Novos químicos para lavouras pulverizam antiga polêmica

Produtos batem recorde de registros e lançamentos devem crescer neste ano

Por Thiago Copetti

Na justificativa apresentada pelo governo o argumento é que "o controle dos agrotóxicos está regrado em âmbito federal através da Lei Federal nº 7.082/89"
Os mais de 200 novos registros de produtos químicos liberados para uso em lavouras do Brasil apenas nos primeiros sete meses deste ano trouxeram novamente à tona um emaranhado de temas econômicos, ambientais e de saúde humana envolvendo uma antiga e sempre latente polêmica. A temática divide opiniões desde a própria denominação (agrotóxicos versus defensivos agrícolas) até a necessidade, os riscos e as razões de tantas liberações, que vieram se somar a outros 450 novos registros de 2018, entre produtos para uso por parte da indústria e diretamente para aplicação em lavouras. O número do ano passado é recorde e deve ser ultrapassado em 2019, chegando a 500 ou mais, segundo estimativa do próprio coordenador-geral de agrotóxicos e afins do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Carlos Venâncio.
É fato que, há muitos anos, os produtores e as entidades ligadas ao agronegócio reclamam da demora nas análises de liberação de novos produtos, especialmente genéricos e mais avançados, o que poderia reduzir os elevados custos das lavouras brasileiras, especialmente se esse custo for comparado ao dos concorrentes do Mercosul, onde os defensivos químicos para plantio de grãos são significativamente mais baratos. É fato, também, no entanto, que a acelerada liberação de agrotóxicos levanta temores e ganhou ainda mais atualidade em debates dadas as recentes mortandades de abelhas e problemas em plantações de frutas devido à má aplicação dos produtos.
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Controvérsia envolve questões comerciais e inclui cifras milionárias em investimentos

A liberação de novos genéricos de defensivos agrícolas no Brasil é especialmente comemorada pelo produtores de soja, principal cultura semeada por aqui. A redução entre 40% e 50% nos preços desses insumos é esperada para o ciclo 2020/2022, mas, de acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja-RS), Luis Fernando Fucks, os registros são comemorados desde já.

"A demora nas liberações havia criado uma reserva de mercado dominado por grandes multinacionais, alijando do mercado empresas de menor porte e encarecendo o custo para o produtor", defende Fucks. De acordo com Túlio Oliveira, diretor-executivo da Associação Brasileira de Defensivos Genéricos (Aenda), as liberações contemplaram, apenas neste ano, cerca de 20 empresas. Além de beneficiar produtores, os registros são um alívio para companhias que esperavam há anos na fila, com investimentos em torno de
R$ 100 mil, no caso de um produto genérico, e de até R$ 15 milhões para um ingrediente ativo novo.

Para a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que reúne grandes fabricantes de defensivos químicos, o fato de a grande maioria das aprovações se referir a genéricos não chega a ser uma avanço para a agricultura brasileira.
A entidade destaca que as aprovações de novas moléculas têm ficado para trás e existem 32 ingredientes ativos aguardando análise: são 15 fungicidas, nove herbicidas e oito inseticidas. Com isso, afirma a entidade, o País segue atrasado sob o ponto de vista de adoção de novas tecnologias.

Aprovações trazem novos riscos a abelhas

Há um temor de que os registros lançados agravem ainda mais um problema verificado ao menos desde 2018 no Estado e em diferentes regiões do Brasil: a mortandade de abelhas. De acordo com a presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS), Lisandra Dornelles, houve, recentemente, a diminuição maciça de colmeias em todo o País, dizimando cerca de 400 milhões de abelhas. E a estimativa de algumas entidades é que, até 2035, se nada for feito para mudar esse quadro, a espécie poderá ser extinta.
Entre os registros aprovados, diz Lisandra, estão produtos que têm como base o fipronil, que afeta o sistema nervoso das abelhas e causa danos de diferentes formas. Um deles é pelo acúmulo no corpo do inseto, quando o contato ocorre pela pulverização. O químico também é absorvido quando a abelha caminha sobre a planta pulverizada ou ingere pólen contaminado.
A médica veterinária destaca, ainda, que os componentes hormonais em uso pelos fabricantes de agrotóxicos também podem diminuir o tempo de vida das abelhas ou as deixar mais letárgicas, reduzindo a produção de alimentos na colmeia, levando os insetos à morte. "Esse produtos podem ter efeito letal ou subletal quando é acumulativo, afetando a produção de alimentos dentro das colmeias ou a fertilidade da abelha-rainha. De uma forma ou outra, o resultado é desastroso e ainda vai prejudicar a própria agricultura", alerta Lisandra.