, Sérgio Mário Gabardo, comenta que muitos caminhões não puderam utilizar os desvios porque as empresas que embarcam as cargas não possuíam a Autorização Especial de Trânsito (AET), licença obrigatória para veículos de carga com dimensões e ou peso excedentes.
Gabardo avisa que, em razão da pandemia, está difícil retirar a licença e sugere uma AET definitiva para evitar situações semelhantes.
O representante sindical também destaca que o setor precisa ser ouvido pelo governo estadual. Para ele, uma conversa com as transportadoras para questionar como o trajeto seria feito com o fechamento da ponte deveria estar entre as primeiras ações do governo após o acidente. "O transportador é esquecido", lamenta.