Governo decide manter térmicas para reforçar sistema elétrico em 2022

Atualmente, as usinas somam cerca de 30% da energia gerada no País

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O elevado uso da fonte térmica levou a Aneel a criar uma taxa de escassez hídrica cobrada nas contas de luz
A Creg (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética) aprovou, no dia 9 deste mês, a contratação de usinas térmicas para reforçar a recuperação dos reservatórios das hidrelétricas brasileiras entre 2022 e 2025.
Segundo o MME (Ministério de Minas e Energia), a contratação se dará por "procedimento competitivo simplificado", conforme previsto na MP (medida provisória) que criou a câmara de gestão da crise. Isso significa que não devem seguir as regras de leilões de energia do governo.
O MME, porém, não informou como será esse procedimento e nem o volume das contratações. Especialistas do setor temem ainda mais pressão sobre as contas de luz, já que as usinas térmicas tendem a ser mais caras do que fontes renováveis.
"Já estamos pensando no atendimento para 2022", disse em entrevista ao programa "A voz do Brasil" o secretário de Energia Elétrica do MME, Christiano Vieira da Silva. "A perspectiva é que teremos ao final de novembro os reservatórios em níveis muito baixos e não podemos contar apenas com chuvas."
Na quarta-feira da semana passada, os reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, a caixa d'água do setor elétrico brasileiro, estavam com 19,59% de sua capacidade de armazenamento de energia. A perspectiva é que terminem setembro em 15,62%.
"Mantém-se o cenário de atenção, com projeção de poucas chuvas em montantes relevantes nos próximos meses", afirmou o MME, em comunicado sobre a reunião da Creg nesta quinta. A opção pela contratação de mais térmicas, diz, foi tomada após avaliação sobre o cenário para os próximos anos.
Atualmente, as usinas térmicas representam cerca de 30% da energia gerada no país. O elevado uso dessa fonte levou a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a criar uma taxa de escassez hídrica sobre a conta de luz, com a cobrança de R$ 14,20 a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos.
Antes, o consumidor estava pagando R$ 9,49 por 100 kWh, valor equivalente à bandeira vermelha nível dois. A Aneel justificou a alta dizendo que o valor anterior não conseguia cobrir todos os custos das térmicas acionadas para enfrentar a crise hídrica.
Como a energia das novas contratações deverá ser entregue em 2022, terá que vir de usinas já prontas, mas ainda sem contrato. O governo já vem acionando algumas dessas usinas, como a William Arjona, a mais cara do país, com tarifa de R$ 2.443 por MWh (megawatt-hora).
Por isso, o temor do mercado com relação aos impactos na conta de luz provocados pela extensão da contratação de usinas disponíveis para além de 2021. A tarifa de energia tem sido um dos principais impulsionadores da escalada inflacionária no país.
Em nota divulgada na sexta-feira, o MME disse que a contratação preventiva e antecipada dessas usinas ajudará a garantir os menores custos e "contribuirá com a garantia do atendimento e elevação estrutural dos níveis de armazenamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas".
Na reunião desta quinta, a Creg decidiu também simplificar procedimentos de outorga para a contratação de térmicas ainda este ano e garantir condições para operação da térmica GNA 1, no norte do Rio de Janeiro, que tem capacidade de 1.338 MW.
 

Conta de luz mais cara aumenta a demanda por energia solar

Energias alternativas ganharam ainda mais evidência após os reajustes tarifários, que vem encarecendo a conta de luz dos brasileiros. Uma das opções que tem tido grande procura é o sistema fotovoltaico, que produz energia elétrica a partir da luz solar. O diretor-geral da Ecosul Energias, Alan Eduardo Spier, de Nova Petrópolis, registrou o aumento de 39% nos pedidos de orçamento desde o anúncio das novas tarifas aprovado em junho de 2021 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Spier explica que essa é uma alternativa sustentável, pois é uma fonte infinita e não poluente. Também é benéfica economicamente, em que o retorno do investimento pode ser percebido logo no primeiro mês após a instalação. Além disso, os equipamentos têm vida útil longa, os inversores possuem garantia que variam de 5 a 12 anos, conforme marca e modelo, já os módulos 25 anos e possuem baixo custo de manutenção.
Uma empresa que gasta, em média, R$ 1 mil em energia elétrica por mês, conseguiria reduzir a conta para aproximadamente R$ 150 com o sistema fotovoltaico, mantendo apenas o pagamento das tarifas mínimas da concessionária. Para atender a esse consumo, seria necessária a instalação de um sistema com cerca de 24 painéis e investimento próximo a R$ 40 mil.
Se esse valor for financiado em 60 vezes com taxa de juros de 1% ao mês, a parcela será de R$ 889,78, que, somada às tarifas mínimas pagas à concessionária, equivale ao gasto médio mensal de R$ 1 mil. Após cinco anos, o financiamento será quitado e o sistema continuará gerando energia limpa e renovável por décadas, exigindo apenas o pagamento das tarifas à concessionária.
Uma das empresas adeptas à energia fotovoltaica é a Cervejaria Edelbrau, também de Nova Petrópolis. Eles se tornaram a primeira cervejaria artesanal brasileira a gerar 100% da energia consumida através de 251 placas fotovoltaicas. O sistema de energia solar tem capacidade de 87 kWp e foi instalado em 2018. Desde então, são 9,25 mil kg de CO2 que deixam de gerar anualmente, o que corresponde à emissão de gases de 61.672 km rodados por automóveis ou 225 árvores preservadas.
Além de produzir uma energia limpa e renovável, as placas solares são vantajosas economicamente. Na época, o investimento total foi de R$ 350 mil, parcelados em 100 meses. O preço atual da parcela é similar ao custo que a Edelbrau teria com energia elétrica, cerca de R$ 7 mil mensais. "Após o término do financiamento, o custo corresponderá apenas às taxas mínimas e de iluminação pública pagas à companhia de energia", comenta o sócio Fernando Maldaner. O valor da manutenção também é reduzido, sendo necessária apenas uma limpeza semestral das placas para garantia de sua eficiência.