Municípios do Extremo Sul gaúcho unem esforços para consolidar o turismo

Cheios de belezas naturais e de história, Santa Vitória do Palmar e Chuí querem atrair mais visitantes

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matéria especial santa vitória e chuí - Lagoa da Mangueira, localizada na estação ecológica do Taim
À margem da BR-471, em direção ao Uruguai, a reprodução de um farol náutico no lado direito da rodovia chama a atenção. Entretanto, na ânsia de vencer os poucos quilômetros que faltam para chegar aos free shops do outro lado da fronteira, os viajantes não dedicam muito tempo para descobrir a cidadezinha que se "esconde" por trás daquele curioso pórtico de entrada. Com diversas belezas naturais e uma enorme riqueza histórica e cultural, Santa Vitória do Palmar ainda é um destino pouco explorado. E, assim como o vizinho Chuí, quer entrar definitivamente na rota dos turistas, seja qual for sua nacionalidade.
"Cidadezinha" é modo de falar. Se o perímetro urbano não é tão grande, a área total impressiona: são quase 5,2 mil quilômetros quadrados, o que torna Santa Vitória do Palmar o quarto maior município do Rio Grande do Sul em extensão territorial. No meio dessa imensidão, há praias, lagoas, lavouras, fazendas, grande parte da Estação Ecológica do Taim e um dos principais complexos de energia eólica da América Latina. Além disso, a região conta com um vasto acervo arqueológico e paleontológico e casarões construídos à época do Império.

 
Tendo uma economia baseada principalmente na orizicultura, além da pecuária bovina de corte e ovina de lã, a cidade nunca explorou seu potencial turístico como poderia, acredita o secretário de Esporte, Cultura e Turismo de Santa Vitória do Palmar, Milton Candaten. "Quando falamos em turismo, sempre lembramos de Gramado, e aqui é a mesma coisa em relação ao arroz, que é a força motriz do nosso município. Pelo fato de Santa Vitória ser muito ligada à produção rural, o turismo parece que ficou para trás. Essa é uma luta de anos, e estamos tentando mudar essa realidade", afirma.
Mais próximo da fronteira, o Chuí não dispõe de tantas belezas naturais, mas também aposta no turismo para alavancar sua economia. "Nosso forte é o comércio. E, como estamos ao lado do Chuy, buscamos "pescar" tanto os uruguaios que vêm visitar o Brasil quanto os brasileiros que vão para o Uruguai. Mesmo que os turistas não tenham como roteiro o Chuí, e sim uma cidade uruguaia, a maioria deles param aqui para almoçar, tomar um café, abastecer, pernoitar", ressalta o secretário de Esporte, Cultura e Turismo do Chuí, Carlos Segóvia.
Conforme o secretário estadual de Turismo, Ronaldo Santini, o trabalho que vem sendo desenvolvido no Rio Grande do Sul para despertar o empreendedorismo nesse segmento, aliado a "destinos lindíssimos com ofertas de experiências únicas", faz com que a região naturalmente venha ocupando cada vez mais espaço. "Com oferta de turismo de compras e paisagens naturais lindíssimas, (as cidades de fronteira) já recebem este público de forma orgânica. É preciso apenas de alguns ajustes e muito trabalho para fazer o dever de casa", acredita.
Vencer o isolamento e chamar a atenção para o que existe em relação ao Extremo Sul do Estado são alguns dos desafios de ambos os municípios, que buscam criar uma rota turística conjunta. Nesta reportagem, apresentamos alguns dos atrativos desta região, que por muito tempo foi conhecida como Campos Neutrais.
 
 

Criação de rota conjunta é estratégica para aumentar potencial da região

A distância sempre foi um obstáculo no desenvolvimento turístico do Extremo Sul gaúcho, mas a concorrência com as atrações do outro lado da fronteira também. É muito comum conhecer alguém que já tenha visitado os diversos atrativos do departamento de Rocha, no Uruguai, como as praias de Cabo Polonio e Punta Del Diablo, a Fortaleza de Santa Teresa e o Forte de San Miguel. Todos esses locais ficam a apenas alguns quilômetros da fronteira, e é esse potencial turístico que Santa Vitória do Palmar e Chuí querem utilizar a seu favor.
"Organizamos uma rota turística que foi interrompida pela pandemia, mas já está se alinhavando, que inclui Chuí, Chuy e Santa Vitória. Trabalhando assim, podemos colher os frutos todos juntos, vender um turismo com melhor qualidade, enquanto individualmente a potência turística é menor", afirma o secretário de Turismo do Chuí, Carlos Segóvia. Segundo ele, a intenção era divulgar a rota antes do início da alta temporada (de dezembro a março), mas, com a pandemia, o lançamento deve ser adiado.
O supervisor de Turismo da prefeitura de Santa Vitória, Giovani Leão, ressalta que a estratégia faz parte de uma agenda binacional que começou na fronteira entre Jaguarão e Rio Branco, e que também se adapta aos tempos de pandemia. "No turismo rodoviário, atualmente, as pessoas viajam no máximo de 500 a 600 quilômetros, com grupos pequenos de amigos, familiares, para locais isolados. Nossa região tem tudo para ser um destino perfeito para esse turista, seja ele de Porto Alegre ou de Montevidéu."
A proximidade dos municípios não impede que haja discordâncias. A principal é antiga e teve impacto direto no turismo e na economia: na negociação que culminou com a emancipação do Chuí, 26 anos atrás, Santa Vitória ficou com a Barra do Chuí e, por consequência, o acesso ao mar e a arrecadação de impostos referentes ao balneário.
"A criação do município do Chuí se deu em condições traumáticas, tanto que (os chuienses) tiveram que aceitar certas condições que hoje acham uma barbaridade. Levou tempos para existir uma integração entre Chuí e Santa Vitória, que hoje é uma beleza", relata o historiador vitoriense Homero Suaya Vasques Rodrigues, autor de diversos livros sobre a região.
Como cidadão chuiense, Segóvia admite que ainda existe uma "dor" em relação à Barra do Chuí, cuja identificação com o município da fronteira vai além do nome. "Geograficamente, fica até na contramão para o pessoal de Santa Vitória, que precisa entrar no Chuí para ter acesso à Barra", argumenta. Como secretário de Turismo, porém, ele ressalta que as relações entre os municípios são "de respeito e uma parceria muito grande".

Obras na estrada do porto e revitalização de museu estão nos planos de Santa Vitória

No ano passado, com apoio do Sebrae, a prefeitura de Santa Vitória do Palmar finalizou seu Plano Municipal de Turismo, que estabeleceu mais de 50 ações para nortear o desenvolvimento da atividade. O documento, elaborado após diversas reuniões envolvendo representantes dos órgãos públicos, empreendedores e comunidade, foi regulamentado em forma de lei em dezembro.
"Questões relativas ao que é ambiental, de natureza, apareceram bastante no plano, como turismo rural e ecoturismo, então temos conversado com produtores locais para que isso se torne uma atração do município. Projetos de infraestrutura geralmente são de longo prazo, por questão de recursos e tempo, mas tudo aquilo que envolve sensibilização, qualificação, já está sendo desenvolvido", afirma a turismóloga Charlene Brum Del Puerto.
Ela ainda destaca outros aspectos que podem ser explorados, como a gastronomia, o patrimônio histórico e o artesanato, além de eventos que valorizem as características locais. "Também estamos trabalhando para realizar a sinalização da Costa Doce (região turística que abrange cerca de 20 cidades do Sul do Estado), através de verba obtida via consulta popular."
O secretário de Turismo, Milton Candaten, chama a atenção para o rico acervo paleontológico do município. Santa Vitória tem dois museus que fazem alusão ao Pleistoceno, período no qual viveram animais da chamada megafauna, como preguiças-gigantes e gliptodontes (semelhantes a tatus enormes). O Museu de Paleontologia Mario Costa Barberena, localizado no porto, faz muito sucesso entre os turistas, enquanto o Museu Coronel Tancredo Fernandes de Mello, onde fica o acervo principal, está restrito a uma sala no prédio da Secretaria de Esporte, Cultura e Turismo.
"Nos falta, realmente, um espaço aberto ao público com estrutura adequada. Anos atrás, fizemos um projeto de museu no pórtico, que infelizmente não se tornou realidade. Eu, particularmente, não gosto da forma como os fósseis estão expostos", diz Candaten.
Conforme o secretário, o novo museu deve ser construído na parte da frente do prédio da secretaria (localizada no antigo Clube Caixeiral, cujo salão principal foi demolido, restando apenas a fachada). "Embora tenhamos R$ 700 mil para essa obra, as empresas assumem e logo desistem dela, porque o preço do material tem subido muito", explica. "Estamos correndo para reformar o prédio e oferecer esse espaço ao público com as melhores condições possíveis."
Responsável pelo acervo paleontológico de ambas as instituições, o biólogo Jamil Corrêa Pereira destaca que o trabalho é reconhecido pela Sociedade Brasileira de Paleontologia e por diversas instituições de ensino, que fazem atividades de campo na região. "Nosso município é muito rico nessa área. O pessoal de fora dá muito valor, mas aqui ainda temos que criar esse sentimento de pertencimento na comunidade. É um produto a ser explorado fortemente", acredita.
Muito frequentado pelos moradores, o porto de Santa Vitória é outro espaço de grande potencial turístico. "Na Bahia ou em Santa Catarina, por exemplo, qualquer lagoazinha tem pedalinho. Temos aqui uma lagoa imensa, que é a Mirim, e é pouco aproveitada. O pessoal adora o porto, mas é preciso investir em atrativos", observa o historiador Homero Vasques Rodrigues.
Candaten concorda que melhorias no porto se fazem necessárias, sendo a primeira delas a a recuperação da avenida Getúlio Vargas, uma via de acesso de seis quilômetros cujo trecho final nunca foi asfaltado. "A ideia é fazer uma avenida com duas mãos até lá. Esperamos que esse projeto saia do papel em breve", diz.

Prefeitura vitoriense quer criar marco para sinalizar ponto mais meridional ao Sul do Brasil

A expressão "do Oiapoque ao Chuí", utilizada quando se quer indicar algo que abranja o País de cima a baixo, tecnicamente está errada, uma vez que o ponto mais meridional ao Norte do Brasil fica em Roraima - mais precisamente no monte Caburaí, em Uiramutã, na divisa com a Guiana. Independentemente disso, o município amapaense se utiliza dessa expressão para atrair turistas, contando com um chamativo marco onde se lê "aqui começa o Brasil".
Se lá o equívoco é evidente (basta olhar um mapa) e ultrapassa os limites entre estados, aqui o erro é um pouco mais sutil, uma vez que a confusão envolve os nomes Chuí e Barra do Chuí, praia pertencente a Santa Vitória do Palmar. E é nessa cidade, nas proximidades do arroio Chuí, que fica o ponto mais meridional ao Sul do País.
"Sempre foi uma briga minha demarcar corretamente esse ponto, que todo mundo diz que é na foz do arroio Chuí. Não é. Esse é o limite do litoral brasileiro, assim como é o Oiapoque ao Norte - mas o extremo, mesmo, é o monte Caburaí. Aqui, o ponto mais meridional fica em Santa Vitória, e não no Chuí, em um local a 500, 600 metros da foz do arroio, conhecido como Volta da Baleia", explica o historiador Homero Vasques Rodrigues.
Entre as metas do plano turístico desenvolvido junto ao Sebrae, a prefeitura vitoriense prevê criar um complexo para atrair turistas até esse marco. Segundo o supervisor de Turismo, Giovani Leão, a obra incluiria um espaço interpretativo, no qual os visitantes poderiam conhecer a história do município e teriam acesso, via trilha, até o ponto mais ao Sul do Brasil. "O projeto deve demandar muitos recursos, então é algo que requer muito planejamento", diz.

Extensão territorial e limites geográficos provocam confusão

A dimensão do território de Santa Vitória do Palmar acaba ocasionando diversos erros de informação, a começar pelo básico: como chegar lá? Saindo da Região Metropolitana, pega-se a BR-116 e, a partir de Pelotas, a BR-471. De Rio Grande, o trajeto começa na BR-392, mas na altura da Vila da Quinta é preciso tomar a mesma BR-471, único acesso rodoviário ao município e também ao Chuí.
Outro assunto que já deu muito pano para manga é relativo ao título de "maior praia do mundo". O município de Rio Grande chegou a figurar inclusive no Guiness Book, o livro dos recordes, considerando o trecho de 220 quilômetros entre o Cassino e a Barra do Chuí. No entanto, essa conta "engole" todo o Hermenegildo - sendo que as praias vitorienses somam cerca de 140 km dessa faixa litorânea. Hoje em dia, a disputa parece ter arrefecido, e riograndinos e mergulhões disputam essa honraria mais em tom de brincadeira.
Ainda assim, confusões sobre onde começa e termina o município ainda são frequentes. O supervisor de Turismo da prefeitura, Giovani Leão, que o diga. Em 2016, quando foi fazer sua matrícula no Campus Santa Vitória do Palmar do curso de Bacharelado em Turismo da Furg, ele decidiu sair de manhã cedo de sua cidade natal, Caxias do Sul. Depois de rodar por seis horas de motocicleta, já na Estação Ecológica do Taim, avistou uma placa indicando a divisa entre Rio Grande e Santa Vitória. Encontrou um posto de combustíveis, parou para almoçar e, com tempo de sobra, decidiu relaxar embaixo de uma árvore. Quando voltou ao restaurante para pedir informações sobre a localização da universidade, levou um susto.
"Perguntei onde era o Centro, pois precisava ir na Furg. Um senhor me informou que já havia passado, que a universidade era em Rio Grande. Eu disse: 'não, eu quero ir ao campus de Santa Vitória'. Para minha surpresa, ele respondeu: 'moço, o Centro é a mais de 100 quilômetros daqui!'. Tive que colocar o pé no acelerador para chegar a tempo de fazer a matrícula", lembra Leão.

Reabertura da fronteira e expectativa com free shops nacionais animam Chuí

A reabertura do Uruguai para turistas, ocorrida em 1 de novembro, promete dar um novo impulso à economia das cidades de fronteira. No Chuí, a situação não é diferente. O pequeno município, separado do "hermano" Chuy por apenas uma avenida, torce por uma boa temporada de compras para recuperar os prejuízos causados por quase 18 meses de isolamento social.
Segundo o secretário de Turismo, Carlos Segóvia, as vendas caíram até 70% durante a pandemia. Grande parte dos consumidores dos supermercados e lojas do Chuí são uruguaios, para quem os produtos brasileiros saem mais em conta. "Diariamente recebemos pedidos de informação de como está a fronteira. O pessoal está louco para viajar. Essa reabertura, para nós, vai dar no mínimo uns 20% de melhoria imediata. Considerando a alta temporada de dezembro a março, e com um aumento de 40% entre janeiro e fevereiro, se Deus quiser, vamos ter a cidade cheia no verão", projeta.
Outra medida que promete alavancar a economia local é a abertura dos primeiros free shops do lado brasileiro, a exemplo do que já ocorre em cidades como Uruguaiana. "Temos três empresas com a documentação legalizada, que pretendiam abrir quando começou a pandemia. Os proprietários, que já possuem free shops do lado uruguaio, preferiram aguardar a retomada. Acredito que a abertura será após a alta temporada, que vai servir de termômetro", conclui Segóvia.

Curso da Furg capacita para mercado que cresce rumo à profissionalização

Apesar de o turismo estar engatinhando em Santa Vitória do Palmar (ainda não há oferta de hospedagem pela plataforma Airbnb, por exemplo), é senso comum que a presença da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) na região já começa a dar frutos. A coordenadora do curso de bacharelado em Turismo, Ligia Dalchiavon, destaca que, após uma década de atividade no município, é nítida a mudança rumo à profissionalização.
“Ainda falta muito para termos um trade turístico consolidado, mas observo, por exemplo, que nossos egressos do Turismo ou da Hotelaria (que, junto com Relações Internacionais, Tecnologia em Eventos e Comércio Exterior, completa a oferta de cursos da Furg na cidade) já fazem parte do quadro de funcionários de diversos hotéis, e aí se percebe uma modernização até na organização física dos estabelecimentos. Também há alunos trabalhando em bares e restaurantes, além de algumas ações relacionadas a turismo emissivo e receptivo (agências de viagens)”, destaca a professora.
Ligia considera essencial conscientizar a comunidade sobre o lugar onde vive. “Muitas vezes a pessoa morou a vida inteira aqui e nunca se perguntou por que existe aquele monumento na praça ou nunca entrou em um museu. Aos poucos, conseguimos observar uma participação maior nessas ações, e também trabalhar essa questão da valorização do que há aqui. Antes, quando se falava que Santa Vitória tinha uma potencialidade turística, as pessoas não acreditavam. Felizmente, isso está mudando”, observa.
Nascido em Caxias do Sul e egresso do curso da Furg, o supervisor de Turismo da prefeitura de Santa Vitória do Palmar, Giovani Leão, tenta utilizar seu “olhar de turista”, como diz, para valorizar as belezas do município. “Além de viver em uma cidade com vários atrativos turísticos, o mergulhão é cordial e receptivo, mas nem sempre reconhece seu próprio valor. Buscamos sensibilizar a comunidade para que possa valorizar seu espaço.”
Turismóloga da prefeitura, Charlene Brum Del Puerto, que já lecionou na Furg, acredita que o curso também contribuiu para divulgar o nome do município no resto do País. “O bacharelado em Turismo atrai gente de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, por exemplo. Pessoas que nem sabiam onde ficava Santa Vitória e acabaram se surpreendendo com as belezas da cidade”, afirma.

O que fazer em Santa Vitória do Palmar e Chuí

Centro Municipal de Cultura do Chuí

Inaugurado em julho, abriga as secretarias de Esporte, Cultura e Turismo e de Educação, além da Biblioteca Municipal. Localizado na avenida Uruguay, esquina com a rua Colômbia, o antigo casarão onde funcionou a primeira escola municipal do Chuí foi restaurado com o objetivo de oferecer à comunidade um centro de cultura, arte e integração entre todas as múltiplas nacionalidades que convivem na região.

Mesquita do Chuí

Com forte presença da comunidade árabe, o Chuí é um dos poucos municípios gaúchos a contar com uma mesquita. A edificação, erguida há cerca de três anos, ainda está em fase de acabamento, mas impressiona pela imponência de sua arquitetura. A prefeitura espera, em acordo com as lideranças religiosas, viabilizar um dia da semana para a visitação de turistas. Fica na rua Palestina, 364, ao lado do Clube Árabe.


Barra do Chuí

Apesar do nome, esta praia não pertence ao Chuí, mas a Santa Vitória do Palmar. É limitada, na fronteira com o Uruguai, pela foz do arroio Chuí, com molhes demarcando a divisa com a Barra del Chuy. É nessa região que fica o ponto mais meridional ao Sul do Brasil. Antigamente, a Barra era um balneário mais restrito à elite vitoriense, mas, com o passar dos anos, se popularizou, atraindo turistas (e moradores) uruguaios e argentinos. Localizada a 32 quilômetros do Centro da cidade, é uma praia tranquila, perfeita para quem quer descansar. Para chegar lá, é preciso pegar a ERS-699, a partir do Chuí. Na Barra, há também um balneário chamado Alvorada, de população predominantemente uruguaia. Já em direção ao Hermenegildo, fica a estação balneária das Maravilhas, um recanto isolado e com pouco fluxo de pessoas.

Instituto Ballaena Australlis

Na Barra do Chuí, localiza-se o Instituto Ballaena Australlis, museu atelier do artista Hamilton Koelho, famoso por suas esculturas confeccionadas a partir de ossos de baleias e restos de navios encontrados na costa. Por conta do peculiar trabalho de Koelho, reconhecido internacionalmente, é um espaço bastante procurado por turistas. A casa fica a poucos metros da Ponte Binacional, que separa a Barra brasileira da uruguaia. O artista já foi tema de um documentário, o curta Através de uma escultura (2012), dirigido por Nelson Brauwers e Henrique Lahude.


Hermenegildo

Também conhecido como Hermena, é o balneário mais popular de Santa Vitória do Palmar. Ficou famoso pelo controverso episódio da “Maré Vermelha”, mas também é notório por sua extensa faixa de areia: são 119 quilômetros entre o Cassino e a Barra do Chuí, segundo dados da prefeitura local. Atrai muitos adeptos de esportes aquáticos, principalmente o surfe, e é o “point” dos jovens mergulhões durante o verão. A praia fica a 20 quilômetros do Centro, e pode ser acessada pela ERS-833, a partir da BR-471.


Faróis

Próximo à margem do arroio Chuí, está o Radiofarol da Barra do Chuí. Inaugurado em 1949, em substituição a outra estrutura que ali havia, é considerado o mais avançado do Brasil, e serviu de modelo para a construção do pórtico de Santa Vitória do Palmar. No sentido Sul-Norte, é o primeiro dos quatro pontos de sinalização marítima no litoral vitoriense. Os outros, já na praia do Hermenegildo, são os faróis Albardão, Verga e Sarita, este último na divisa com a praia do Cassino, na cidade de Rio Grande.

Complexo Eólico Campos Neutrais

Considerado até pouco tempo atrás o maior complexo de energia eólica da América Latina (este ano, o Piauí atingiu essa marca), com capacidade instalada de 582,8 megawatts, é um conjunto formado pelo Complexo Hermenegildo (180,8 MW), pelo Parque Geribatu (258 MW) e pelo Parque Chuí (144 MW). Começou a operar a partir de 2015, com pouco mais de 300 aerogeradores distribuídos em 29 usinas. Os equipamentos, que chegam à altura de um prédio de 25 andares, podem ser avistados tanto da zona urbana de Santa Vitória do Palmar e Chuí como da rodovia. No ano passado, a Eletrobras passou o controle do Complexo Eólico Campos Neutrais à empresa mineira Omega Energia por R$ 1,5 bilhão (menos da metade dos R$ 3,1 bi investidos pela estatal), o que gerou diversas críticas.


Porto - Lagoa Mirim

A cerca de seis quilômetros do Centro, o porto de Santa Vitória do Palmar está desativado há décadas, mas é um ponto de intensa circulação de pessoas, especialmente nos finais de semana. A bela paisagem junto à Lagoa Mirim, especialmente na hora do pôr do sol, atrai tanto moradores quanto turistas uruguaios e de outras cidades gaúchas. Além de serem utilizadas para a pesca artesanal, suas águas são ideais para a prática de esportes náuticos como caiaquismo e stand up paddle. Um projeto incluído no Plano Nacional de Desestatização do Programa de Parcerias de Investimentos busca revitalizar o transporte fluvial de cargas entre Brasil e Uruguai por essa rota. A iniciativa consiste na dragagem e sinalização do Canal São Gonçalo (que liga a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim), em Pelotas, até o porto vitoriense. A expectativa é que haja um leilão para concessão do trecho no segundo semestre do ano que vem.


Museus


Localizado no porto, o Museu de Paleontologia Mario Costa Barberena, batizado em homenagem a um notório paleontólogo nascido no município, foi aberto em parceria com a Ufrgs e conta a história da evolução da vida na Terra por meio de uma linha do tempo. Conta também com réplicas de fósseis de animais da megafauna. Já o Museu Coronel Tancredo Fernandes de Mello possui um vasto acervo de fósseis, além de material arqueológico, como pontas de flecha, pedras de boleadeiras e polidores utilizados por indígenas. Atualmente, funciona em uma sala junto à Secretaria de Esporte, Cultura e Turismo (antigo Clube Caixeiral), na rua Barão do Rio Branco, 467, com entrada pelos fundos pela rua Neyta Ramos. O Ecomuseu do Balneário Hermenegildo, capitaneado pela ONG Instituto Litoral Sul, foi criado com a missão de conservar e preservar a biodiversidade e o patrimônio cultural, histórico, e paisagístico da região. Já promoveu exposições itinerantes em outras cidades brasileiras e no Uruguai. Fica na rua Cruzeiro do Sul, 62.

Centro Histórico de Santa Vitória

O Centro Histórico de Santa Vitória do Palmar conta com casarões antigos dos tempos do Império, incluindo a residência do comendador Manuel Corrêa Mirapalhete, fundador do município. Boa parte desse casario fica no entorno da Praça General Andréa, onde também se localizam a Igreja Matriz e o Teatro Independência.

Rota dos Butiazais

Santa Vitória do Palmar integra a Rota dos Butiazais, que une Brasil, Uruguai e Argentina e promove a valorização e o uso sustentável dessas palmeiras. Coordenada pela Embrapa Clima Temperado, com apoio do Ministério do Meio Ambiente, a iniciativa conta com a parceria de um grande número de instituições de ensino e pesquisa, que atuam onde existem remanescentes de butiazais ou onde o butiá representa importante componente do cenário local. O fruto é aproveitado na fabricação de licores e geleias, enquanto a folha pode ser utilizada para artesanato ou placas isotérmicas.


Lagoa Mangueira

Esta peculiar lagoa, com 123 quilômetros de extensão, foi formada há 4.500 anos, pelo sobe e desce das marés. Fica entre uma vasta faixa de areia, que a separa completamente do Oceano Atlântico, e os campos que cercam a BR-471. É composta pela água das chuvas e de lençóis freáticos, o que explica sua cor verde-clara, quase cristalina. Com solo a base de calcário, a Mangueira é o único lugar no Brasil onde a Spirulina, uma microalga benéfica para a saúde humana, encontra as condições ideais para se proliferar. Com inúmeras espécies de peixes e outros animais tendo a região como habitat, parte da lagoa fica dentro da Estação Ecológica do Taim.


Estação Ecológica do Taim

Com quase 33 mil hectares, esta unidade de conservação ambiental fica entre Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, que abriga 70% de seu território. Um dos maiores santuários de aves migratórias do Brasil, também é habitat de diversos outros animais, como a capivara e o jacaré de papo amarelo. A administração fica a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Devido à pandemia, o Taim está fechado para visitação. No entanto, existe a possibilidade de percorrer uma das quatro trilhas no entorno da reserva. “Essas trilhas podem ser feitas com ou sem o acompanhamento de monitores locais. Nós sempre recomendamos que sejam feitas com um monitor, pois eles conhecem bem as trilhas e proporcionam uma melhor vivência do local para os turistas”, afirma a chefe da Estação Ecológica do Taim, Ana Carolina Canary. Mais informações pelo e-mail esec.taim.rs@gmail.com.




Saiba mais sobre os municípios

Santa Vitória do Palmar
  • População estimada: 29.298 pessoas
  • PIB per capita (2018): R$ 44.990,62
  • Área da unidade territorial: 5.195,667 km²
  • Distância aproximada de Porto Alegre: 501 km
Chuí
  • População estimada: 6.832 pessoas
  • PIB per capita (2018): R$ 57.139,27
  • Área da unidade territorial: 202,387 km²
  • Distância aproximada de Porto Alegre: 521 km
Fonte: IBGE

*Daniel Sanes é jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Já foi repórter e editor no Jornal do Comércio. Hoje, atua como freelancer.