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Monetização é desafio para apps de relacionamento se reinventarem, diz líder do Match Latam
A Covid-19 deixou muitas marcas e aprendizados. Uma delas foi o avanço da digitalização das empresas e do amadurecimento dos consumidores para o uso de serviços on-line. E nos relacionamentos? Para a diretora presidente do Match Latam, Eugênia Del Vigna, a pandemia fez as pessoas repensarem seus valores e perceber a importância de ter um parceiro com afinidades e valores em comum. "E isso é algo, que, definitivamente, os aplicativos de relacionamento, graças à tecnologia e algoritmos, podem ajudar", analisa. Ela está à frente da operação Latam do Match Group, líder mundial no mercado de dating, com escritórios em 20 países e possui cerca de 45 marcas diferentes. Na América Latina, está presente com Tinder, Par Perfeito, OurTime, Divino Amor e Match.com. Só no Brasil, são mais de 40 milhões de usuários cadastrados. A monetização, porém, ainda segue sendo o grande desafio dos apps e sites de relacionamentos. "Aqui no Brasil e na América Latina, a internet e os serviços online ainda são, muitas vezes, percebidos como algo que precisa ser gratuito. Mas, isso está mudando, principalmente devido às adesões a serviços de streaming de música e de vídeo, que ajudam a disseminar a cultura de pagar por produtos online de maior qualidade", analisa Eugênia.
Empresas & Negócios - Como tem sido o desafio de liderar a Match Group na América Latina, uma região que, como sabemos, costuma ser muito engajada nos apps de relacionamento?
Eugênia Del Vigna - A América Latina, em especial Brasil, México e Argentina, é uma das regiões que mais cresce em tamanho de mercado e em número de usuários ativos em diversas categorias de aplicativos, inclusive nos apps de relacionamento. É uma honra poder liderar um mercado tão dinâmico e promissor. O Brasil ocupa atualmente a 5ª posição no mercado global de dating no que chamamos de Total Addressable Market (TAM), atrás da China, Índia, Estados Unidos e Japão. Já em número de usuários ativos, somos o 2º principal mercado do mundo. O México também é bastante relevante na região - ocupa a 10ª posição em mercado potencial. Sete dos 30 principais países em TAM estão na América Latina.
E&N - Como todo esse interesse se reflete nos números e evidencia o propósito dos apps?
Eugênia - No Brasil, somente a marca Par Perfeito já conta com mais de 40 milhões de usuários desde a sua criação, em 2000. Por mês, recebemos em média de 300 mil a 350 mil usuários novos; já nos períodos de pico, como junho (Namorados) e janeiro (Ano Novo), esse número pode chegar a 450 mil pessoas. No mundo todo, o Match Group fechou 2021 com um total de 16 milhões de usuários assinantes - sem contar aqueles que usam as versões gratuitas. Nossos apps foram baixados mais de 750 milhões de vezes. São números que impressionam, mas o que acho mais incrível é o que está por trás desses números: nossa capacidade de conectar pessoas através da tecnologia e ajudá-las a encontrar o tipo de relacionamento que buscam. É um trabalho que junta propósito com resultados. A gente muda a vida de milhares de pessoas diariamente, ajudando-as a encontrarem um par. Recebemos depoimentos de casais que se conheceram nos apps e hoje formam famílias, e que fazem questão de dividir conosco os momentos marcantes, desde noivado e casamento, até o nascimento dos filhos frutos da relação que começou no app.
E&N - Que tipo de conexões as pessoas estão buscando hoje em dia nos aplicativos?
Eugênia - Depende do perfil do app, pois cada um acaba sendo direcionado para um posicionamento diferente. No Par Perfeito, por exemplo, 80% dos usuários buscam um relacionamento sério. Em média, são formados pela plataforma entre 2,5 mil a 3 mil novos casais por mês. Do total de pessoas que deixam o site por mês, 25% declaram que o motivo foi ter encontrado um par no app. A maioria dos usuários cadastrados no Par Perfeito (76%) possui idade entre 25 e 50 anos e está nas capitais. Atualmente, 41% são mulheres e 59% homens.
E&N - Quais os maiores desafios atualmente dos apps de relacionamento?
Eugênia - A monetização. Nossa receita vem principalmente das assinaturas dos serviços, porém, aqui no Brasil e na América Latina, a internet e os serviços online ainda são, muitas vezes, percebidos como algo que precisa ser gratuito. E as pessoas têm resistência em pagar. Mas isso está mudando, principalmente devido às adesões a serviços de streaming de música e de vídeo, que ajudam a disseminar a cultura de pagar por produtos online de maior qualidade. A opção que o usuário tem para conhecer outras pessoas é, por exemplo ir a uma balada ou bar, onde irá gastar com carro, com bebida, ou seja, muito mais para talvez conhecer alguém legal. Já nos aplicativos, a conexão é mais assertiva, pois, através da tecnologia, conseguimos entender o perfil, afinidades e valores em comum e colocar essas pessoas mais próximas umas das outras.
E&N - Qual foi o reflexo da pandemia neste perfil de negócio?
Eugênia - Tivemos um aumento de 150% no número de usuários ativos diariamente na plataforma, além de mais de 70% em novos usuários, mais de 20% no tempo médio gasto no aplicativo e site, e incremento de 15% no volume de mensagens trocadas. Chegamos à marca de mais de 40 milhões de usuários cadastrados somente na plataforma brasileira do grupo. E a tendência de crescimento continua. Somente em janeiro deste ano, a média diária de atividades no uso do aplicativo dobrou em comparação aos meses anteriores. A maioria das atividades ocorre entre 19h e 22h, com pico de atividade por volta das 21h, e os principais dias são domingos e às quartas. Uma questão curiosa é que usuários que compartilham seu status de vacinação nos nossos aplicativos recebem em média 30% mais correspondências do que aqueles que não compartilham. No Match Group, estamos otimistas de que conseguiremos alavancar ainda mais a categoria de aplicativos de namoro, já que muitas pessoas antes hesitantes de utilizar nossos serviços, agora já estão mais abertas a experimentar uma forma online de conhecer novas pessoas. Tanto que a nossa expectativa é de crescimento entre 15% e 20% em receita este ano.
E&N - Como dosar as conexões que acontecem no mundo físico e digital?
Eugênia - Conectar é uma necessidade humana. Nenhum de nós se dá bem com a solidão. O isolamento da pandemia levou as pessoas a dizerem: nunca mais vou me isolar sozinho. A Covid-19 também fez as pessoas repensarem seus valores. Com o distanciamento social, perceberam a importância de ter um parceiro com afinidades e valores em comum, algo que os aplicativos de relacionamento, graças à tecnologia e algoritmos, podem ajudar.
E&N - Como você analisa a importância de termos mais líderes femininas estimulando assim mais mulheres a avançarem em cargos de gestão nas empresas?
Eugênia - As mulheres representam apenas 20% dos profissionais de tecnologia. O movimento para alcançar a mudança tem que ser diário e incansável. E exemplos e trocas são fundamentais. Eu participo de grupos de liderança e desenvolvimento feminino, como o Todas Group e o Mulheres Positivas, que tem essa causa e promovem troca e aprendizados. Acredito que precisamos valorizar e destacar a capacidade da liderança feminina de lidar com uma série de informações e dados ao mesmo tempo e de tomar decisões com agilidade - afinal, estamos sempre equilibrando vários pratos ao longo de toda a nossa vida. Além disso, a capacidade de aprendizado, resiliência e criatividade nas soluções são características que demonstramos, sem abrir mão da empatia. Tecnologia é um mercado que muda muito o tempo todo. O que funcionava no mês passado, hoje pode não faz mais tanto sentido. Somos extremamente adaptáveis e ágeis, e num mercado dinâmico isso faz muita diferença.