Esgotamento profissional desafia empresas

Síndrome de Burnout, classificada como fenômeno ocupacional, tem afastado cada vez mais trabalhadores de suas atividades

Por Cristine Pires

Entre os sintomas, estão dores musculares e de cabeça, exaustão emocional, física e psicológica e até disfunções sociais
Você já teve a sensação de que todas suas energias se consumiram e acabaram durante o expediente de trabalho? Se essa vivência é constante e vem acompanhada de dores musculares e de cabeça, exaustão emocional, física e psicológica e até disfunções sociais, cuidado. Você pode estar sofrendo da Síndrome de Burnout.
Na prática, significa prover elementos que incluem emprego justo, respeito pelos direitos humanos, regras laborais, proteção ao meio ambiente, transparência e diálogo social. A OIT também recomenda que os países incluam em suas listas de doenças ocupacionais o estresse e os transtornos mentais, garantindo assim que esses possam ser identificados, quantificados e posteriormente tratados.

Má utilização dos meios digitais pode piorar o quadro de quem sofre da Síndrome de Burnout

O uso desregrado e exagerado dos meios digitais podem agravar o quadro de quem sofre da Síndrome de Burnout, pois pode representar um perigoso sinônimo de pressão emocional. "A tecnologia certamente traz muitos benefícios para o dia a dia, porém, é preciso aprender a utilizá-la de forma estratégica", orienta Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, empresa de assessoria e educação corporativa na área de Neurociência Organizacional.
A especialista explica que diversidade de canais de comunicação disponíveis hoje pode levar a uma sensação de sobrecarga sobre o colaborador, por exemplo quando a pessoa recebe mensagens ou cobranças através de e-mail, mensagens, aplicativos e muitas vezes também através de contato telefônico. "Isso pode gerar dificuldade de alinhamento de prioridades, excesso de cobrança, erros de comunicação, dentre outros problemas", afirma.
Além disso, a praticidade da tecnologia, associada a uma pressão cada vez maior por tempo, também faz com que muitas vezes críticas e feedbacks sejam passados através de mensagens, o que pode gerar sentimentos negativos exagerados por parte de quem recebe a mensagem e, ainda, a percepção de maior distanciamento e frieza por parte dos gestores ou mesmo da empresa.
Nessa mesma linha, a neurocientista esclarece que tecnologia é importante por permitir que tenhamos cada vez mais autonomia, porém, ao mesmo tempo, quando não sabemos organizar as atividades profissionais também pode gerar a sensação de que estamos trabalhando 24h/dia, ou mesmo favorecer culturas que considerem que as pessoas devem estar disponíveis e acessíveis para o trabalho constantemente, uma vez que podem responder e-mails e mensagens facilmente do seu celular. "Isso traz um excesso de carga horária, mesmo quando a pessoa está fora do escritório, o que associado às cobranças e pressão pode piorar ou favorecer um quadro de Burnout.", ressalta.
Para Ana Carolina, o controle do estresse e o exercício saudável da liderança são aspectos fundamentais para ajudar a evitar que tais quadros ocorram, já que uma vez instaurado, o Burnout traz prejuízos importantes para saúde do indivíduo e impacta diretamente a produtividade das equipes. "É saudável que os gestores tenham conhecimento do fenômeno e estejam constantemente atentos aos seus colaboradores como uma forma de prevenção. Ao perceber que algum dos colaboradores pode estar sob grande pressão, sobrecarregado, ou desenvolvendo uma possível frustração associada ao trabalho, deve-se buscar formas de reverter o cenário e assim evitar um desgaste maior, e possível desenvolvimento de Burnout", recomenda.
Nesse contexto, o exercício da empatia pode ser uma forma muito eficiente de leitura dos colaboradores, permitindo uma maior sensibilidade na hora de direcionar suas atividades e dar retorno sobre seu desempenho. "A empatia é uma habilidade fundamental para uma comunicação e liderança mais eficientes e há diferentes formas de exercitá-las. Uma delas seria dar atenção às pessoas. Quando conversar com elas, faça contato visual e ouça atentamente ao que dizem. Exercitar o que chamamos de "escuta ativa", quando ouvimos o que o outro está dizendo, inibindo nosso julgamentos e pensamentos para que de fato seja possível compreender a perspectiva e os sentimentos da pessoa que fala", sugere.
 

Melhorar a qualidade de vida dos funcionários faz a diferença

Os colaboradores da Brasilprev podem parar suas atividades uma vez por semana para participar das aulas de yoga. A adesão é voluntária, e a Yogist, parceira na iniciativa, trabalha apenas a parte técnica da atividade, sem entrar no cunho espiritual. O yoga corporativo é uma prática diferenciada, aplicada no próprio ambiente de trabalho, que tem como objetivo combater o estresse e os distúrbios laborais.
A metodologia condensa as posturas que fortalecem e alongam todas as partes do corpo que sofrem de estresse e do trabalho em computador. "Também alivia as tensões decorrentes da postura sentada por longos períodos e ensina as técnicas de respiração eficientes para relaxar ou se concentrar", explica Armelle Champetier, diretora da Yogist no Brasil.
O lado positivo, avalia ela, é que muitas empresas têm investido em alternativas para melhorar a qualidade de vida de seus colaboradores. "As companhias precisam se dar conta sobre a importância de incluir em suas rotinas curtos períodos semanais para a prática de uma atividade que incentiva a mudança de hábitos", destaca Armelle
As ações podem incluir diferentes focos, como oportunizar ajuda psicológica, a possibilidade de fazer home office, oferecer salas de descanso, massagem ou uma atividade física. Ao mesmo tempo, é necessário que os gestores identifiquem possíveis causas do burnout, como excesso de demandas ou cobranças ostensivas. Só assim, afirma, será possível que o estresse, transtorno de ansiedade e a Síndrome de Burnout deixem de ser termos cada vez mais frequentes no ambiente de trabalho.
 

Confira 10 conselhos para não ser atingido

O filósofo Fabiano de Abreu, especialista em comportamento humano, tem pesquisado sobre o tema e principalmente os seus desdobramentos sociais em conjunto com psicólogos e estudiosos da área, e aponta que é preciso muita cautela, pois não apenas famosos e profissionais muito requisitados estão sujeitos a sofrer um esgotamento total: "Cuido muito para não sofrer desse transtorno e acredito ter chegado próximo de um estado de esgotamento total por vários momentos. É preciso atenção aos sintomas e aos sinais."
Abreu expõe alguns dos desdobramentos que acometem os que sofrem com a Síndrome de Burnout: "Esta síndrome pode acarretar em comorbidade com alguns transtornos psiquiátricos, como a depressão. Os efeitos do burnout podem prejudicar o profissional em três níveis, o individual (físico, mental, profissional e social), profissional (atendimento negligente e lento ao cliente, contato impessoal com colegas de trabalho e/ou pacientes/clientes) e organizacional, gerando conflito com os membros da equipe, rotatividade, levando ao absenteísmo (ausências recorrentes no trabalho)".
É preciso procurar um médico ou um psicólogo para um correto diagnóstico do burnout. No entanto, alguns sintomas são perceptíveis e são um sinal de alerta para procurar ajuda profissional. A exaustão emocional abrange sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, tensão, diminuição de empatia; sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação; aumento da suscetibilidade para doenças, dor de cabeça, náuseas, tensão muscular, dor lombar ou cervical, distúrbios do sono.
O distanciamento afetivo provoca a sensação de alienação em relação aos outros, sendo a presença destes muitas vezes desagradável e não desejada. Já a baixa realização profissional ou baixa satisfação com o trabalho pode ser descrita como uma sensação de que muito pouco tem sido alcançado e o que é realizado não tem valor".
Como prevenir
1 Faça o que realmente o que lhe agrada. Caso não possa trabalhar somente com o que gosta, então busque o que tem de bom na sua profissão e aprenda a apreciar o que faz, a ver o lado positivo acima do negativo.
2 Se a rotina afeta, então transforme-a de vez em quando. Nem que seja algo simples, como mudar a mesa de posição ou enxergar a vida em novos ângulos para ter uma visão diferente da rotina.
3 Aproveite todos os momentos de folga para pensar em algo totalmente diferente. Principalmente coisas que lhe agradem.
4 Crie metas de lazer. Trabalhe duro durante a semana sabendo que naquela determinada data vai tirar seu dia de folga ou aquelas férias no lugar que gosta ou com pessoas que lhe fazem se sentir bem.
5 Anote tudo em uma agenda para que não fique perdido e tenha facilidade de organizar seus afazeres.
6 Não adianta querer fazer tudo ao mesmo tempo e nada sair direito. Organize suas tarefas com ordem de prioridade.
7 Organize seus horários e, mesmo que não consiga cumprir tudo à risca, pense que isso não é motivo para alarde. Não seja tão radical consigo mesmo.
8 Não protele o que tem que fazer agora. Faça logo e bem-feito, pois, quando acabar, poderá gozar do alívio do dever cumprido.
9 Se prenda de vez em quando a coisas que lhe agradam. Um exemplo pode ser parar e ficar olhando a natureza, mesmo que seja apenas uma árvore no caminho. Ou então um animalzinho de estimação.
10 Esse é o mais importante: controle. Tenha equilíbrio, medite, faça um autorreconhecimento e saiba onde se encontra o seu limite. Busque maneiras de manter sua estabilidade e de não deixar que o excesso de funções lhe deixe doente. Viva a vida melhor maneira possível.