Emprego informal recorde derruba produtividade da economia brasileira

São 38,8 milhões de trabalhadores sem carteira assinada no Brasil, equivalente a 41,4% da força de trabalho

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Muitos brasileiros optam por trocar a carteira assinada por abrir um negócio próprio
A informalidade recorde no mercado de trabalho está ajudando a derrubar a produtividade da economia brasileira, que se recupera lentamente da recessão vivida entre 2014 e 2016. Em condições normais, quando uma economia cresce e gera empregos - situação que, apesar de toda a crise, vem sendo observada no Brasil -, há mais investimentos em inovação, equipamentos, capacitação, e a produtividade aumenta. Ou seja, cada trabalhador consegue produzir mais com menos horas trabalhadas. Mas o que vem ocorrendo é exatamente o contrário.
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Por dentro do cálculo

O cálculo da produtividade na economia leva em conta o valor adicionado, usado para medir o Produto Interno Bruto (PIB, conta de todo valor gerado na economia), e o total de horas trabalhadas. O valor adicionado sobe e desce em função do ritmo da economia. As horas trabalhadas aumentam ou diminuem tanto conforme a quantidade de trabalhadores (mais gente trabalhando aumenta o total de horas) quanto em função do quanto cada pessoa trabalha (a quantidade de gente trabalhando pode ser a mesma, mas o total de horas cresce se cada pessoa trabalhar por mais tempo).

Telemarketing é o setor que mais fecha vagas, aponta o Caged

Porta de entrada de muitos brasileiros com qualificação mais baixa no mercado de trabalho, a profissão de operador de telemarketing dá sinais de esgotamento. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a atividade foi a que mais destruiu postos de trabalho em 12 meses até setembro e não parou de perder vagas nos últimos quatro anos.
Neste ano, a categoria dos atendentes tem apresentado o pior resultado no saldo de vagas (a diferença entre vagas abertas e fechadas no período), com 21.115 postos de trabalho a menos.
Segundo especialistas, com a proibição das ligações de marketing para números cadastrados, a restrição de ligações tarde da noite, o avanço do atendimento via robôs e as mudanças nos canais de propaganda - indo para redes sociais e aplicativos -, o modelo de teleatendimento ainda deve passar por mais transformações nos próximos anos.
O número de trabalhadores nessa função ajuda a contar a história recente e vertiginosa da economia brasileira. Quando o País cresceu 7,5%, em 2010, a função de auxiliar de teleatendimento teve saldo recorde. Foram quase 40 mil postos de emprego a mais em 12 meses, até setembro. Em 2016, já em plena recessão, foram cortados 31,6 mil empregos, apontam os dados compilados para o Estado pela consultoria LCA.
Do lado da economia, a piora no varejo e nos serviços nos últimos anos também ajuda a explicar a queda de oportunidades para atendentes. Somente na empresa Atento, a maior empregadora privada do País, o número de funcionários recuou 11% quando comparados os anos de 2014, antes da recessão, e 2019. Hoje, são 80 mil empregados.
"É um tipo de vaga que acaba absorvendo trabalhadores sem tanta qualificação ou que estão procurando se recolocar em momentos de crise", lembra o economista Cosmo Donato, da LCA. Ele completa que, apesar de mudanças recentes nas regras de terceirização, que poderiam fortalecer centrais já consolidadas de call center, o trabalho de atendente tornou-se mais vulnerável ao esbarrar em mudanças na legislação.
No ano passado, o Senado aprovou uma restrição nos horários e dias permitidos para o cliente receber ligações, além da possibilidade de cadastrar números de telefones de consumidores que não querem receber ligações das empresas.
O setor de teleatendimento tem sofrido com um processo massivo de automação, diz João de Moura, presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores em Serviços de Telecomunicação (Fitratelp).
"As empresas sofreram muito durante a recessão e se empenharam em cortar custos. Ficou mais barato deixar uma gravação no lugar do atendente ou criar aplicativos para que o próprio consumidor solicite um serviço ou faça reclamações."
Luana Almeida, diretora da Vikstar, empresa do setor com 8 mil empregados, reconhece as mudanças provocadas pela tecnologia. "Há um enxugamento do setor, motivado pela introdução de novas ferramentas."
Ela lembra que, há alguns anos, os erros de cobrança eram muito mais comuns do que hoje. "O consumidor tinha até como rotina ligar no fim do mês para a central de relacionamento para checar as ligações da conta telefônica ou as compras da fatura de cartão de crédito."
O setor também destaca que a migração da publicidade para as redes sociais e o WhatsApp tem provocado um novo ciclo de investimentos nas empresas, que passaram a contar com equipes crescentes de profissionais de tecnologia responsáveis pelo desenvolvimento e pela manutenção dos aplicativos e assistentes virtuais de atendimento.
"A mudança é inevitável, mas esse é um dos setores que mais empregam. Nada substitui a necessidade de o País qualificar essa mão de obra para exercer outras funções", diz Moura.

Mais de 3 milhões buscam emprego há mais de dois anos, diz IBGE

Cerca de 3,2 milhões de pessoas estão à procura de emprego há dois anos ou mais no Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), isso representa 25,2% dos 12,5 milhões de desocupados do País.
Ainda segundo o IBGE, cerca de 1,8 milhão, ou 7,1% dos desocupados, estavam há menos de um mês procurando emprego. A taxa de desemprego no País no terceiro trimestre deste ano, divulgada no fim de outubro, ficou em 11,8%, abaixo dos 12% registrados no segundo trimestre.
A Pnad Contínua divulgada hoje trouxe, ainda, dados sobre taxa de desemprego dos estados. São Paulo foi o único estado a apresentar queda na taxa de desemprego do segundo para o terceiro trimestre deste ano. A taxa recuou de 12,8% para 12% no período.
Segundo a pesquisadora da IBGE, Adriana Beringuy, a queda ocorreu devido à redução do número de desempregados, e não em função do aumento da ocupação. Já Rondônia foi o único estado com alta na taxa de desemprego, ao passar de 6,7% para 8,2%. As outras 25 unidades da Federação tiveram estabilidade na taxa, de acordo com os dados do IBGE.
As maiores taxas foram observadas nos estados da Bahia (16,8%), do Amapá (16,7%) e de Pernambuco (15,8%). Já os menores níveis foram registrados em Santa Catarina (5,8%), Mato Grosso do Sul (7,5%) e Mato Grosso (8%).
Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, houve altas em Goiás (que passou de 8,9% para 10,8%) e Mato Grosso (de 6,7% para 8%). Três estados tiveram queda nesse tipo de comparação: São Paulo (de 13,1% para 12%), Alagoas (de 17,1% para 15,4%) e Sergipe (de 17,5% para 14,7%).
A taxa composta de subutilização da força de trabalho (percentual de pessoas desocupadas ou subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas) foi de 24% no País. Maranhão (41,6%) e Piauí (41,1%) apresentam estimativas acima de 40%.
Por outro lado, as menores taxas foram observadas em Santa Catarina (10,6%), Mato Grosso (14,7%), Rio Grande do Sul (16,3%) e Mato Grosso do Sul (16,3%).
O número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego) foi de 4,7 milhões de pessoas no terceiro trimestre. Os maiores contingentes estavam na Bahia (781 mil) e no Maranhão (592 mil), e os menores, em Roraima (17 mil) e Amapá (19 mil).
O percentual de pessoas desalentadas foi de 4,2%. Os maiores percentuais estavam no Maranhão (18,3%) e em Alagoas (16,5%), e os menores, em Santa Catarina (1,1%), Rio Grande do Sul (1,3%) e Distrito Federal (1,3%).
Santa Catarina tinha o maior percentual de empregados com carteira assinada (87,7%). Já o menor percentual estava no Maranhão (49,9%).
As unidades da Federação com maior percentual de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada no setor privado foram Maranhão (50,1%), Pará (49,9%) e Piauí (49,9%). As menores taxas foram observadas no Rio Grande do Sul (18,1%) e em Santa Catarina (12,3%).