Trânsito deve ser a primeira frente de trabalho
Outro problema enfrentado por Gramado é quanto ao acesso, por vias de pistas simples, quase sempre sem acostamento, o que gera uma dificuldade para as pessoas chegarem à cidade. "Então como vamos gerar a oferta, trazer mais pessoas para cá com essa estrutura precária? Constantemente, há engarrafamento dentro da cidade, e não só nas estradas, o que causa um desconforto e afasta justamente o turista que mais recursos está disposto a gastar", lamenta Mauro Salles, presidente do Sindicato da Hotelaria da Região das Hortênsias.
O que acontece, diz o executivo, é que esse turista que tem mais condições acabará escolhendo outro destino, pois não está disposto a ficar preso em engarrafamentos.
Para combater esse problema, a prefeitura, recentemente, começou a idealizar um novo plano urbanístico e desenvolvimento ao menos para amenizar os problemas, buscando alternativas como mudanças no trânsito, como novos acessos, criando ciclovias, interligações entre espaços e reduzindo a entrada de veículos de grande porte em algumas partes da cidade, fazendo com que as pessoas caminhem mais. Também haverá alterações de sentido em algumas vias para facilitar o trânsito de pedestres e carros, e melhoria no transporte público. O projeto ainda precisa passar pela aprovação da Câmara de Vereadores.
"No papel está muito interessante. Resta saber como o governo municipal vai fazer para colocar isso em prática e em que tempo conseguirá implementar, porque já estamos atrasados. Nas duas cidades (Gramado e Canela), em fins de semana comuns, sem ser feriado e alta temporada, já enfrentamos trânsito caótico, com algumas vias paradas e turistas reclamando", aponta Salles.
A cidade, segundo o sindicato dos trabalhadores na rede hoteleira, conta com uma média de 3,5 carros por habitante, já que há muitos veículos para locação e que se soma ao dos moradores.
Saneamento, habitação e oferta de água se tornaram problemas
O crescimento acelerado e desacompanhado de um planejamento amplo, focando também em áreas sociais, igualmente já aparecem na Região das Hortência. Hoje, ainda que a maior parte dos gestores municipais e mesmo empresários não gostem de falar no tema, há problemas relacionados em diferentes áreas que ficam longe da visão dos turistas, mas perceptíveis aos moradores.
Com muitos trabalhadores atraídos pela fama de "pleno emprego" da cidade ou porque migraria temporariamente para atuar em grandes obras e decide ficar na região, aumento populacional desordenado também deixa suas marcas. Como Gramado não tem mais para onde crescer, explica Mauro Salles, presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares e Similares da Região das Hortênsias, Canela tem absorvido a maior dessa população de fora.
Em reunião recente em que participou na cidade, diz Salles, um dos temas abordados foi a grilagem de terras. O que, para ele, é reflexo direto do crescimento desordenado da população que vem de fora, normalmente carente e sem estrutura. E que ainda traz consigo a família, o que vai gerar demandas em educação, saúde e outros serviços.
"Esse é um problema gravíssimo. Há preocupação em fazer constantemente o crescimento, mas junto vêm problemas como esses. São questões sociais e fortes demandas, que, muitas vezes, o poder público não tem como atender e podem pôr em colapsos diferentes serviços", alerta Salles.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Hoteleiro e Similares de Gramado, Marcionil Martins, diz que trânsito e moradia o estão levando a planejar ir embora da cidade: "Uma casa aqui, como eu quero, sairia R$ 2 milhões. Estou olhando em Tijucas (SC), consigo o mesmo padrão por R$ 400 mil".
Reflexo da expansão imobiliária, também vem dando sinais de esgotamento o saneamento básico, relatam os presidentes dos dois sindicatos. Ao detectar que vários cursos d'água apresentavam sinais de contaminações, conta Salles, o sindicato dos hotéis encomendou levantamento que revelou estar a maior parte deles extremamente poluído.
"Não temos tratamento de esgoto suficiente para esse crescimento. Se planejarmos melhor, vamos ter colapsos nas estruturas das duas cidades com consequente queda na qualidade do turismo da região", alerta o executivo.
O que diz a prefeitura
Procurado, o prefeito de Gramado, João Alfredo Bertolucci, o Fedoca (PDT), não se pronunciou. A secretária de Planejamento, Carmem Piazzi, respondeu questionamentos apenas por e-mail: "A sazonalidade da cidade e as demandas dos turistas trazem alguns desafios. Um deles é a mobilidade urbana. Temos estudos realizados por empresa contratada que nos mostram a real situação da cidade, permitindo que consigamos planejar soluções adequadas. O aumento significativo de pessoas de maneira diversa durante o ano é um grande desafio para o planejamento da cidade, principalmente na infraestrutura e mobilidade, que são, hoje, nossas maiores preocupações. Atualmente, quando há interesse da iniciativa privada em empreendimentos acima de 5 mil metros quadrados de área construída, solicita-se o Estudo de Impacto de Vizinhança, que deve conter uma análise detalhada de todos os impactos que o empreendimento vai causar no entorno e pesquisa de opinião pública para que a população saiba o que está sendo analisado e manifeste sua opinião. O Plano de Mobilidade Urbana e a Agenda Estratégica foram pensados exatamente para iniciar esse planejamento para melhorar a qualidade de vida do gramadense e, por consequência, dos visitantes".