Setor aéreo sofrerá ao menos até 2023

Segundo estudo da consultoria Bain & Company, maior parte da frota global de aviões está parada por causa do fechamento de fronteiras

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Fabricantes de aeronaves de grande porte devem sentir mais, caso da Airbus, que reduziu produção em um terço
O setor aéreo, um dos mais afetados pela crise causada pela pandemia da covid-19, deve sofrer impactos negativos em sua cadeia pelo menos até o fim de 2023, segundo a consultoria Bain & Company. Hoje, a maior parte da frota global de aviões está parada por causa do fechamento de fronteiras e das medidas de distanciamento social.
Segundo o estudo da Bain, fabricantes de aeronaves devem registrar uma queda significativa em suas produções nos próximos cinco anos. No caso das companhias aéreas, a demanda global só deve voltar ao patamar pré-coronavírus em meados de 2022, isso considerando que a crise seja moderada.
Para as fabricantes, a consultoria prevê uma situação mais difícil no segmento de aeronaves de grande porte (com dois corredores), que deve retomar o nível pré-crise em dezembro de 2023. Entre os aviões menores (de um único corredor), a projeção é de recuperação a partir de novembro de 2021.
Até agora, a Airbus, por exemplo, reduziu sua produção em um terço. Segundo a companhia, não é possível afirmar quando o nível pré-covid-19 será retomado. A empresa reconhece que o segmento de aviões de grande porte sofrerá mais, mas lembra que modelos de um corredor e com alcance internacional, segmento em que é líder, devem se recuperar mais rápido.
O estudo da consultoria aponta também que, com a crise, 35% da frota global de aeronaves ainda deverá estar parada no fim deste ano, e que o cancelamento de encomendas de aviões pode chegar a 20% mesmo com os governos ajudando as aéreas. A Gol, por exemplo, anunciou na semana passada que, em meio a uma negociação com a Boeing para ser compensada pelo atraso na entrega de aviões 737 MAX, reduziu suas encomendas de 129 jatos para 95.
A Bain & Company indica ainda que o novo cenário econômico favorecerá a manutenção de aeronaves antigas no mercado, prejudicando empresas como Embraer, Boeing e Airbus. A fabricante brasileira de aviões é uma das que lançou recentemente uma nova família de jatos, cuja principal vantagem é gastar menos combustível. O problema, segundo a Bain, é que aeronaves mais econômicas deixam de ser tão atraentes para as empresas aéreas quando o preço do petróleo está em baixa, como acontece agora.
Outro fator que não favorece as fabricantes no momento é que deve crescer o número de aviões disponíveis no mercado secundário. Isso fará com que os preços dos jatos usados sejam mais vantajosos quando comparados com os novos.
Menos pessimista que a Bain, o banco UBS prevê neste ano uma queda de 16% na produção da Boeing e da Airbus. A americana deve fabricar 490 unidades, enquanto a europeia, 860, aponta relatório do banco. O UBS, porém, prevê que as antigas estimativas de produção que tinha para o setor sejam atingidas apenas em 2023.

Demanda global por voos pode ter queda de 70% em junho e chegar a 55% neste ano

As companhias aéreas devem ter um cenário tão complexo quanto para as fabricantes, segundo estudo da consultoria Bain & Company. A queda na demanda global por voos deve atingir 70% em junho e ficar entre 40% e 55% neste ano. O número está em linha com estimativas da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata), que prevê recuo de 55% na receita com passageiros.
No caso das empresas aéreas que operam na América Latina, a Bain espera que a demanda por voos domésticos retorne ao nível que se tinha antes da crise apenas no início do segundo semestre de 2022. Para voos internacionais, isso não ocorrerá antes de junho de 2024.
Segundo André Castellini, sócio da consultoria, além dos impactos da crise econômica e do fechamento de fronteiras, mudanças nos hábitos do consumidor devem reduzir a procura por voos no futuro. "O segmento corporativo pode ficar mais restritivo para viagens após experimentar um uso maior das videoconferências", explica.
O consultor dá a própria empresa como exemplo. Hoje, quando profissionais são recrutados no exterior, um deles vai até o local para fazer a seleção. "Isso deve mudar. Talvez, a primeira fase passe a ser por vídeo."
Esse cenário de recuperação a partir do segundo semestre de 2022 considera que a crise vai ser moderada. Caso ela se prolongue e as mudanças no hábito do consumidor sejam profundas, a retomada seria ainda mais tarde.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, diz, no entanto, não ser possível prever quando a recuperação deve ocorrer, dado que dólar e combustível estão muito voláteis.
Também é imprevisível, segundo ele, saber como será o comportamento das pessoas quando o pior da crise passar. "Só posso dizer que o setor vai se recuperar, como e em quanto tempo são especulações." Até agora, a demanda doméstica no Brasil recuou 90%,e a internacional, perto de 100%.

CNA pede suspensão de adicional de frete para renovação da marinha mercante

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) solicitou ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, a suspensão temporária do Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) cobrado na importação de fertilizantes e defensivos durante o período que durarem as medidas de combate à pandemia de Covid-19.
O ofício assinado pelo presidente da CNA, João Martins, ressalta que a crise gerada pelo novo coronavírus está influenciando a atividade agropecuária, dificultando a comercialização para os produtores, além de ocasionar queda nos preços de seus produtos e intensa desvalorização cambial, que encarece os insumos utilizados na produção.
Uma das taxas do AFRMM é de 25% sobre navegações de longa distância, o que encarece o preço destes dois insumos, responsáveis por 30% a 50% dos custos da produção agrícola. Martins acredita que a suspensão do AFRMM por 180 dias ou enquanto vigorar o decreto que define a agropecuária como atividade essencial durante a pandemia contribuirá para minimizar os aumentos de custo de produção.