Santuário Voz Animal cria ambiente acolhedor para os bichos

Santuário Voz Animal busca levar bem-estar e dignidade a animais abandonados

Por Leonardo Machado

Instituição proporciona aos bichos vida mais próxima da natureza
Criado a partir da necessidade de ter um território livre de maus-tratos e abandonos, sem planejamento prévio, o Santuário Voz Animal abriga, hoje, mais de 300 animais. Localizado em Eldorado do Sul, no sítio da família da sócia-fundadora, Fernanda Ellwanger, a instituição sem fins lucrativos atua desde 2017, quando três porcos foram resgatados de um abatedouro clandestino.
O projeto é alinhado ao movimento vegano e tem como horizonte estratégico a quebra de paradigmas da nossa cultura de consumo, sobretudo, a cadeia de crueldade por trás da indústria pecuária. "Um dos propósitos do projeto é passar uma mensagem de que todos animais merecem a felicidade, merecem a dignidade, merecem ser livres" explica Fernando Antunes, sócio-fundador.
Para proporcionar um ambiente de libertação animal, o Santuário tem dois funcionários e mais de 20 voluntários, que podem atuar tanto presencialmente, no dia a dia com os bichos, quanto a distância, gerenciando as redes sociais. "A gente tem conseguido, graças às pessoas que nos ajudam financeiramente e voluntariamente, dar muita qualidade de vida aos animais e tem tido melhorias cada vez maiores", conta Fernando Antunes.
Entre os 300 animais abrigados, estão gatos, cachorros, ovelhas, vacas, porcos e equinos, sendo a maior parte aves (galo, galinhas e patos). Muitos deles são vítimas de maus-tratos e abandono. Alguns chegaram através de doações; outros resgatados; muitos foram abandonados no terreno para o Santuário cuidar, e tiveram até aqueles que chegaram por conta própria, como no caso das mulinhas que, perdidas na rodovia, entraram na propriedade.
No entanto, é preciso ressaltar que o Santuário não está aberto a receber novos contingentes. Hoje, segundo o sócio-fundador, de forma alguma eles poderiam abrigar a quantidade de bichos que têm. Por exemplo, a capacidade para cães é de 45 cães, mas, eles contam com 60 e mais uma cadela prenha que está por vir. "Então a gente não tá aberto pra fazer qualquer resgate. Só numa situação muito limítrofe para a gente se envolver", explica Antunes. Aliás, para impedir que mais bichinhos sejam jogados no terreno, a instituição instalou câmeras para denunciar esses abandonos que acontecem.
O terreno que comporta os animais é dividido em dois sítios, separados por uma rua, que somados têm 2,5 hectares. Num deles, ficam os equinos (cavalos, burros e jumentos), local mais adequado para pastagem. Noutro, junto à casa da família da Fernanda, estão os canis, gatis, os aviários e as vacas, que precisam estar num ambiente de maior vigilância pois acontecem muitos roubos na região
Um dos símbolos mais conhecidos da ONG é o porquinho Pingo. O animal foi encontrado às margens da BR - 290, provavelmente caído de um caminhão. Com isso, ele perdeu os movimentos das patas traseiras. Então assim que foi resgatado, o santuário recebeu um primeiro diagnóstico de que o porco teria uma vida muito sofrida e o melhor seria fazer eutanásia.
"Não aceitamos esse primeiro exame. Procuramos uma segunda opinião e aí encontramos um veterinário especialista em coluna. Daí ele disse que o Pingo poderia ter uma vida com qualidade caso tivéssemos alguns cuidados. E o Pingo está lá, feliz até hoje", relata Antunes. Atualmente, o animal tem dois anos e ficou famoso no País inteiro por ser o primeiro porquinho brasileiro a ganhar uma carteirinha pet.

Instituição precisa de mais voluntários da causa animal

Atualmente, o projeto não se paga. Os custos mensais giram em torno de R$ 20 mil reais, distribuídos entre a compra de ração, manutenção da estrutura, pagamento dos funcionários, atendimento veterinário, etc. Hoje, a principal fonte de renda bruta do Santuário são os apadrinhamentos - sistema de contribuição mensal onde é possível se afiliar aos animais da fazenda. O número de padrinhos e madrinhas não é o suficiente para que a instituição se sustente sozinho, isso faz que Fernanda e Fernando tenham que tirar dinheiro do próprio bolso para mantê-lo funcionando.
A pandemia também foi um agravante na sustentabilidade do projeto. A inflação, a perda de emprego, a diminuição do poder de compra das pessoas, tudo isso fez com que número de apadrinhamentos caísse também. Por sorte, boa parte dos padrinhos e madrinhas se mantiveram, mas tiveram que diminuir o custo de contribuição mensal.
Apenas gatos e cachorros podem ser adotados e o processo é bastante criterioso. Eles chamam de "adoção consciente". É preciso provar que está comprometido com aquele animal. Então, qualquer pessoa pode se candidatar desde que seja maior de idade e tenha autonomia financeira. O processo começa online, com um longo questionário; depois passa para uma entrevista presencial; e caso seja aprovado o adotante, é possível assinar um termo de responsabilidade, onde será preciso enviar, regularmente, fotos, vídeos e relatórios sobre o bichinho.
Isso ocorre por conta das vezes que famílias adotavam um animal do Santuário e, logo em seguida repassavam ele para outra família. E cada vez que acontece, fica mais rigoroso. "Todos eles vão ser monitorados até o final da vida deles por nós. E ai uma família pra aceitar essa condição, ela tem que tá muito afim de adotar um bichinho. A gente entende que essa é a melhor forma que achamos de protegê-los", comenta Fernando Antunes.
Para apadrinhar, adotar ou fazer doações, acesse santuariovozanimal.com.br. É possível obter mais informações sobre no Instagram do projeto(@sant_vozanimal).